Até parece dica de culinária, mas vim falar de uma aplicação nada convencional do banho-maria. Creio que os que cozinham sabem mais sobre a aplicação do método de cozimento em banho-maria, mas o termo já tem sua divulgação para as outras formas de aplicação.
Naquele esquema de não gostar do que façam comigo e evitar fazer o mesmo com os outros, procuro não cozinhar ninguém em banho-maria, independente de qual função a pessoa tenha em minha vida. Resposta, seja negativa ou positiva, é sempre muito bem-vinda. No começo pode até machucar um pouco, frustrar as expectativas, mas sempre fica um alívio depois, pois sabemos com o que estamos lidando.
Quem nunca ficou sem resposta por um currículo enviado? Quem nunca ficou sem resposta por um SMS enviado ou uma ligação não atendida? O silêncio vai aquecendo e cozinhando suavemente. Mas esse efeito só me permite ver duas funções: ou queima ou azeda de vez. Por mais que o cozimento seja mais lento, é um cozimento. Há fogo envolvido e se deixar passar do ponto pode estragar o prato.
E é o que geralmente fazemos. Nunca nos lembramos de olhar no relógio e ver que já esta no tempo de retirar do fogo, seja para consumo próprio, seja para oferecer aos outros. E algo que poderia sair bem, acaba queimando. A lei de que um lado sempre ganha e o outro sempre perde se concretiza mais uma vez.
Acredito muito na maturidade humana. Ouvir um sim ou um não, não é o fim das coisas e, muito menos, do mundo. Faz parte do aprendizado. Como já falei, pode até doer, mas, como todo machucado, ele se cura e a dor acaba. Vale ai o famoso “levanta para cair de novo”.
Conversando com um amigo sobre o banho-maria, é como se fosse uma forma de armazenamento. Guarda-se amigos, relacionamentos, amantes ... Mas tudo tem validade. E esse cozimento lento e nada gradual pode azedar mentes confusas. Ou até provoca decisões precipitadas. Porém, não menos acertadas. Erros e acertos estão no nosso dia a dia. Não há quem possa indicar que a decisão foi a mais correta. O Destino nos mostra as possibilidades e as oportunidades. A nós, basta decidir o que pegar e viver as consequências disso. Mas, por favor, sem ser em banho-maria.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Baseado em fatos reais
Incrível a identificação que você pode ter com um filme. Numa não-comédia romântica, como começa a narração, o filme 500 dias com ela [(500) days of Summer], traz a despretensão de ser mais um filme sobre o amor entre duas pessoas. Na verdade, é apresenta o amor de uma forma diferente, cheio de esperanças e complicações. Com uma edição entrecortada entre idas e vindas, ele traz a história de um escritor de cartões, Tom Hansen (Joseph Gordon-Levitt), e a assistente de seu chefe, Summer Finn (Zooey Deschanel).
Para alguns, os clichês de comédias românticas se apresentam ao longo do filme. Mas o detalhe é que não são os clichês açucarados. Até porque há inversão nos papéis. Ele é o romântico inveterado desde a infância (o que rolou uma grande identificação com este que vos escreve, que chegou a pensar que roteirizaram sua vida), que acredita em amor à primeira vista e que vê passarinhos quando se apaixona. Ela é uma menina que, desde cedo, ficou cética com o amor, tendo marco no divórcio de seus pais.
O filme, como já dito, é bem despretensioso e mostra o relacionamento como ele é na vida real, mesmo brincando com a magia do cinema. Os problemas apresentados são os possíveis, as discussões bobas, as diversas formas de se fazer as pazes, as sempre imprevisíveis brincadeiras, as inusitadas visitas às lojas. Enfim, é um filme bem real. As brincadeiras com a não-realidade seguem paralelas e são fácies de identificar na brincadeira do diretor Marc Webb.
Tive medo apenas em uma cena, quando o romântico Tom deixa-se levar pelo ceticismo e passa a desacreditar no amor. Esquecer que sua fonte inspiradora para a vida não está nos olhos azuis de Summer, mas sim na forma como ele se relaciona com o sentimento. Não tem como esquecer o passado, principalmente quando há um "I Love Us". Um coração quebrado é capaz de nos fazer ter atitudes que nunca antes acreditaríamos em ter.
Tom e Summer
Não podemos esquecer-nos da trilha sonora, bem casada para os momentos e as situações. Nem a desafinação de alguns personagens no karaokê intimida. Elas divertem. Destaco The Smiths, que provocam a união do casal. Mas a cena ao som de Quelqu’um m’a dit, na voz suave de Carla Bruni, também tem seu peso.
O final é mesmo o ponto alto do filme. Os dois diálogos finais arrebatam. E são eles que trabalham as esperanças de românticos inveterados (principalmente dos cancerianos, hehehe). Manter o sorriso e o otimismo são boas formas de dissipar energia positiva para o mundo e recebê-la de volta. Vale ficar atento para as oportunidades também, que muitas vezes cruzam nosso caminho e deixamos escapar. Voltar ao ponto inicial de algo pode surpreender. Sei que me surpreendi comigo mesmo representado no telão.
Para alguns, os clichês de comédias românticas se apresentam ao longo do filme. Mas o detalhe é que não são os clichês açucarados. Até porque há inversão nos papéis. Ele é o romântico inveterado desde a infância (o que rolou uma grande identificação com este que vos escreve, que chegou a pensar que roteirizaram sua vida), que acredita em amor à primeira vista e que vê passarinhos quando se apaixona. Ela é uma menina que, desde cedo, ficou cética com o amor, tendo marco no divórcio de seus pais.
O filme, como já dito, é bem despretensioso e mostra o relacionamento como ele é na vida real, mesmo brincando com a magia do cinema. Os problemas apresentados são os possíveis, as discussões bobas, as diversas formas de se fazer as pazes, as sempre imprevisíveis brincadeiras, as inusitadas visitas às lojas. Enfim, é um filme bem real. As brincadeiras com a não-realidade seguem paralelas e são fácies de identificar na brincadeira do diretor Marc Webb.
Tive medo apenas em uma cena, quando o romântico Tom deixa-se levar pelo ceticismo e passa a desacreditar no amor. Esquecer que sua fonte inspiradora para a vida não está nos olhos azuis de Summer, mas sim na forma como ele se relaciona com o sentimento. Não tem como esquecer o passado, principalmente quando há um "I Love Us". Um coração quebrado é capaz de nos fazer ter atitudes que nunca antes acreditaríamos em ter.
Tom e Summer
Não podemos esquecer-nos da trilha sonora, bem casada para os momentos e as situações. Nem a desafinação de alguns personagens no karaokê intimida. Elas divertem. Destaco The Smiths, que provocam a união do casal. Mas a cena ao som de Quelqu’um m’a dit, na voz suave de Carla Bruni, também tem seu peso.
Pourtant quelqu'un m'a dit
Que tu m'aimais encore,
C'est quelqu'un qui m'a dit que tu m'aimais encore.
Serais ce possible alors ?
Que tu m'aimais encore,
C'est quelqu'un qui m'a dit que tu m'aimais encore.
Serais ce possible alors ?
O final é mesmo o ponto alto do filme. Os dois diálogos finais arrebatam. E são eles que trabalham as esperanças de românticos inveterados (principalmente dos cancerianos, hehehe). Manter o sorriso e o otimismo são boas formas de dissipar energia positiva para o mundo e recebê-la de volta. Vale ficar atento para as oportunidades também, que muitas vezes cruzam nosso caminho e deixamos escapar. Voltar ao ponto inicial de algo pode surpreender. Sei que me surpreendi comigo mesmo representado no telão.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Um bichinho chamado Ansiedade
Sabe quando parece que todo o Universo conspira a seu favor: você consegue resolver questões internas, consegue exteriorizar o que sente para quem e aquilo que vinha te incomodando, a balança te mostra uma curva descendente, o sorriso (que já estava na face) continua firme e forte e ... BAAAAM ... o destino vem e te prega mais uma peça. Se bem que continua a se perguntar se é peça mesmo ou se, depois de tanta coisa que rolou, aquilo tudo é de verdade.
O ceticismo toma conta de sua cabeça. Você quer se entregar, mas já está tão escaldado de situações semelhantes, que tem medo de apostar e de arriscar. Fica em um controle total e absoluto, mesmo com a vontade de pular de cabeça. Sente que poderá se dar mal mais uma vez. A parede já está toda riscada com marcações do histórico da vida.
Mas parece que há um bichinho no ar, contaminando a todos que passam por essa situação. Ele te ferroa e tudo está perdido. Mais uma crise de ansiedade. O estômago revira, o suadouro começa, as mãos ficam frias. Quer correr, quer gritar. Isso tudo porque voltou ao ponto anterior. Quanto tudo estava aparentemente bem e controlado. Agora não mais. Pior, ou seria melhor, depois de tudo isso, várias outras coisas surgem. Um novo universo se apresenta. Mas o medo vem junto, mesmo sabendo que não deve ter medo.
Quer controlar cada passo. Está cansado de decepções, independente de que ponto elas venham. Quer olhar para frente e seguir, sem medo, com passos firmes e decididos. Mas o que adianta caminhar assim se o chão é mole. Nada de areia movediça, mas num ponto que poderá te fazer cair. A mancha da última queda ainda nem saiu. O machucado ainda dói. Mas quer fazer tudo novamente, como uma criança ao aprender a andar. Levantar na tentativa de não mais cair.
Isso tudo já virou rotina constante. Não? Então não se está vivendo intensamente. Temos que aproveitar cada momento. Mas até que ponto vale o autocontrole? Até que ponto devemos controlar a ansiedade de tal forma a nos privar de algo? Por que não arriscar tudo novamente? Cansam inúmeras questões, que só geram mais ansiedade. Fica o círculo vicioso. O ciclo do bichinho da ansiedade. Definir estratégias milimétricas de onde pisar, do que mexer, do que falar. Onde fica a naturalidade da coisa?
Há uma festa que prega a política do livre para dançar. Deveríamos expandir. Livre para falar, correr, amar, viver. Enfim, livre de tudo que essa sociedade hipócrita prega e de que nós temos medo: do que o outro vai pensar. Importa o que nós vamos pensar sobre nós mesmos ao fazer um balanço: será que busquei intensamente a minha felicidade?
O ceticismo toma conta de sua cabeça. Você quer se entregar, mas já está tão escaldado de situações semelhantes, que tem medo de apostar e de arriscar. Fica em um controle total e absoluto, mesmo com a vontade de pular de cabeça. Sente que poderá se dar mal mais uma vez. A parede já está toda riscada com marcações do histórico da vida.
Mas parece que há um bichinho no ar, contaminando a todos que passam por essa situação. Ele te ferroa e tudo está perdido. Mais uma crise de ansiedade. O estômago revira, o suadouro começa, as mãos ficam frias. Quer correr, quer gritar. Isso tudo porque voltou ao ponto anterior. Quanto tudo estava aparentemente bem e controlado. Agora não mais. Pior, ou seria melhor, depois de tudo isso, várias outras coisas surgem. Um novo universo se apresenta. Mas o medo vem junto, mesmo sabendo que não deve ter medo.
Quer controlar cada passo. Está cansado de decepções, independente de que ponto elas venham. Quer olhar para frente e seguir, sem medo, com passos firmes e decididos. Mas o que adianta caminhar assim se o chão é mole. Nada de areia movediça, mas num ponto que poderá te fazer cair. A mancha da última queda ainda nem saiu. O machucado ainda dói. Mas quer fazer tudo novamente, como uma criança ao aprender a andar. Levantar na tentativa de não mais cair.
Isso tudo já virou rotina constante. Não? Então não se está vivendo intensamente. Temos que aproveitar cada momento. Mas até que ponto vale o autocontrole? Até que ponto devemos controlar a ansiedade de tal forma a nos privar de algo? Por que não arriscar tudo novamente? Cansam inúmeras questões, que só geram mais ansiedade. Fica o círculo vicioso. O ciclo do bichinho da ansiedade. Definir estratégias milimétricas de onde pisar, do que mexer, do que falar. Onde fica a naturalidade da coisa?
Há uma festa que prega a política do livre para dançar. Deveríamos expandir. Livre para falar, correr, amar, viver. Enfim, livre de tudo que essa sociedade hipócrita prega e de que nós temos medo: do que o outro vai pensar. Importa o que nós vamos pensar sobre nós mesmos ao fazer um balanço: será que busquei intensamente a minha felicidade?
terça-feira, 3 de novembro de 2009
Somos superficiais
Se as meninas do Leblon não olham
mais para mim, eu uso óculos.
Óculos – Paralamas do Sucesso
mais para mim, eu uso óculos.
Óculos – Paralamas do Sucesso
Que a humanidade vive na Era das Aparências ninguém duvida. Mas a que ponto chegamos em uma sociedade de discrimina os diversos nichos visuais, criando e ratificando estereótipos? Essa segregação é vista em qualquer ambiente social: na praia, no shopping, na noite e, até mesmo, no trabalho. Incrível a necessidade que temos de viver de aparências e modismos.
O culto ao corpo é exacerbado e reforçado a cada dia por campanhas midiáticas fortes, onde somente o belo é glorificado. Concordo que não há nada como admirar a beleza, mas apegar-se que ela é fundamental é o prejuízo que trazemos para a marginalização do que não é tão belo, do que é real, ou mesmo, do que é diferente daquilo que estamos acostumados.
Admiro as campanhas publicitárias que valorizam o corpo natural, seja com uma barriguinha, umas celulites (até porque não se tem uma só), um cabelo cacheado. Cada vez mais o mundo estético tem acordado para a beleza natural. Cuidar do corpo é para uma vida saudável, não para se exibir frente aos outros.
A Unilever, dona dos produtos Dove, faz uma campanha pela real beleza, seja por uma papada, por um cabelo mais seco, seja por um braço rechonchudo. É esse mundo que devemos buscar: o real. O cinema começou a se render a isso. Durante a Mostra de Cinema de São Paulo, alguns filmes suecos traziam atores com outro tipo de beleza e em papeis de destaque. Não ficaram rotulados para elenco de apoio. Ganharam seu espaço pela capacidade de atuação e não por uma barriga tanquinho.
Campanha Pela Real Beleza
Outro dia, li uma matéria sobre a repercussão de uma foto da modelo Lizzie Miller, de 20 anos, em umas das mais conceituadas revistas de moda americana, a Glamour, em que ela aparecia desnuda e com uma saliente barriguinha. E as mensagens não foram condenando a foto, mas sim de mulheres parabenizando a revista e a modelo. Muitas começaram a se sentir valorizadas por se identificaram naquelas páginas, o que seria um começo de espaço nessa sociedade segregacionista. Elas se sentiram valorizadas pela primeira vez.
Mas me pergunto se isso é o começo do fim da ditadura da beleza. Ainda há massividade no reforço ao estereótipo do corpo perfeito, com incremento pela falsa idéia de que roupas de marca valorizam ainda mais o indivíduo. Isso é mais que perceptível. Sempre te olham torto por não identificarem de que grife é a roupa que você está usando ou se não está com o corte de cabelo da moda. A discriminação passa da física para a social, onde muitos criam dívidas para estar na moda.
Muitas vezes, para que nos sintamos bem com nosso estilo próprio de ser e de vestir, temos que recorrer a guetos e ficar marginalizado da sociedade preconceituosa. Hipocrisia dizer que isso não ocorre. E maior ainda que não temos as mesmas atitudes, já que esses espaços são tão fechados que quem chega sendo diferente dele também é alvo do preconceito.
Devemos buscar a melhor forma de nos sentirmos bem com nosso corpo e mente. Não discriminar quem procurar malhar o corpo em vez da mente e vice-versa. E não é papo para incrementar a briga entre os “nichos”. Não há porque rotular dessa forma também. Devemos buscar o equilíbrio entre ambos e aceitar, de uma vez por todas, que há beleza na diferença. Que não faz mal sair de óculos para uma boate, de exibir uma barriga e celulites na praia, de um corpo belo e torneado frequentar ambientes undergrounds e pseudocults.
Enfim, temos que acabar com a superficialidade ditada em nossa sociedade e com a hipocrisia que não segregamos. O Apartheid visual é grande e não está perto do fim. Ainda medimos as pessoas da cabeça aos pés e fazemos a cara de desdém, sem sequer, darmos uma chance de conhecer uma pessoa ótima para se conviver. Temos que nos sentir bem com o que somos. E a cada dia que passa, concordo menos com o verso de Vinícius de Moraes: as feias que me perdoem, mas beleza é fundamental.
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Apartheid e metamorfose
Na telona, Peter Jackson encanta com filme com cara de documentário de televisão sobre segregação de alienígenas em Johanesburgo.
Vinte anos atrás, quando a África do Sul ainda vivia o Apartheid, uma nave alienígena parou sobre a cidade. Durante meses, não houve manifestação dos extraterrestres. Após uma decisão global de identificar o grupo, uma missão consegue entrar na aeronave e fazer contato com cerca de um milhão de aliens, cuja fisionomia lembrava a de camarões. Subnutridos, eles foram removidos para um campo de concentração numa região da cidade de Johanesburgo logo abaixo da aeronave, que foi chamada de Distrito 9 e vira um grande favelão, sujeito à todas as mazelas da marginalização.
Com a difícil convivência entre humanos e camarões, eles foram proibidos de circular livremente pela cidade, sendo discriminados por todos. O governo, numa tentativa de administrar a situação, começa um programa de remoção do Distrito 9 para uma área fora da cidade. Meta: deslocar 1,5 milhões de aliens hostis. O encarregado de chefiar a tarefa é Wikus Van De Merwe (Sharlto Copley), que acaba contaminado durante o processo e começa a se transformar em um camarão. O mundo inteiro passa a acompanhar sua saga em busca da sobrevivência e da cura para voltar a ser um simples ser humano.
A construção da história pelo diretor Peter Jackson sobre a ótica de um programa de televisão ressalta ainda mais a metamorfose de Wikus. A todo o momento o filme traz referências ao livre de Franz Kafka, A Metamorfose, quando um jovem acorda um dia como um inseto de seis patas. O processo de transformação lento e acompanhado pelos detalhes da hora e local começam a angustiar o espectador. De repente, você se tem a sensação de que tudo é real. Não parece ficção, ainda mais pelo tom dado na fotografia. Tudo é televisivo.
Shalto Copley como Wikus Van De Merwe
A atuação fantástica de Sharlto Copley nos insere ainda mais na trama, levando-nos a acompanhar bem mais de perto. Não há como desgrudar os olhos da telona. Seu desejo pela cura para voltar aos braços de sua mulher e seu medo de virar um camarão são passados de uma forma tão intensa que as unhas dançam ao longo da história tamanha a ansiedade provocada.
O trabalho da edição e da montagem é incrível. O trabalho da sonorização é muito bom também, principalmente com as vozes do camarões, que mais parecem baratas d’água. O ritmo lento no começo da trama, com os depoimentos casados com imagens de arquivos de televisão sobre a chegada dos alienígenas, sendo acelerado com o registro da remoção do Distrito 9 e a contaminação de Wikus, e chegando no clímax com a fuga e a busca pela cura do nosso metamorfo, deixa-nos sufocado e com a respiração ofegante.
Não há como deixar de fora a campanha de divulgação do filme. Com diversos avisos espalhados pelas cidades onde o filme está em cartaz, a produção alerta para o contato perigoso com os camarões. Há restrições para o uso dos espaços públicos pelos alienígenas. Isso tudo já ajuda na construção da dura crítica à nossa sociedade segregacionista de hoje, onde não permitimos tão facilmente a integração de culturas distintas.
Vinte anos atrás, quando a África do Sul ainda vivia o Apartheid, uma nave alienígena parou sobre a cidade. Durante meses, não houve manifestação dos extraterrestres. Após uma decisão global de identificar o grupo, uma missão consegue entrar na aeronave e fazer contato com cerca de um milhão de aliens, cuja fisionomia lembrava a de camarões. Subnutridos, eles foram removidos para um campo de concentração numa região da cidade de Johanesburgo logo abaixo da aeronave, que foi chamada de Distrito 9 e vira um grande favelão, sujeito à todas as mazelas da marginalização.
Com a difícil convivência entre humanos e camarões, eles foram proibidos de circular livremente pela cidade, sendo discriminados por todos. O governo, numa tentativa de administrar a situação, começa um programa de remoção do Distrito 9 para uma área fora da cidade. Meta: deslocar 1,5 milhões de aliens hostis. O encarregado de chefiar a tarefa é Wikus Van De Merwe (Sharlto Copley), que acaba contaminado durante o processo e começa a se transformar em um camarão. O mundo inteiro passa a acompanhar sua saga em busca da sobrevivência e da cura para voltar a ser um simples ser humano.
A construção da história pelo diretor Peter Jackson sobre a ótica de um programa de televisão ressalta ainda mais a metamorfose de Wikus. A todo o momento o filme traz referências ao livre de Franz Kafka, A Metamorfose, quando um jovem acorda um dia como um inseto de seis patas. O processo de transformação lento e acompanhado pelos detalhes da hora e local começam a angustiar o espectador. De repente, você se tem a sensação de que tudo é real. Não parece ficção, ainda mais pelo tom dado na fotografia. Tudo é televisivo.
Shalto Copley como Wikus Van De Merwe
A atuação fantástica de Sharlto Copley nos insere ainda mais na trama, levando-nos a acompanhar bem mais de perto. Não há como desgrudar os olhos da telona. Seu desejo pela cura para voltar aos braços de sua mulher e seu medo de virar um camarão são passados de uma forma tão intensa que as unhas dançam ao longo da história tamanha a ansiedade provocada.
O trabalho da edição e da montagem é incrível. O trabalho da sonorização é muito bom também, principalmente com as vozes do camarões, que mais parecem baratas d’água. O ritmo lento no começo da trama, com os depoimentos casados com imagens de arquivos de televisão sobre a chegada dos alienígenas, sendo acelerado com o registro da remoção do Distrito 9 e a contaminação de Wikus, e chegando no clímax com a fuga e a busca pela cura do nosso metamorfo, deixa-nos sufocado e com a respiração ofegante.
Não há como deixar de fora a campanha de divulgação do filme. Com diversos avisos espalhados pelas cidades onde o filme está em cartaz, a produção alerta para o contato perigoso com os camarões. Há restrições para o uso dos espaços públicos pelos alienígenas. Isso tudo já ajuda na construção da dura crítica à nossa sociedade segregacionista de hoje, onde não permitimos tão facilmente a integração de culturas distintas.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Disco furado
Numa conversa com amigos, tanto pessoalmente, como por meio do mundo virtual, fiquei com uma questão na cabeça: por que será que sempre temos uma música de furar disco nas nossas cabeças? É sempre alguma do momento, que será substituída por outra em questão de dias. E, muitas vezes, nem são as favoritas.
Tenho me deparado muito com esta questão e visualizo que todas estão ligadas às fases que venho passando. O engraçado é que têm músicas antigas que voltam e que você não consegue parar de ouvir. No máximo, você alterna com outras, mas ainda assim poucas. Não adianta ter também uma série de setlists ou CDs novos. Você sempre vai parar naquela.
Hoje me peguei voltando várias vezes para uma única música. Colocava na ordem aleatória, pois não queria ficar ouvindo a seguinte sempre. E também não queria ficar ouvindo a música ininterruptamente. Foi a solução.
Mas o medo de enjoar dela e ficar no “hall” das que não serão mais ouvidas faz com que você escute outras músicas. Deixa-se o setlist continuar. Daí você continua a ouvir as outras músicas que tanto te agradam, pois, do contrário, não estariam ali. Sua banda favorita continua firme e forte, mesmo não tendo a música do momento oportuno.
Acredito que isso aconteça com todos. Mas, em relação à minha pessoa, sempre fica engraçado, pois começo a compor as trilhas sonoras de minha vida. Pelo que já vi, perdi o número do volume que está hoje. Melhor começar a classificar por tomos. Tudo é novo de novo, como canta o Moska. Este, com certeza, faz parte dessa trilha inacabada e que não espero finalizar tão cedo.
Associar músicas às pessoas e às situações é o mais comum, pelo menos para este que aqui escreve e que, infelizmente, não entende muito o universo dos instrumentos e das batidas. Só sabe que gosta ou não.
Tenho me deparado muito com esta questão e visualizo que todas estão ligadas às fases que venho passando. O engraçado é que têm músicas antigas que voltam e que você não consegue parar de ouvir. No máximo, você alterna com outras, mas ainda assim poucas. Não adianta ter também uma série de setlists ou CDs novos. Você sempre vai parar naquela.
Hoje me peguei voltando várias vezes para uma única música. Colocava na ordem aleatória, pois não queria ficar ouvindo a seguinte sempre. E também não queria ficar ouvindo a música ininterruptamente. Foi a solução.
Mas o medo de enjoar dela e ficar no “hall” das que não serão mais ouvidas faz com que você escute outras músicas. Deixa-se o setlist continuar. Daí você continua a ouvir as outras músicas que tanto te agradam, pois, do contrário, não estariam ali. Sua banda favorita continua firme e forte, mesmo não tendo a música do momento oportuno.
Acredito que isso aconteça com todos. Mas, em relação à minha pessoa, sempre fica engraçado, pois começo a compor as trilhas sonoras de minha vida. Pelo que já vi, perdi o número do volume que está hoje. Melhor começar a classificar por tomos. Tudo é novo de novo, como canta o Moska. Este, com certeza, faz parte dessa trilha inacabada e que não espero finalizar tão cedo.
Associar músicas às pessoas e às situações é o mais comum, pelo menos para este que aqui escreve e que, infelizmente, não entende muito o universo dos instrumentos e das batidas. Só sabe que gosta ou não.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Besouro ninja
Ginga para o louva-deus baiano
Indicado para a pré-lista brasileira dos filmes a concorrerem ao Oscar, Besouro, do diretor João Daniel Tikhomiroff, traz o mundo místico da capoeira em uma época de repressão à comunidade negra no Recôncavo Baiano, mesmo depois de anos da Abolição da Escravidão. O filme narra a história de Manuel (Aílton Carmo), batizado de Besouro nas rodas de capoeira, que tenta seguir os passos de seu mestre e livrar os negros da opressão e do coronelismo da cana de açúcar.
Com o misticismo dos orixás, Besouro tem o corpo fechado para lutar em prol da total liberdade, inclusive para a própria capoeira, que foi proibida por anos em nossa sociedade. Com a força de Exú, o personagem recebe até o dom de voar. Mas a rapidez e o gingado do herói não conseguem emplacar o filme.
Tecnicamente redondo e com uma bela produção, mas o fraco roteiro não convence. As atuações são regulares e inúmeros potenciais surgem. Destaque para o Coronel Venâncio (Flavio Rocha) e seu capanga Noca de Antônia (Irandhir Santos). Este brilhando mais uma vez, depois de seu show no filme Olhos Azuis, de José Joffily, onde vive um imigrante brasileiro tentando retornar para os Estados Unidos.
Fica difícil apontar o calcanhar de Aquiles de Besouro. Ou falta roteiro para uma boa história ou a história, apesar de interessante, não rende um bom roteiro. A fragmentação é tanta que chega a margem da chatice. Pode será até falta de costume com roteiros não lineares, mas as bruscas mudanças e os entrecortes das cenas fazem o espectador olhar para o relógio. E olhe que o filme é curto. Mas a culpa é do enredo, que tornou tudo cansativo.
Mas devemos reconhecer que a película foi muito bem produzida, dirigida e editada. Os efeitos visuais simples ajudam ainda mais. A edição rápida, mesmo quando é brusca a mudança do foco, e bem casada com a bela trilha sonora é outro ponto forte. O conjunto técnico de direção de arte com fotografia não deixa nada a desejar para muitos filmes hollywoodianos. O jogo das cores é fascinante.
Falta gingado no roteiro. Sobra presteza na técnica. E agora Besouro?
- Quero ser Besouro, porque é preto e avoa.
Indicado para a pré-lista brasileira dos filmes a concorrerem ao Oscar, Besouro, do diretor João Daniel Tikhomiroff, traz o mundo místico da capoeira em uma época de repressão à comunidade negra no Recôncavo Baiano, mesmo depois de anos da Abolição da Escravidão. O filme narra a história de Manuel (Aílton Carmo), batizado de Besouro nas rodas de capoeira, que tenta seguir os passos de seu mestre e livrar os negros da opressão e do coronelismo da cana de açúcar.
Com o misticismo dos orixás, Besouro tem o corpo fechado para lutar em prol da total liberdade, inclusive para a própria capoeira, que foi proibida por anos em nossa sociedade. Com a força de Exú, o personagem recebe até o dom de voar. Mas a rapidez e o gingado do herói não conseguem emplacar o filme.
Tecnicamente redondo e com uma bela produção, mas o fraco roteiro não convence. As atuações são regulares e inúmeros potenciais surgem. Destaque para o Coronel Venâncio (Flavio Rocha) e seu capanga Noca de Antônia (Irandhir Santos). Este brilhando mais uma vez, depois de seu show no filme Olhos Azuis, de José Joffily, onde vive um imigrante brasileiro tentando retornar para os Estados Unidos.
Fica difícil apontar o calcanhar de Aquiles de Besouro. Ou falta roteiro para uma boa história ou a história, apesar de interessante, não rende um bom roteiro. A fragmentação é tanta que chega a margem da chatice. Pode será até falta de costume com roteiros não lineares, mas as bruscas mudanças e os entrecortes das cenas fazem o espectador olhar para o relógio. E olhe que o filme é curto. Mas a culpa é do enredo, que tornou tudo cansativo.
Mas devemos reconhecer que a película foi muito bem produzida, dirigida e editada. Os efeitos visuais simples ajudam ainda mais. A edição rápida, mesmo quando é brusca a mudança do foco, e bem casada com a bela trilha sonora é outro ponto forte. O conjunto técnico de direção de arte com fotografia não deixa nada a desejar para muitos filmes hollywoodianos. O jogo das cores é fascinante.
Falta gingado no roteiro. Sobra presteza na técnica. E agora Besouro?
- Quero ser Besouro, porque é preto e avoa.
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Epifanias
Sempre fui fascinado por epifanias. O mundo se revelando a partir de algo bobo e singelo. A simplicidade das coisas ajudando a compreender a complexidade do mundo. Uma palavra, uma imagem, um toque. Tudo se mostra. Não vou mentir que me assusto com ao perceber isso. Muitas vezes, você nota que algo que parecia estar finalizado ainda persiste.
O bom é que você consegue trabalhar os sentimentos a partir da revelação. Mesmo que só sirva para pedir que você enfrente-os e não tema mais, não fuja mais. Não faz mal continuar amando, detestando. O que você deve ter na sua consciência é que é natural a continuidade das coisas. Você pode até notar que não quer mais, mesmo que ainda continue a gostar, a sentir. O importante é se perceber e parar de negar.
No final, é sempre positivo, pois se saberá como trabalhar, como se portar. O medo de reencontrar, de dizer o que ainda se sente acaba. Tudo muda e você enxerga que está disposto e disponível para caminhar. Uma nova trilha? Porque não. O mesmo caminho com outra companhia? Porque não. Afinal, não há certo ou errado. O que vale a é a tentativa de continuar vivendo.
Li outro dia que a tentativa é o primeiro passo do fracasso. Mas devemos ter em mente que é também o primeiro passo do sucesso. Não devemos ter medo de pensar que as oportunidades que nos surgem são grandes de nós para a nossa capacidade. Se ela está ao nosso alcance é porque podemos. Basta saber trabalhá-la. Existem as enganosas, mas elas têm seus pontos positivos. E nos darão o discernimento para diferenciar os spams que a vida nos reserva. Diferenciar o que é realmente válido para o nosso crescimento.
E que surjam mais epifanias, seja por uma palavra, um comportamento alheio, como o do cego mascando chiclete e que mostrou todo um novo mundo para a moça do bonde em um conto da Clarice Lispector. Mas, diferente dela, utilize a revelação para mudar de vida e de atitude. Não retorne para o ponto anterior. Utilize no seu aprendizado de vida.
O bom é que você consegue trabalhar os sentimentos a partir da revelação. Mesmo que só sirva para pedir que você enfrente-os e não tema mais, não fuja mais. Não faz mal continuar amando, detestando. O que você deve ter na sua consciência é que é natural a continuidade das coisas. Você pode até notar que não quer mais, mesmo que ainda continue a gostar, a sentir. O importante é se perceber e parar de negar.
No final, é sempre positivo, pois se saberá como trabalhar, como se portar. O medo de reencontrar, de dizer o que ainda se sente acaba. Tudo muda e você enxerga que está disposto e disponível para caminhar. Uma nova trilha? Porque não. O mesmo caminho com outra companhia? Porque não. Afinal, não há certo ou errado. O que vale a é a tentativa de continuar vivendo.
Li outro dia que a tentativa é o primeiro passo do fracasso. Mas devemos ter em mente que é também o primeiro passo do sucesso. Não devemos ter medo de pensar que as oportunidades que nos surgem são grandes de nós para a nossa capacidade. Se ela está ao nosso alcance é porque podemos. Basta saber trabalhá-la. Existem as enganosas, mas elas têm seus pontos positivos. E nos darão o discernimento para diferenciar os spams que a vida nos reserva. Diferenciar o que é realmente válido para o nosso crescimento.
E que surjam mais epifanias, seja por uma palavra, um comportamento alheio, como o do cego mascando chiclete e que mostrou todo um novo mundo para a moça do bonde em um conto da Clarice Lispector. Mas, diferente dela, utilize a revelação para mudar de vida e de atitude. Não retorne para o ponto anterior. Utilize no seu aprendizado de vida.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Falta de inspiração
Queria muito estar levando este blog mais a sério, com posts mais constantes e tal, mas tem sido difícil escrever. Vez ou outra vem a inspiração, mas estou longe do computador ou sem um pedaço de papel e uma caneta na mão. Pior que com várias coisas interessantes e legais para falar. Acho que por estar tão cheio de coisas por fazer que me falta o “tempo” para escrever. Teatro, cinema, chopp, amigos, jantares ... Enfim, ocupações.
Acho que a falta de outras coisas acabam por minguar a presença das musas inspiradoras que nos sopram poemas, músicas, prosas ou até mesmo um ato solitário de gritar. Ou mesmo uma fase, onde não conseguimos alinhar as ideias para um bom texto. De qualquer forma, temos que ter criatividade de produzir no trabalho, de fazer coisas legais. Daí vai diminuindo uma parcela para o livre escrever.
Cogitei fazer resenhas dos filmes que vi recentemente, até por estar rolando um dos maiores festivais de cinema no Brasil. Já vi muita coisa boa, como o brasileiro Olhos Azuis (apesar de ser quase todo em inglês) e com o argentino O segredo dos teus olhos (do Campanella, mesmo diretor de O filho da noiva, com a atuação do formidável Ricardo Darín). Vi outros ruins também, apesar do nome superinteressante. Nesse meio tempo, também rolaram peças de teatro, como Vestido de noiva, do texto do Nelson Rodrigues, e Nervo Craniano Zero, de um grupo de Curitiba (peça boa com pouco público).
Não falta o que fazer nesta cidade. Tanto que cheguei ao ponto de me incomodar por um dia estar indo para casa, sem nada para fazer após um dia de trabalho. E não era por estar só, até porque sai sozinho para alguns desses programas. Mas o incomodo de não ter mesmo o que fazer. Acho que me viciei em ter sempre atividades e já realizei que vai ser difícil largar esse osso. Pior que posso cair no: todo dia ele faz tudo sempre igual ....
Mas, com ou sem inspiração, fico feliz em ver as palavras fluindo e a mente me levando para outro universo. Bem, vento ventania me leve para as portas do céu ...
Engraçado é começar a escrever uma coisa e a palavra me remeter a outra que não tem nada a ver com o que estou escrevendo aqui. Exemplo, pensei na música do Biquíni Cavadão e já me veio o show da Céu que vai rolar aqui na próxima semana. Isso acontece muito na minha aula de inglês, onde escuto uma palavra que me remete a uma música. Por ai vai, tanto que me lembrei que o Mc Donald’s lançou uma época o jogo americano dele com algo de se falar uma palavra e sair fazendo associações. No final, melancia combinava com porta-retrato. Joguinho sem-noção.
Acho que a falta de outras coisas acabam por minguar a presença das musas inspiradoras que nos sopram poemas, músicas, prosas ou até mesmo um ato solitário de gritar. Ou mesmo uma fase, onde não conseguimos alinhar as ideias para um bom texto. De qualquer forma, temos que ter criatividade de produzir no trabalho, de fazer coisas legais. Daí vai diminuindo uma parcela para o livre escrever.
Cogitei fazer resenhas dos filmes que vi recentemente, até por estar rolando um dos maiores festivais de cinema no Brasil. Já vi muita coisa boa, como o brasileiro Olhos Azuis (apesar de ser quase todo em inglês) e com o argentino O segredo dos teus olhos (do Campanella, mesmo diretor de O filho da noiva, com a atuação do formidável Ricardo Darín). Vi outros ruins também, apesar do nome superinteressante. Nesse meio tempo, também rolaram peças de teatro, como Vestido de noiva, do texto do Nelson Rodrigues, e Nervo Craniano Zero, de um grupo de Curitiba (peça boa com pouco público).
Não falta o que fazer nesta cidade. Tanto que cheguei ao ponto de me incomodar por um dia estar indo para casa, sem nada para fazer após um dia de trabalho. E não era por estar só, até porque sai sozinho para alguns desses programas. Mas o incomodo de não ter mesmo o que fazer. Acho que me viciei em ter sempre atividades e já realizei que vai ser difícil largar esse osso. Pior que posso cair no: todo dia ele faz tudo sempre igual ....
Mas, com ou sem inspiração, fico feliz em ver as palavras fluindo e a mente me levando para outro universo. Bem, vento ventania me leve para as portas do céu ...
Engraçado é começar a escrever uma coisa e a palavra me remeter a outra que não tem nada a ver com o que estou escrevendo aqui. Exemplo, pensei na música do Biquíni Cavadão e já me veio o show da Céu que vai rolar aqui na próxima semana. Isso acontece muito na minha aula de inglês, onde escuto uma palavra que me remete a uma música. Por ai vai, tanto que me lembrei que o Mc Donald’s lançou uma época o jogo americano dele com algo de se falar uma palavra e sair fazendo associações. No final, melancia combinava com porta-retrato. Joguinho sem-noção.
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Sarau
“Saber que o amor só é amor quando é troca
E a troca só tem graça quando é de graça”
Elisa Lucinda
E a troca só tem graça quando é de graça”
Elisa Lucinda
Acredito que, no imaginário popular, a palavra sarau remete logo a poetas malandros que, regados a absinto ou a outro tipo de álcool, entoam suas poesias de memória, como os trovadores e menestréis da Idade Média faziam. Ou mesmo surge a ideia de um grupo de universitários que resolvem promovem um encontro com poemas, prosas e performances. O Aurélio traz três definições: 1- Festa noturna, em casa particular, clube ou teatro; 2- Concerto musical noturno; e 3- Festa literária noturna, especialmente em casas particulares.
Uma coisa é fato, poesia em prosa e prosa poética fazem parte do conjunto. Ver um grupo de pessoas, advindas de várias partes do país, idades diferentes, culturas diferentes, experiências mais que diferentes, reunido em uma sala que remetia a mais bela literatura, cujas anfitriãs proporcionaram momentos de êxtase para aqueles sedentos por cultura. Música, prosa, poema, poesia, trocadilhos, comidinhas, bebidinhas. Tudo na métrica perfeita dos poemas parnasianos.
A luz das velas e a iluminação indireta davam o clima perfeito, a atmosfera tranquila para quem quisesse se aventurar em ler, em declamar, em declarar seu amor e sua paixão aos grandes poetas. Não importasse fossem os mais conhecidos ou mesmo aqueles tímidos, que mostram suas linhas a poucos, que acham que não possuem o dom de versar.
Levantei com uma sensação incrível por ter compartilhado e vivenciado tal experiência única. Não que esta seja a última ao qual me aventurarei, mas foi ímpar. No próximo, que espero ansioso por sua brevidade, já não seremos os mesmos. Poderemos repetir as mesmas pessoas, o mesmo ambiente, a mesma tortinha que tanto fez sucesso, mas não poderemos mais repetir quem realmente somos. No aprendizado da vida, o ser humano transmuta continuamente. Aprende, absorve, questiona, realiza.
Inúmeras ideias vieram à mente enquanto a água morna banhava o corpo. Parecia que estava envolto pelas musas, que inspiravam. Vontade de sair dali e pegar o papel para escrever o que vinha à mente. Deixar para depois nunca é bom. A inspiração é como a oportunidade: passageira. Na próxima: anotar no que estiver ao alcance das mãos, mesmo que tremulas ou úmidas.
Com todos os Carlos, Elisas, Fernandos, Clarices, Sergivais, Lauros, Marcos, Joãos, Pedros, Luis, Mários, Marisas, poetas concretos e aventureiros, uma bagunça no quarto, um coração a rifar, o medo, as músicas, as emboladas, o sorriso de se estar em algo mágico. Este sim foi o grande convidado na noite, por mais que os versos e linhas nos levassem a momentos tristes, logo ele estava de volta, firme e forte. Era visível até no olhar, que iluminado pela luz das velas, refestelava-se na poesia que tomou conta do ambiente e da alma de todos.
domingo, 13 de setembro de 2009
Síndrome dominical
Outro dia, conversa com um amigo que várias de nossas questões pessoais ressurgiam sempre no início da noite dos domingos. Coincidência? Acreditamos que não. Na verdade é uma síndrome. Síndrome do Domingo a Noite. Todas as carências, mazelas e afins se manifestam ao escurecer do dia do descanso. É saber que o final de semana nem foi tão produtivo assim e que a semana já vai começar sem grandes resultados. Não importa se vai ter uma super-hiper-mega-master-ultra semana. A questão é no caráter pessoal. Na intimidade do ser.
Saber que não há um ombro para enconstar no sofá e ver TV ou um filme em DVD. É ir ao cinema sozinho e ver a fila de casais comprando o ingresso para a mesma sessão que você. É ver amigos planejando passar na casa dos pais do(a) namorado(a). É sentir inveja (branca) de estar sozinho. Quando isso acontece, nada te interessa: livro, filme, TV, nada. A paciência para certas coisas se esgota. Você simplesmente não sabe o que fazer.
Uma coisa é certo: nem todos os domingos são assim. Mas, quando aquele incômodo de não sei o que é começar no domingo a tarde, prepare-se. Mas uma crise chegando. E não desconte em comida. Resista à tentação das guloseimas. O melhor é tentar encontrar algum amigo, isso se estiver a fim de ver alguém, porque até nisso a síndrome ataca.
Mas não se preocupem, na segunda-feira, tudo já passou. E mais uma semana começará. E com mais um domingo no porvir.
Saber que não há um ombro para enconstar no sofá e ver TV ou um filme em DVD. É ir ao cinema sozinho e ver a fila de casais comprando o ingresso para a mesma sessão que você. É ver amigos planejando passar na casa dos pais do(a) namorado(a). É sentir inveja (branca) de estar sozinho. Quando isso acontece, nada te interessa: livro, filme, TV, nada. A paciência para certas coisas se esgota. Você simplesmente não sabe o que fazer.
Uma coisa é certo: nem todos os domingos são assim. Mas, quando aquele incômodo de não sei o que é começar no domingo a tarde, prepare-se. Mas uma crise chegando. E não desconte em comida. Resista à tentação das guloseimas. O melhor é tentar encontrar algum amigo, isso se estiver a fim de ver alguém, porque até nisso a síndrome ataca.
Mas não se preocupem, na segunda-feira, tudo já passou. E mais uma semana começará. E com mais um domingo no porvir.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Terra: um organismo vivo?
Faz algum tempo que venho pensando na pergunta acima. Não sei se alguém já escreveu algo sobre e não pesquisei no Google. Mas sempre me indaguei se a Terra poderia ser considerada um organismo vivo e nós, os seres humanos, seríamos algum tipo de bactéria ou vírus. Quem sabe até mesmo uma célula cancerígena. Nunca perdi meu sono com relação a isso, mas resolvi escrever e ver se esta teoria tem certo fundamento. Lembrem-se que aqui é um leigo (e maluco?) quem está escrevendo.
Nem sei ao certo por onde começá-la, mas creio que o melhor seria comparar mesmo a um organismo vivo, com seus órgãos e reações frente às intempéries da vida. Não teria uma cabeça, cérebro ou algo do gênero mais definido, até por estarmos sujeitos à influências externas, como o sol e sua radiação térmico-luminosa, a lua e sua gravidade (que também recebemos de outros astros) e as outras energias e eventos cósmicos.
Na verdade, o que me levou mais a escrever este texto foi ver o mal que estamos fazendo à Terra e se as catástrofes naturais não seriam uma resposta do “organismo” contra às “bactérias”. Elas seriam como os anticorpos tentando evitar um mal maior. E devido à nossa poluição, ela estaria com febre (o efeito estuda), demonstrando estar infectada. Não sei para vocês, mas esta maluca teoria faz um sentido na minha cabeça.
Temos diferentes reações a infecções, sejam virais ou bacterianas. A Terra também teria. Seria uma tentativa de eliminar o que vem crescendo e incomodando ao longo dos anos. Assim como precisamos de certas bactérias em nosso organismo, o planeta também precisa. Porém, quando alguma começa a tomar grandes proporções, elas causam problemas e seguimos para o autocontrole da “praga”.
É meio difícil construir essa teoria apenas baseado em certas observações e sem conhecimento técnico de áreas biológicas. Também sem muita leitura. Mas a mensagem mesmo deste texto é atentarmos para os problemas que estamos causando ao planeta e as consequências que trazemos inclusive para a nossa própria sobrevivência. Coisas básicas e simples para ajudarmos o ambiente já valem e vão se refletir mais à frente. Que vivamos bem o presente, mas sabendo que ele é intangível e que precisamos mesmo garantir o futuro, para que ele venha e viva-se um bom presente.
Nem sei ao certo por onde começá-la, mas creio que o melhor seria comparar mesmo a um organismo vivo, com seus órgãos e reações frente às intempéries da vida. Não teria uma cabeça, cérebro ou algo do gênero mais definido, até por estarmos sujeitos à influências externas, como o sol e sua radiação térmico-luminosa, a lua e sua gravidade (que também recebemos de outros astros) e as outras energias e eventos cósmicos.
Na verdade, o que me levou mais a escrever este texto foi ver o mal que estamos fazendo à Terra e se as catástrofes naturais não seriam uma resposta do “organismo” contra às “bactérias”. Elas seriam como os anticorpos tentando evitar um mal maior. E devido à nossa poluição, ela estaria com febre (o efeito estuda), demonstrando estar infectada. Não sei para vocês, mas esta maluca teoria faz um sentido na minha cabeça.
Temos diferentes reações a infecções, sejam virais ou bacterianas. A Terra também teria. Seria uma tentativa de eliminar o que vem crescendo e incomodando ao longo dos anos. Assim como precisamos de certas bactérias em nosso organismo, o planeta também precisa. Porém, quando alguma começa a tomar grandes proporções, elas causam problemas e seguimos para o autocontrole da “praga”.
É meio difícil construir essa teoria apenas baseado em certas observações e sem conhecimento técnico de áreas biológicas. Também sem muita leitura. Mas a mensagem mesmo deste texto é atentarmos para os problemas que estamos causando ao planeta e as consequências que trazemos inclusive para a nossa própria sobrevivência. Coisas básicas e simples para ajudarmos o ambiente já valem e vão se refletir mais à frente. Que vivamos bem o presente, mas sabendo que ele é intangível e que precisamos mesmo garantir o futuro, para que ele venha e viva-se um bom presente.
terça-feira, 14 de julho de 2009
Diploma: você não vale nada ... mas eu gosto de você
Injustiça da Justiça. É assim que vejo a forma como o Supremo Tribunal de Justiça, órgão máximo da jurisprudência no Brasil, determinou o fim da exigência de diploma para jornalistas no país. Sei que não é o fim do curso, mas é o começo de uma série de problemas que a categoria começará a enfrentar. Afinal, é como se rasgassem o nosso diploma.
Já passávamos por questões delicadas, com os baixos salários e as incompreensíveis cargas-horárias (acho que não caiu o hífen), a que éramos submetidos. Tenho medo de que comece a Era do Vai Cobrar Quanto. Pretensão salarial e luta de categoria já não existe mais, pois qualquer um que saiba ler e escrever poderá ser um jornalista em potencial. Com blog e twitter então, nem se fala. Vamos ser submetidos ao ou recebe pouco ou fica sem emprego (ou seria subemprego?). Pior que já começou a pilhagem em concursos públicos.
Peço desculpas aos que sabem ler e escrever e que são jornalistas em potencial, mas meu desabafo não vai contra vocês. Viva a liberdade de expressão. O lance de ser jornalista é uma profissão como outra qualquer, com suas regulamentações e etc. Nunca faltou espaço para que qualquer pessoa pudesse se manifestar: cartas, artigos, colunas ... e por ai vai. Com o avanço tecnológico, tudo isso foi multiplicado por N. A cada dia que passa, novas possibilidades e plataformas surgem.
O senhor ministro e relator do processo foi infeliz em comparar profissões que não possuem uma relação sequer. Sei que para alguns profissionais não há exigência de diploma. Mas há cursos e especificações que eles devem fazer e seguir. Gostaria sim que houvesse regulamentação para as profissões que o ministro julga que não precisem de diploma (falaram em mais de 100).
Mas, caso os nossos (in)justos homens de poder julguem desnecessários o diploma, gostaria de ver uma profissão no meio dessa lista, pois para mim basta saber ler e interpretar texto. Afinal, o bacharel em Direito passa cinco anos na faculdade estudando as leis e os códigos. Qualquer um que se dedique a isso de forma autodidata poderia ser um advogado. Bastaria ter o direito a fazer a prova da Ordem dos Advogados do Brasil.
Será que veremos isso? Ainda mais num universo do corporativismo de classe que mantém a mesma estrutura para a formação em Direito e cujos formados reprovam a prova da OAB em taxas alarmantes de 80% (ou até mais). Fico decepcionado com os rumos que nossos gestores conduzem este país. E o mais engraçado é que eles falam de ética do jornalista, mas esquecem que ética mesmo ninguém aprende na faculdade. Já vem de berço. Afinal, podemos achar picaretas em qualquer profissão.
Já passávamos por questões delicadas, com os baixos salários e as incompreensíveis cargas-horárias (acho que não caiu o hífen), a que éramos submetidos. Tenho medo de que comece a Era do Vai Cobrar Quanto. Pretensão salarial e luta de categoria já não existe mais, pois qualquer um que saiba ler e escrever poderá ser um jornalista em potencial. Com blog e twitter então, nem se fala. Vamos ser submetidos ao ou recebe pouco ou fica sem emprego (ou seria subemprego?). Pior que já começou a pilhagem em concursos públicos.
Peço desculpas aos que sabem ler e escrever e que são jornalistas em potencial, mas meu desabafo não vai contra vocês. Viva a liberdade de expressão. O lance de ser jornalista é uma profissão como outra qualquer, com suas regulamentações e etc. Nunca faltou espaço para que qualquer pessoa pudesse se manifestar: cartas, artigos, colunas ... e por ai vai. Com o avanço tecnológico, tudo isso foi multiplicado por N. A cada dia que passa, novas possibilidades e plataformas surgem.
O senhor ministro e relator do processo foi infeliz em comparar profissões que não possuem uma relação sequer. Sei que para alguns profissionais não há exigência de diploma. Mas há cursos e especificações que eles devem fazer e seguir. Gostaria sim que houvesse regulamentação para as profissões que o ministro julga que não precisem de diploma (falaram em mais de 100).
Mas, caso os nossos (in)justos homens de poder julguem desnecessários o diploma, gostaria de ver uma profissão no meio dessa lista, pois para mim basta saber ler e interpretar texto. Afinal, o bacharel em Direito passa cinco anos na faculdade estudando as leis e os códigos. Qualquer um que se dedique a isso de forma autodidata poderia ser um advogado. Bastaria ter o direito a fazer a prova da Ordem dos Advogados do Brasil.
Será que veremos isso? Ainda mais num universo do corporativismo de classe que mantém a mesma estrutura para a formação em Direito e cujos formados reprovam a prova da OAB em taxas alarmantes de 80% (ou até mais). Fico decepcionado com os rumos que nossos gestores conduzem este país. E o mais engraçado é que eles falam de ética do jornalista, mas esquecem que ética mesmo ninguém aprende na faculdade. Já vem de berço. Afinal, podemos achar picaretas em qualquer profissão.
quinta-feira, 9 de julho de 2009
Tentativas de entender a alma humana
A cada de dia que passa, deparo-me com situações que colocam em prova a alma humana, seja para o bem, seja para o mal. Não são somente em notícias sobre feitos realizados pelo homem, mas são as situações circunvizinhas de minha própria pessoa, inclusive as minhas. Qualidades, defeitos, virtudes, desvios... devaneios.
Como pode o homem ser tão volúvel, a ponto de nunca saber o que realmente se quer para os tracejados de sua própria vida. Às vezes, queremos tudo ao mesmo tempo agora. Ou não queremos nada, nadica de nada. Ou simplesmente não sabemos o que queremos, que é o mais comum de nossa “bendita” psiquê.
E o pior é saber que determinadas atitudes acabam atingindo o outro, o famoso próximo, mesmo que não tenhamos a intenção.
Acredito que isso é mais comum do que pensamos por um único motivo: não somos sinceros com nós mesmos desde o início. Não o nosso início de vida, mas do comecinho da coisa. Na primeira conversa, no primeiro beijo, no primeiro toque. E o pior é que mesmo sabendo que estamos mentindo para nós mesmos, criamos um personagem que comete as “nossas” atitudes. Pois só estando fora de si para tal coisa, pensamos nós.
O que custa levantar, mirar o espelho e ser sincero com seus próprios sentimentos? Por que o medo de dizer para si mesmo o que sente, o que quer? Não sei se sou exceção ou se estou na tentativa de ser, mas tenho procurado me empenhar ao máximo em saber o que quero. E não tenho tido muitas dúvidas. Quando as tenho, é por medo da reação alheia, pois tenho me conhecido tão bem que já consigo visualizar o porvir de minhas reações (Será que sou o escolhido?).
O processo de autoconhecimento é a melhor forma para conhecer o outro, mesmo sabendo que este é cada vez mais surpreendente e imprevisível. O que deixa sempre uma pontinha de medo sobre o que dizer, o que fazer, como se comportar, como amar. E que, por mais experiências que se tenha, por mais conhecimento que se adquira, sempre vamos nos deparar com as situações mais inusitadas e inesperadas, que nos pegam de calças na mão e nos deixam sem chão.
Fazemos o que então? Continuemos a viver, pois não a nada que o tempo não cure, que não saibamos conviver e aprender, que não possamos suportar, já que, no geral, nós não sabemos mesmo o que ser.
Como pode o homem ser tão volúvel, a ponto de nunca saber o que realmente se quer para os tracejados de sua própria vida. Às vezes, queremos tudo ao mesmo tempo agora. Ou não queremos nada, nadica de nada. Ou simplesmente não sabemos o que queremos, que é o mais comum de nossa “bendita” psiquê.
E o pior é saber que determinadas atitudes acabam atingindo o outro, o famoso próximo, mesmo que não tenhamos a intenção.
Acredito que isso é mais comum do que pensamos por um único motivo: não somos sinceros com nós mesmos desde o início. Não o nosso início de vida, mas do comecinho da coisa. Na primeira conversa, no primeiro beijo, no primeiro toque. E o pior é que mesmo sabendo que estamos mentindo para nós mesmos, criamos um personagem que comete as “nossas” atitudes. Pois só estando fora de si para tal coisa, pensamos nós.
O que custa levantar, mirar o espelho e ser sincero com seus próprios sentimentos? Por que o medo de dizer para si mesmo o que sente, o que quer? Não sei se sou exceção ou se estou na tentativa de ser, mas tenho procurado me empenhar ao máximo em saber o que quero. E não tenho tido muitas dúvidas. Quando as tenho, é por medo da reação alheia, pois tenho me conhecido tão bem que já consigo visualizar o porvir de minhas reações (Será que sou o escolhido?).
O processo de autoconhecimento é a melhor forma para conhecer o outro, mesmo sabendo que este é cada vez mais surpreendente e imprevisível. O que deixa sempre uma pontinha de medo sobre o que dizer, o que fazer, como se comportar, como amar. E que, por mais experiências que se tenha, por mais conhecimento que se adquira, sempre vamos nos deparar com as situações mais inusitadas e inesperadas, que nos pegam de calças na mão e nos deixam sem chão.
Fazemos o que então? Continuemos a viver, pois não a nada que o tempo não cure, que não saibamos conviver e aprender, que não possamos suportar, já que, no geral, nós não sabemos mesmo o que ser.
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Desculpas
Gostaria de pedir desculpas por ter abandonado o blog, mas nos últimos meses foram tantas coisas que acabei não tendo tempo de escrever, apesar de inúmeras inspirações. Mas pretendo voltar com a carga toda.
Vamos que vamos!!!!
Vamos que vamos!!!!
Homenagem a uma grande amiga
Ilógico
Por Luis Augusto Nobre, 01.junho.2009
Não imaginava que um dia fosse escrever algo sobre uma pessoa que estava em minha vida e, de repente, já não pertence mais a este mundo. O duro foi aguentar tudo isso longe de casa e dos amigos que a amavam tanto quanto eu.
Bem, o que dizer da Adriana? Primeiro, que vou sentir falta dos seus jargões: Ilógico, Caraças, Gente, Hilário. Até porque tudo o que você poderia imaginar de estranho ou inusitado, acontecia com a Dri. E o melhor era ver o sorriso, ouvir o riso e o som saindo e construindo a palavra: HI – LÁ – RI – O. Quando coisas esdrúxulas aconteciam comigo, logo vinha a voz, ou melhor, vem a voz dela na cabeça. Uma que veio de cara foi quando tive que fazer uma conexão em Nova York e esqueci de tirar os líquidos da bagagem de mão. O cara da revista deu um tapa na minha mão porque eu quis mexer na mochila antes dele, até para ajudar.
O buraco no peito está grande. O vazio é frio e não tem chão. Como vai ser o dia a dia sem a Adriana para conversar. Os almoços estranhos nas Americanas, a correria para pegar uma sessão de cinema depois do trabalho, a busca por ingressos. Como vamos viver sem o nosso contrabando de boa qualidade (mais uma história hilária dela).
Eu sempre memorizo a primeira vez que falo com uma pessoa. Lembro com riquezas de detalhes que chegam a assustar. Mas não consigo me lembrar de quando conheci a nossa Dri. Acho que é porque toda vez que saíamos, eu a estava conhecendo pela primeira vez. Sempre tinha algo novo na holandesa que chegou ao Brasil nos seus primeiros anos de vida; que morou no Rio de Janeiro sua vida inteira e que amava esta cidade; que passou uma temporada em Belo Horizonte; que sempre soube aproveitar a vida, com ou sem planejamento.
Jornalista como eu, Adriana não exercia a função. Mas fazia uma coisa muito bem: relacionar-se. Nunca vi ninguém com uma network e com uma “netfriends” tão grande. Conhecia todo mundo, fosse conduzindo comitivas, fosse numa pizzaria. Não havia ninguém que não se apaixonasse por ela. Aprendi muitas coisas com a moça de cabelos negros e olhar profundo.
Adriana também era moça de muitos segredos. O maior dele era a idade, que infelizmente descobrimos da pior forma possível. Recatada, ela não curtia dividir sua vida pessoal com qualquer um. Nunca demonstrava o que estava sentindo, por maior medo que tivesse. Não queria “intrusos”, mesmo que estes fossem grandes amigos e companheiros. Mas quem a conhecia um pouco mais, conseguia “ler” seus pensamentos e aflições.
Escrever estas palavras em um saguão de aeroporto, longe de casa, da família, e dos amigos, não é nada fácil. A vergonha de chorar em público. O medo de demonstrar sentimentos. País estranho. Pessoas estranhas. Lembro das várias vezes que falávamos sobre minha viagem. Melhor, sobre viagens.
Fiquei surpreso ontem, domingo, 31 de maio, quando li seu e-mail dizendo que ia para a Coréia do Sul. Fiquei chocado quando vi na TV, hoje pela manhã, a notícia sobre o desaparecimento do voo da Air France que saiu do Rio de Janeiro com destino a Paris e conexões. Logo tudo se conectou em minha cabeça. Estava para mandar uma mensagem perguntando sobre o voo da Adriana quando recebi outra dizendo que ela estava na aeronave. Na hora me veio uma das histórias dela, quando estava na Esso, na época do acidente com o Fokker 100 da TAM. Rezei para ela ter perdido o voo. Rezei para ser um engano. Rezei para que fosse falha mecânica e viesse a confirmação de que a aeronave posou em Paris no horário previsto. Rezei para que ela estivesse bem e em paz, onde quer que fosse.
Adriana tinha medo de voar, mas amava viajar. Ainda mais de surpresa. Decidia na quinta que viajaria para o Leste Europeu no domingo. Decidia dois dias antes que entraria de férias e iria passar o Natal com as irmãs na Holanda. Mas o medo era tão grande que chegava a segurar a mão do chefe durante uma turbulência (mais uma história).
A animação dela contagiava. A inocência também. Mas burra ela não era. Tinha inteligência acadêmica e da vida. Apesar dos tamancos holandeses e do sangue mineiro, sabia muito bem rodar a baiana. Não descia do salto, até porque não gostava. Mas sabia muito bem se impor. Voz firme e muita atitude.
Não sei se me perdi nas palavras, mas queria compartilhar com todos o que a mágica da Adriana fazia e ainda faz. Não sei se a expus, coisa que não gostava, mas quero que entendam este relato-desabafo como uma demonstração de carinho por uma mulher que me apaixonei (como amigo) desde o primeiro contato.
Adriana, onde quer que você esteja, saiba que vamos continuar a te amar (pelo menos, eu vou sempre amá-la).
Por Luis Augusto Nobre, 01.junho.2009
Não imaginava que um dia fosse escrever algo sobre uma pessoa que estava em minha vida e, de repente, já não pertence mais a este mundo. O duro foi aguentar tudo isso longe de casa e dos amigos que a amavam tanto quanto eu.
Bem, o que dizer da Adriana? Primeiro, que vou sentir falta dos seus jargões: Ilógico, Caraças, Gente, Hilário. Até porque tudo o que você poderia imaginar de estranho ou inusitado, acontecia com a Dri. E o melhor era ver o sorriso, ouvir o riso e o som saindo e construindo a palavra: HI – LÁ – RI – O. Quando coisas esdrúxulas aconteciam comigo, logo vinha a voz, ou melhor, vem a voz dela na cabeça. Uma que veio de cara foi quando tive que fazer uma conexão em Nova York e esqueci de tirar os líquidos da bagagem de mão. O cara da revista deu um tapa na minha mão porque eu quis mexer na mochila antes dele, até para ajudar.
O buraco no peito está grande. O vazio é frio e não tem chão. Como vai ser o dia a dia sem a Adriana para conversar. Os almoços estranhos nas Americanas, a correria para pegar uma sessão de cinema depois do trabalho, a busca por ingressos. Como vamos viver sem o nosso contrabando de boa qualidade (mais uma história hilária dela).
Eu sempre memorizo a primeira vez que falo com uma pessoa. Lembro com riquezas de detalhes que chegam a assustar. Mas não consigo me lembrar de quando conheci a nossa Dri. Acho que é porque toda vez que saíamos, eu a estava conhecendo pela primeira vez. Sempre tinha algo novo na holandesa que chegou ao Brasil nos seus primeiros anos de vida; que morou no Rio de Janeiro sua vida inteira e que amava esta cidade; que passou uma temporada em Belo Horizonte; que sempre soube aproveitar a vida, com ou sem planejamento.
Jornalista como eu, Adriana não exercia a função. Mas fazia uma coisa muito bem: relacionar-se. Nunca vi ninguém com uma network e com uma “netfriends” tão grande. Conhecia todo mundo, fosse conduzindo comitivas, fosse numa pizzaria. Não havia ninguém que não se apaixonasse por ela. Aprendi muitas coisas com a moça de cabelos negros e olhar profundo.
Adriana também era moça de muitos segredos. O maior dele era a idade, que infelizmente descobrimos da pior forma possível. Recatada, ela não curtia dividir sua vida pessoal com qualquer um. Nunca demonstrava o que estava sentindo, por maior medo que tivesse. Não queria “intrusos”, mesmo que estes fossem grandes amigos e companheiros. Mas quem a conhecia um pouco mais, conseguia “ler” seus pensamentos e aflições.
Escrever estas palavras em um saguão de aeroporto, longe de casa, da família, e dos amigos, não é nada fácil. A vergonha de chorar em público. O medo de demonstrar sentimentos. País estranho. Pessoas estranhas. Lembro das várias vezes que falávamos sobre minha viagem. Melhor, sobre viagens.
Fiquei surpreso ontem, domingo, 31 de maio, quando li seu e-mail dizendo que ia para a Coréia do Sul. Fiquei chocado quando vi na TV, hoje pela manhã, a notícia sobre o desaparecimento do voo da Air France que saiu do Rio de Janeiro com destino a Paris e conexões. Logo tudo se conectou em minha cabeça. Estava para mandar uma mensagem perguntando sobre o voo da Adriana quando recebi outra dizendo que ela estava na aeronave. Na hora me veio uma das histórias dela, quando estava na Esso, na época do acidente com o Fokker 100 da TAM. Rezei para ela ter perdido o voo. Rezei para ser um engano. Rezei para que fosse falha mecânica e viesse a confirmação de que a aeronave posou em Paris no horário previsto. Rezei para que ela estivesse bem e em paz, onde quer que fosse.
Adriana tinha medo de voar, mas amava viajar. Ainda mais de surpresa. Decidia na quinta que viajaria para o Leste Europeu no domingo. Decidia dois dias antes que entraria de férias e iria passar o Natal com as irmãs na Holanda. Mas o medo era tão grande que chegava a segurar a mão do chefe durante uma turbulência (mais uma história).
A animação dela contagiava. A inocência também. Mas burra ela não era. Tinha inteligência acadêmica e da vida. Apesar dos tamancos holandeses e do sangue mineiro, sabia muito bem rodar a baiana. Não descia do salto, até porque não gostava. Mas sabia muito bem se impor. Voz firme e muita atitude.
Não sei se me perdi nas palavras, mas queria compartilhar com todos o que a mágica da Adriana fazia e ainda faz. Não sei se a expus, coisa que não gostava, mas quero que entendam este relato-desabafo como uma demonstração de carinho por uma mulher que me apaixonei (como amigo) desde o primeiro contato.
Adriana, onde quer que você esteja, saiba que vamos continuar a te amar (pelo menos, eu vou sempre amá-la).
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Inquietude
Há tempos que algo me deixa inquieto. Tento encontrar o que me perturbar em meio ao caos das experiências que só se aglomeram. Às vezes, penso estar a um passo de ver, mas um barulho muda meu olhar de direção e me deparo com o nada. Vasculho de forma incansável minha mente, em busca da resposta.
Não creio que seja algo banal, mas também não deve ser o enigma de minha vida. Acho, simplesmente, que é mais um agente modificador de um processo que está só no começo. Tanta coisa aconteceu nos últimos 12 meses. Elas foram fontes de inquietude, ansiosidade, medo, aflição, felicidade, tristeza ... Infinitas reações em um corpo e mente em constantes modificações. Ainda bem.
Acredito que esta mais recente tem relação com um novo mundo que me esperar. A ampliação concreta de meus horizontes. Novas culturas, novos costumes, novos ares. Um novo mundo que me lanço ao mar para descobrir. Quem sabe chegarei às Índias, numa terra já conhecida por alguns, ou desbravarei novas terras, na busca de um novo eu.
Eu este que já desaponta no horizonte. Que me surpreende a cada dia. Um eu por quem me apaixonei (relato mais abaixo – post antigo) e que qualquer um poderá se deixar levar.
Só sei que hoje olho por minha janela na busca desse novo universo ao qual estou inserido, mas que ainda não descobri de fato.
Não creio que seja algo banal, mas também não deve ser o enigma de minha vida. Acho, simplesmente, que é mais um agente modificador de um processo que está só no começo. Tanta coisa aconteceu nos últimos 12 meses. Elas foram fontes de inquietude, ansiosidade, medo, aflição, felicidade, tristeza ... Infinitas reações em um corpo e mente em constantes modificações. Ainda bem.
Acredito que esta mais recente tem relação com um novo mundo que me esperar. A ampliação concreta de meus horizontes. Novas culturas, novos costumes, novos ares. Um novo mundo que me lanço ao mar para descobrir. Quem sabe chegarei às Índias, numa terra já conhecida por alguns, ou desbravarei novas terras, na busca de um novo eu.
Eu este que já desaponta no horizonte. Que me surpreende a cada dia. Um eu por quem me apaixonei (relato mais abaixo – post antigo) e que qualquer um poderá se deixar levar.
Só sei que hoje olho por minha janela na busca desse novo universo ao qual estou inserido, mas que ainda não descobri de fato.
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Entre safra
Vinha me perguntando por onde anda minha inspiração. Do nada, simplesmente parei de escrever neste blog. Os fluidos textos foram minando, sumindo. Houve semana que escrevi textos a rodo, esperando um novo dia para ser publicado. Havia uma ordem.
Hoje, está sendo difícil tirar palavras de minha mente, de meus dedos. Pior que não consigo visualizar a fonte de tal bloqueio. Será que a musa inspiradora se afastou de tal forma que não sei mais o que expressar?
Devo estar com o foco em outras coisas: trabalho, pós, férias, vida. Mas isso tudo poderia ser fonte para palavras tortas. Romantismo até tive estes dias, em bobos versos de uma tentativa frustrada. Vai ver que o silêncio foi quem me calou. Não saber o que me espera do outro lado. Gostou? Riu-se? Achou bobo demais?
Enfim, sei que faz parte. Por isso que vou continuar. Aqui, ali e acolá. O que importa é tentar, seja em escrever versos quase infantis, seja na mais sincera vontade de amar.
Hoje, está sendo difícil tirar palavras de minha mente, de meus dedos. Pior que não consigo visualizar a fonte de tal bloqueio. Será que a musa inspiradora se afastou de tal forma que não sei mais o que expressar?
Devo estar com o foco em outras coisas: trabalho, pós, férias, vida. Mas isso tudo poderia ser fonte para palavras tortas. Romantismo até tive estes dias, em bobos versos de uma tentativa frustrada. Vai ver que o silêncio foi quem me calou. Não saber o que me espera do outro lado. Gostou? Riu-se? Achou bobo demais?
Enfim, sei que faz parte. Por isso que vou continuar. Aqui, ali e acolá. O que importa é tentar, seja em escrever versos quase infantis, seja na mais sincera vontade de amar.
terça-feira, 7 de abril de 2009
Apaixonado
Deitei-me com uma sensação estranha. Não sabia ao certo o que passava por minha cabeça. Um turbilhão de pensamentos me roubava o sono. Olhava a noite avançar pela janela. O luar já havia corrido quase toda a penumbra do quarto. Pude ver claramente o caminho feito pelas estrelas. De tão longo o pensar, adormeci. Os primeiros raios de sol que invadiram o quarto me fizeram despertar.
Ainda cheio de sono, com a luz dourada que batia na parede e caia macia sobre a cama, senti algo percorrer meu corpo. Nada externo. Apesar do frio da manhã, que teimava em levantar, estava com aquele friozinho no estômago, que muitos comparam a borboletas. Tudo estava confuso como na véspera. Cambaleando de sono, levantei e fui beber uma água. Na volta, parada estratégica no banheiro, pois ainda poderia dormir mais, afinal era sábado e não tinha motivos para levantar cedo.
Foi ai que tudo se revelou. Olhei-me no espelho. Profundamente. E ali, na minha frente, estava o motivo da sensação estranha. Forcei um pouco a vista e vi o porquê de sentir frio na barriga já ao amanhecer. Tinha me apaixonado por mim mesmo. Não uma coisa narcisística, de do querer a mim, de me achar o mais belo de todos. Tudo naquela imagem me atraía, me despertava carinho. Queria tocar, pegar, apertar, sentir.
Voltei para a cama e comecei a visualizar cada parte de meu corpo. Não acreditava que estava apaixonado por mim mesmo. Ainda mais sabendo de minhas qualidades e meus defeitos. Mãos, pés, barriga, braços. A frustração era depender de um objeto frio para por me olhar no olho. Interagir com minha alma.
A medida que me estudava, começava a ver defeitos. Mas nada que me desagradasse. A natureza imperfeita é que cria o charme. A imperfeição dos acidentes naturais é que traz a beleza das paisagens mundo a fora. Sei que nada do que enxergava me causava ojeriza. Estava encantado com as formas. Vi tudo minuciosamente. Queria me conhecer, me reconhecer.
Enquanto os aspectos físicos tomavam conta de meus impacientes olhos, meu cérebro ardia na avaliação de minhas virtudes e de meus defeitos. Passei, a partir daquele momento, a me conhecer melhor. Conseguia ver até onde iria minha limitação. Metas, planos, vontades. Tudo isso foi estudado de perto. Eu e eu, numa discussão arrebatadora, questionávamos a mim tudo o que eu sentia, o que queria, o que desejava.
Abracei-me e voltei a dormir em minha companhia. Não queria mais nada além de mim, naquele momento. Vi o quanto eu valia a pena e o quando eu deveria lutar por mim mesmo. E aquele tanto de eu e de mim não me passava a ideia de egoísmo. Sabia que era necessário aquele encontro para poder oferecer aos outros o melhor de mim: um eu apaixonado por mim mesmo.
Ainda cheio de sono, com a luz dourada que batia na parede e caia macia sobre a cama, senti algo percorrer meu corpo. Nada externo. Apesar do frio da manhã, que teimava em levantar, estava com aquele friozinho no estômago, que muitos comparam a borboletas. Tudo estava confuso como na véspera. Cambaleando de sono, levantei e fui beber uma água. Na volta, parada estratégica no banheiro, pois ainda poderia dormir mais, afinal era sábado e não tinha motivos para levantar cedo.
Foi ai que tudo se revelou. Olhei-me no espelho. Profundamente. E ali, na minha frente, estava o motivo da sensação estranha. Forcei um pouco a vista e vi o porquê de sentir frio na barriga já ao amanhecer. Tinha me apaixonado por mim mesmo. Não uma coisa narcisística, de do querer a mim, de me achar o mais belo de todos. Tudo naquela imagem me atraía, me despertava carinho. Queria tocar, pegar, apertar, sentir.
Voltei para a cama e comecei a visualizar cada parte de meu corpo. Não acreditava que estava apaixonado por mim mesmo. Ainda mais sabendo de minhas qualidades e meus defeitos. Mãos, pés, barriga, braços. A frustração era depender de um objeto frio para por me olhar no olho. Interagir com minha alma.
A medida que me estudava, começava a ver defeitos. Mas nada que me desagradasse. A natureza imperfeita é que cria o charme. A imperfeição dos acidentes naturais é que traz a beleza das paisagens mundo a fora. Sei que nada do que enxergava me causava ojeriza. Estava encantado com as formas. Vi tudo minuciosamente. Queria me conhecer, me reconhecer.
Enquanto os aspectos físicos tomavam conta de meus impacientes olhos, meu cérebro ardia na avaliação de minhas virtudes e de meus defeitos. Passei, a partir daquele momento, a me conhecer melhor. Conseguia ver até onde iria minha limitação. Metas, planos, vontades. Tudo isso foi estudado de perto. Eu e eu, numa discussão arrebatadora, questionávamos a mim tudo o que eu sentia, o que queria, o que desejava.
Abracei-me e voltei a dormir em minha companhia. Não queria mais nada além de mim, naquele momento. Vi o quanto eu valia a pena e o quando eu deveria lutar por mim mesmo. E aquele tanto de eu e de mim não me passava a ideia de egoísmo. Sabia que era necessário aquele encontro para poder oferecer aos outros o melhor de mim: um eu apaixonado por mim mesmo.
terça-feira, 31 de março de 2009
Moska com dois Xs
É, sei que o título saiu estranho, mas há uma boa explicação. Fui num show, na última sexta, de uma promessa da música brasileira. No alto de seu banquinho e com 22 anos, a franzina paulistana Maria Gadú está encantando a todos que a ouvem. Ainda meio sem jeito frente ao público, ela mostra toda a sua magia ao pegar o microfone e fazer o que sabe bem: cantar, encantar.
A timidez ou a falta de jeito não diminuem em nada sua qualidade vocal. Creio que faz parte de sua composição de artista. O jeitinho de menina, as pernas dobradas sobre o banco, a forma como toca o violão. O show intimista, no qual houve apenas o acompanhamento de seu percursionista e a participação de um amigo cantor, o Leandro Leo.
Lembro bem de ter ido esperando uma coisa. Mas me enganaram. Haviam me dito ela era estilo Ana Carolina, quando a pessoa estava bem equivocada. Maria Gadú está em outro estilo, mais para um Paulinho Moska de saias. A cantora me remeteu aos shows do Moska que acompanhei. Foi o primeiro nome que me veio a cabeça com os primeiros acordes e versos. Depois, com o decorrer de sua apresentação, passaram outros nomes pela cabeça, como Lenine e Céu. Tanto que fiquei surpreso ao ouvir Gadú cantar uma música de Céu, Rainha.
Ah, quase ia esquecendo de dizer que a moça é a compositora da maior parte de seu repertório, que inclui versões um tanto curiosas, como o Baba Baby, da Kelly Key. Gadú canta também composições de amigos. As letras falam do cotidiano da vida, principalmente, dos relacionamentos. Linda Rosa, uma das que mais gostei, fala exatamente disso, dos “pobres desses rapazes, que tentam lhe fazer feliz”. Há músicas de batidas mais rápidas também, passando por um samba, por um soul. Mas uma versão que achei bem interessante foi de Ne me quitte pas, quando Gadú pediu desculpas antes de começar a cantar os primeiros versos. Motivo: o show foi no auditório da Aliança Francesa.
Ela ainda está para lançar seu primeiro CD. Fiquem atentos a esse nome. Principalmente aqueles que puderem ir conferir as próximas apresentações de que tenho conhecimento: dias 12, 19 e 26 de abril, na Cinemateque, em Botafogo.
A timidez ou a falta de jeito não diminuem em nada sua qualidade vocal. Creio que faz parte de sua composição de artista. O jeitinho de menina, as pernas dobradas sobre o banco, a forma como toca o violão. O show intimista, no qual houve apenas o acompanhamento de seu percursionista e a participação de um amigo cantor, o Leandro Leo.
Lembro bem de ter ido esperando uma coisa. Mas me enganaram. Haviam me dito ela era estilo Ana Carolina, quando a pessoa estava bem equivocada. Maria Gadú está em outro estilo, mais para um Paulinho Moska de saias. A cantora me remeteu aos shows do Moska que acompanhei. Foi o primeiro nome que me veio a cabeça com os primeiros acordes e versos. Depois, com o decorrer de sua apresentação, passaram outros nomes pela cabeça, como Lenine e Céu. Tanto que fiquei surpreso ao ouvir Gadú cantar uma música de Céu, Rainha.
Ah, quase ia esquecendo de dizer que a moça é a compositora da maior parte de seu repertório, que inclui versões um tanto curiosas, como o Baba Baby, da Kelly Key. Gadú canta também composições de amigos. As letras falam do cotidiano da vida, principalmente, dos relacionamentos. Linda Rosa, uma das que mais gostei, fala exatamente disso, dos “pobres desses rapazes, que tentam lhe fazer feliz”. Há músicas de batidas mais rápidas também, passando por um samba, por um soul. Mas uma versão que achei bem interessante foi de Ne me quitte pas, quando Gadú pediu desculpas antes de começar a cantar os primeiros versos. Motivo: o show foi no auditório da Aliança Francesa.
Ela ainda está para lançar seu primeiro CD. Fiquem atentos a esse nome. Principalmente aqueles que puderem ir conferir as próximas apresentações de que tenho conhecimento: dias 12, 19 e 26 de abril, na Cinemateque, em Botafogo.
quarta-feira, 25 de março de 2009
Ausência
Fiquei tão ausente de mim mesmo estes dias que não me permiti escrever tortas linhas. Sentia faltar de escrever, de pôr no “papel” as minhas questões e impressões da vida, do mundo ao meu redor. Mas essa ausência não foi provocada por nada em especial. Foi apenas um tempo necessário para que eu pudesse me afastar de mim mesmo e enxergar certas coisas que estavam influenciando diretamente as minhas atitudes.
O tempo é o melhor remédio para muitas coisas e foi esse tempo que eu precisava tomar para ter contato comigo mesmo. Poder ver meu interior e tentar solucionar aquilo que me afligia. Não sei se conseguir atingir o cerne da questão, mas consegui vislumbrar saídas e entradas de coisas ruins e boas. Da construção de um novo eu: fortalecido, decidido, corajoso.
-------------
Nesse meio tempo, minha visão passou por tanto lugares. Locais novos e inexplorados da cidade. Filmes que encantaram os olhos e apaziguaram o coração. Alguns deles até relevadores dessa personalidade conhecida em minha ausência. No resumo da ópera, foram tantas coisas que não sei nem por onde começar.
-------------
Falemos então de filmes, resumidamente, óbvio. Nesse meio tempo, vi quatro filmes muito bons, sendo dois no cinema e dois na TV.
1- Milk – A voz da igualdade, de Gus Van Sant, pelo qual o Sean Penn ganhou o Oscar de melhor ator. O filme não trata apenas dos direitos dos homossexuais numa São Francisco da década de 70. Ele trabalha com direitos humanos de uma forma geral. O filme narra a história de Milk, um gay nova-iorquino que se muda para São Francisco e acaba entrando na política para ajudar os moradores de seu novo bairro. Tudo lá foi fato real, inclusive o assassinato do prefeito e do próprio Milk, que acabou por mudar a rotina de toda uma cidade em pelo crescimento.
2- Quem quer ser um milionário?, de Danny Boyle, é o grande merecedor do Oscar desse ano. Roteiro simples e direto sobre um amor infantil que dura anos. De origem pobre, como muitos garotos na Índia, Jamal é mais um tentando ganhar dinheiro honestamente. Selecionado para participar de um programa de perguntas que distribui até 20 milhões de rúpias, Jamal responde as perguntas sempre relacionando a fatos de seu passado, da infância à véspera do programa. Com uma estética que se assemelha ao Cidade de Deus, o filme é mais leve e descontraído. Mereceu todas as estatuetas, exceto a de fotografia, que merecia ter ido para o Benjamin Button.
3- O amor não tira férias, de Nancy Meyers, narra a história de duas mulheres que sofrem de amor. Uma está inscrita num site sobre troca de casas para período de férias. A outra passa por uma decepção e procura uma fuga para seus problemas. Mas, como o próprio nome da comédia romântica diz, não há férias. Uma sai da fria Londres, em pelo inverno, para passar duas semanas na casa da ensolarada Los Angeles. Nesse período, tudo na vida delas muda. Até porque podemos considerar mais um milagre de Natal, período do ano em que se passa a história. A americana, vivida por Cameron Dias, acaba conhecendo o irmão, Jude Law, da britânica, interpretada por Kate Winsley. Esta, por sua vez, conhece o melhor amigo do ex da americana, Jack Black (ou seria Blergh). Sei que me identifiquei com traços dos quatro personagens.
4- P.S.: Eu Te Amo, de Richard LaGravenese, traz a história de Holly, uma mulher apaixonada pelo marido que morre de forma inesperada, mas que deixa várias cartas para ela, mostrando que ela deve seguir a sua vida e finalizando com o que dá o nome ao filme. Com uma trilha sonora impecável, você acompanha os passos de uma mulher que não consegue superar a dor da perda, mas que busca forças para seguir um novo caminho. Para quem não está no espírito da coisa, melhor não ver, pois lágrimas certamente irão rolar. As músicas as conduzem. O drama todo, mesmo em sua leveza e sutileza, conduz para tal. Holly recebe apoio da mãe, uma mulher mais fria pelo sofrimento de ter sido abandonada pelo marido, a irmã louca, de uma amiga tarada e de uma outra, mais centrada. Os sorriso acompanham os sorrisos da personagem, assim como as lágrimas. Mas é inegável que o filme, apesar de simples, é perfeito em sua proposta de sensibilizar.
O tempo é o melhor remédio para muitas coisas e foi esse tempo que eu precisava tomar para ter contato comigo mesmo. Poder ver meu interior e tentar solucionar aquilo que me afligia. Não sei se conseguir atingir o cerne da questão, mas consegui vislumbrar saídas e entradas de coisas ruins e boas. Da construção de um novo eu: fortalecido, decidido, corajoso.
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Nesse meio tempo, minha visão passou por tanto lugares. Locais novos e inexplorados da cidade. Filmes que encantaram os olhos e apaziguaram o coração. Alguns deles até relevadores dessa personalidade conhecida em minha ausência. No resumo da ópera, foram tantas coisas que não sei nem por onde começar.
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Falemos então de filmes, resumidamente, óbvio. Nesse meio tempo, vi quatro filmes muito bons, sendo dois no cinema e dois na TV.
1- Milk – A voz da igualdade, de Gus Van Sant, pelo qual o Sean Penn ganhou o Oscar de melhor ator. O filme não trata apenas dos direitos dos homossexuais numa São Francisco da década de 70. Ele trabalha com direitos humanos de uma forma geral. O filme narra a história de Milk, um gay nova-iorquino que se muda para São Francisco e acaba entrando na política para ajudar os moradores de seu novo bairro. Tudo lá foi fato real, inclusive o assassinato do prefeito e do próprio Milk, que acabou por mudar a rotina de toda uma cidade em pelo crescimento.
2- Quem quer ser um milionário?, de Danny Boyle, é o grande merecedor do Oscar desse ano. Roteiro simples e direto sobre um amor infantil que dura anos. De origem pobre, como muitos garotos na Índia, Jamal é mais um tentando ganhar dinheiro honestamente. Selecionado para participar de um programa de perguntas que distribui até 20 milhões de rúpias, Jamal responde as perguntas sempre relacionando a fatos de seu passado, da infância à véspera do programa. Com uma estética que se assemelha ao Cidade de Deus, o filme é mais leve e descontraído. Mereceu todas as estatuetas, exceto a de fotografia, que merecia ter ido para o Benjamin Button.
3- O amor não tira férias, de Nancy Meyers, narra a história de duas mulheres que sofrem de amor. Uma está inscrita num site sobre troca de casas para período de férias. A outra passa por uma decepção e procura uma fuga para seus problemas. Mas, como o próprio nome da comédia romântica diz, não há férias. Uma sai da fria Londres, em pelo inverno, para passar duas semanas na casa da ensolarada Los Angeles. Nesse período, tudo na vida delas muda. Até porque podemos considerar mais um milagre de Natal, período do ano em que se passa a história. A americana, vivida por Cameron Dias, acaba conhecendo o irmão, Jude Law, da britânica, interpretada por Kate Winsley. Esta, por sua vez, conhece o melhor amigo do ex da americana, Jack Black (ou seria Blergh). Sei que me identifiquei com traços dos quatro personagens.
4- P.S.: Eu Te Amo, de Richard LaGravenese, traz a história de Holly, uma mulher apaixonada pelo marido que morre de forma inesperada, mas que deixa várias cartas para ela, mostrando que ela deve seguir a sua vida e finalizando com o que dá o nome ao filme. Com uma trilha sonora impecável, você acompanha os passos de uma mulher que não consegue superar a dor da perda, mas que busca forças para seguir um novo caminho. Para quem não está no espírito da coisa, melhor não ver, pois lágrimas certamente irão rolar. As músicas as conduzem. O drama todo, mesmo em sua leveza e sutileza, conduz para tal. Holly recebe apoio da mãe, uma mulher mais fria pelo sofrimento de ter sido abandonada pelo marido, a irmã louca, de uma amiga tarada e de uma outra, mais centrada. Os sorriso acompanham os sorrisos da personagem, assim como as lágrimas. Mas é inegável que o filme, apesar de simples, é perfeito em sua proposta de sensibilizar.
quinta-feira, 5 de março de 2009
Direitos & Deveres
Varias coisas, lidas e vistas, me fizeram querer escrever sobre este tema. Não sei se já o abordei de alguma forma aqui, mas não há como escapar dele. Até porque tudo em nossa vida passa pelos nossos direitos e, principalmente, sobre os nossos deveres.
Admiro os que levantam a bandeira dos nossos direitos, dos que falam dos deveres dos outros. Mas, e dos nossos deveres? Isso é quase nunca. Raramente, vejo alguém com essa bandeira em punho, flamulando sobre as nossas cabeças. No máximo, vejo alguém dizer que é dever do Estado, do governo etc. Mas, quero ver alguém levantar e peitar a luta pelos nossos deveres.
Um bom exemplo disso é o direito que temos de ter a cidade limpa e o dever que a prefeitura tem de manter o lixo no lixo. Afinal, pagamos nossos impostos. Mas, onde fica nosso dever de cidadão de zelar pelo espaço público? Teríamos nós o direito de jogar papel no chão ou de deixar os “restos” de nossos cachorrinhos pelas calçadas da cidade? Creio que não. Ou melhor, sei que não.
Mas vou tentar entrar em outra seara mais delicada. Porém, seguindo para o lado dos direitos. Como o direito que temos de ficar vivos. Espantou-me a Igreja Católica (Hipócrita) Romana excomungar a mãe e os médicos envolvidos em um aborto feito numa criança de nove anos que estava grávida de gêmeos. O ocorrido foi em Recife, PE. A menina engravidou após ser violentada pelo padrasto.
O ápice do caso com a excomunhão é uma mostra de como a Igreja é conservadora para umas coisas e conivente com outras. A garotinha (que repito: foi violentada) corria risco de morte. Seu corpo, ainda em formação, não teria como abrigar uma gravidez de risco, por sua idade e por serem dois bebês. Mas a Igreja preferiu fechar os olhos para a violência que assola nosso país, principalmente a velada e que se dá dentro de casa, e castigar o direito à vida que a menina possui.
Queria saber o posicionamento do tal arcebispo de Recife se fosse o caso de umas das crianças de Catanduva, no interior de São Paulo. Além da violência físico-psicológica que elas sofreram, ainda foram exploradas sexualmente. Será que ele manteria o mesmo posicionamento? O que me deixa mais estarrecido é o fato da Igreja ignorar todo o problema e se focar em uma coisa tão efêmera, frente à problemática geral da violência contra crianças e adolescentes.
Gostaria de esclarecer que o que me motivou a escrever este pequeno ato de protesto contra a hipocrisia de nossa sociedade foi o fato de estar cansado de ver Direitos Humanos sendo violados enquanto nós, me incluo nessa, ficamos de braços cruzados. Todos nos revoltamos quando lemos que bandidos jogaram um casal de um paredão a beira-mar no Rio de Janeiro, mas consentimos que outros atos violentos (alguns já relatados aqui) sigam em frente sem a menor consequencia (olha a reforma ortográfica) para os seus causadores.
Admiro os que levantam a bandeira dos nossos direitos, dos que falam dos deveres dos outros. Mas, e dos nossos deveres? Isso é quase nunca. Raramente, vejo alguém com essa bandeira em punho, flamulando sobre as nossas cabeças. No máximo, vejo alguém dizer que é dever do Estado, do governo etc. Mas, quero ver alguém levantar e peitar a luta pelos nossos deveres.
Um bom exemplo disso é o direito que temos de ter a cidade limpa e o dever que a prefeitura tem de manter o lixo no lixo. Afinal, pagamos nossos impostos. Mas, onde fica nosso dever de cidadão de zelar pelo espaço público? Teríamos nós o direito de jogar papel no chão ou de deixar os “restos” de nossos cachorrinhos pelas calçadas da cidade? Creio que não. Ou melhor, sei que não.
Mas vou tentar entrar em outra seara mais delicada. Porém, seguindo para o lado dos direitos. Como o direito que temos de ficar vivos. Espantou-me a Igreja Católica (Hipócrita) Romana excomungar a mãe e os médicos envolvidos em um aborto feito numa criança de nove anos que estava grávida de gêmeos. O ocorrido foi em Recife, PE. A menina engravidou após ser violentada pelo padrasto.
O ápice do caso com a excomunhão é uma mostra de como a Igreja é conservadora para umas coisas e conivente com outras. A garotinha (que repito: foi violentada) corria risco de morte. Seu corpo, ainda em formação, não teria como abrigar uma gravidez de risco, por sua idade e por serem dois bebês. Mas a Igreja preferiu fechar os olhos para a violência que assola nosso país, principalmente a velada e que se dá dentro de casa, e castigar o direito à vida que a menina possui.
Queria saber o posicionamento do tal arcebispo de Recife se fosse o caso de umas das crianças de Catanduva, no interior de São Paulo. Além da violência físico-psicológica que elas sofreram, ainda foram exploradas sexualmente. Será que ele manteria o mesmo posicionamento? O que me deixa mais estarrecido é o fato da Igreja ignorar todo o problema e se focar em uma coisa tão efêmera, frente à problemática geral da violência contra crianças e adolescentes.
Gostaria de esclarecer que o que me motivou a escrever este pequeno ato de protesto contra a hipocrisia de nossa sociedade foi o fato de estar cansado de ver Direitos Humanos sendo violados enquanto nós, me incluo nessa, ficamos de braços cruzados. Todos nos revoltamos quando lemos que bandidos jogaram um casal de um paredão a beira-mar no Rio de Janeiro, mas consentimos que outros atos violentos (alguns já relatados aqui) sigam em frente sem a menor consequencia (olha a reforma ortográfica) para os seus causadores.
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
Entre confetes e serpentinas
Passado o carnaval, todos falamos do Oscar. Mentira. Não se ouviu um comentário nesta cidade sobre as estatuetas. O único que vi foi um cara travestido de Kate Winslet. Nada mais. Nem fantasia dourada foi usada nas ruas de uma cidade que passou a reinventar o carnaval de rua.
Sim. Milhares de pessoas tomando conta do asfalto e do concreto da Cidade Maravilhosa. Todos se renderam. Ou melhor, quase todos. Há quem não goste de folia. Sorte dos que gostam, pois são maioria. Maioria esta que pulava animadamente atrás de qualquer batuque. Valia até o teto do metrô.
Não dá para dizer qual o melhor bloco, o melhor momento. Afinal, foram 10 blocos em uma “pequena” área da cidade. Consegui me concentrar em apenas uma banda da Zona Sul, e foi aquela que se estendia para o Centro. Grandes blocos. Grande folia. Não tenho idéia de como estava o outro lado do morro. Passei longe. Fui longe.
Minha surpresa foi encontrar rostos inesperados em diversos momentos. Hiláááááário. As fantasias então. Alguns estavam irreconhecíveis. Mas a diversão foi garantida. Ainda mais com uma loira gelaaaaada. No calor que fez, foi a única coisa capaz de esfriar um corpo, além do afanar das pedras de gelos dos ambulantes que teimavam em se infiltrar e atrapalhar os blocos.
Mas queria terminar este post com um pequeno protesto. A alegria estava espalhada, mas muita gente não sabe ainda que tem que saber brincar para descer para o play. Não é porque colocou uma fantasia que já pode chegar bem. Tem que entrar no espírito, ainda mais se for querer seguir bloco com empurra-empurra. Não rola reclamar de pisão no pé, de empurrão. Se for fazer isso, pode colocar o rabinho entre as pernas e tomar o rumo de casa. Aluga um DVD.
Quantas confusões bobas eu vi e senti por causa de uma casualidade e fatalidade de bloco. Multidão dá nisso. Quase apanhei em um bloco. Vi uma amiga ser empurrada injustamente em outro. Fora um troglodita que tentou começar uma briga num lugar de festa e levou uma bela direita no nariz e uma cervejada no quengo. Doeu até em mim.
Então, sigam o conselho para o ano que vem e esqueçam os sentimentos de confusão em casa. Carnaval é para festejar. Pular, cantar, dançar. Se for sentir dor, que seja pelo cansaço das pernas ou por um escorregão no chão molhado. Vale até pisão no pé. O negócio é relevar.
domingo, 22 de fevereiro de 2009
Esperança materna
Semana cheia de filmes dá nisso, três resenhas seguidas. Na verdade, foram quatro, se contarmos que há uma sobre um documentário e show, todos os dois no mesmo dia. Creio que me empolguei, pois fazia um tempo que não curtia um momento tão bom: idas ao cinema várias vezes. O melhor de tudo numa companhia que adoro: a minha. Por incrível que pareça, minhas últimas idas ao cinema tem sido assim, mas não me sinto solitário. Sei que tenho amigos cinéfilos que sempre aceitam um convite, caso não tenham ainda visto o filme selecionado.
Mas estive mais que determinado a ver A troca, de Clint Eastwood. Baseado em uma história real, o filme narra o desaparecimento de Walter Collins, um garoto de oito anos que sumiu em 1928. Abandonado por seu pai às vésperas do nascimento, o garoto morava com a mãe, Christine, uma supervisora do serviço de telefonia de Los Angeles. Um dia, ela chega do trabalho e seu filho não está mais em casa. No desespero de qualquer mãe, ela liga para a polícia e começa o desenrolar da trama.
Cinco meses se passam e a corrupta polícia de LA apresenta outra criança como sendo Walter. Christine inicia, nesse ponto, sua batalha contra um sistema que se utiliza de violencia e artificios para ficar “bem” com a imprensa. Ainda mais com as denuncias do pastor presbiteriano Gustav Briegleb, em seu programa de radio, sobre como agem os policiais do LAPD (Los Angeles Police Departament). Tudo tem um peso político.
O enfrentamento ao sistema leva Christine à internação forçada, para que ela não enfrente à policia, principalmente o Capitão J.J. Jones. No sanatório, ela conhece uma prostituta que explica como funciona todo o esquema de quem tenta enfrentá-los. O código 12 é sinônimo de injustiça. Sua nova amiga dá as dicas de como ela deve se comportar para não enlouquecer de vez.
A reviravolta ocorre com a deportação de um garoto de 12 anos para o Canadá, que muda todo o rumo das investigações. Isso tudo leva à libertação de Christine e ao clímax do filme.
Uma coisa que me encantou na história é que ela não é nada piegas, como muito podem pensar: mais um filme sobre uma mãe procurando um filho desaparecido. Não sei se o charmoso período dos anos 20/30 contribui para essa visão, mas a história é cheia de esperança. A atuação de Angelina Jolie como a sofrida Christine é estonteante. Seus olhos e seu olhar são fundamentais para a caracterização da personagem. Não é à toa que a moça foi merecidamente indicada ao Oscar de Melhor Atriz (não vi os outros filmes para comparar).
Os aspectos técnicos não me chamaram tanto a atenção. Creio que todo filme de época possui destaque para a direção de arte, tanto que há uma indicação, mas esse não me empolgou como em O curioso caso de Benjamin Button, de David Fincher. A fotografia e a direção de arte são ótimas, mas não acho que sejam páreas para o filme com Brad Pitt.
Creio que o filme foi muito bem construído. Você não sente o tempo passar. Não é cansativo. Ele prende sua atenção. Chama para a história. Até quando ela mostra o seu lado mais brutal e macabro. O enojar é natural. A revolta faz parte do ser humano. Dera que o ato de revoltar não causasse mais mazelas, principalmente aumentando a negligência ou o senso de justiça com as próprias mãos.
Olhos da esperança
Mas estive mais que determinado a ver A troca, de Clint Eastwood. Baseado em uma história real, o filme narra o desaparecimento de Walter Collins, um garoto de oito anos que sumiu em 1928. Abandonado por seu pai às vésperas do nascimento, o garoto morava com a mãe, Christine, uma supervisora do serviço de telefonia de Los Angeles. Um dia, ela chega do trabalho e seu filho não está mais em casa. No desespero de qualquer mãe, ela liga para a polícia e começa o desenrolar da trama.
Cinco meses se passam e a corrupta polícia de LA apresenta outra criança como sendo Walter. Christine inicia, nesse ponto, sua batalha contra um sistema que se utiliza de violencia e artificios para ficar “bem” com a imprensa. Ainda mais com as denuncias do pastor presbiteriano Gustav Briegleb, em seu programa de radio, sobre como agem os policiais do LAPD (Los Angeles Police Departament). Tudo tem um peso político.
O enfrentamento ao sistema leva Christine à internação forçada, para que ela não enfrente à policia, principalmente o Capitão J.J. Jones. No sanatório, ela conhece uma prostituta que explica como funciona todo o esquema de quem tenta enfrentá-los. O código 12 é sinônimo de injustiça. Sua nova amiga dá as dicas de como ela deve se comportar para não enlouquecer de vez.
A reviravolta ocorre com a deportação de um garoto de 12 anos para o Canadá, que muda todo o rumo das investigações. Isso tudo leva à libertação de Christine e ao clímax do filme.
Uma coisa que me encantou na história é que ela não é nada piegas, como muito podem pensar: mais um filme sobre uma mãe procurando um filho desaparecido. Não sei se o charmoso período dos anos 20/30 contribui para essa visão, mas a história é cheia de esperança. A atuação de Angelina Jolie como a sofrida Christine é estonteante. Seus olhos e seu olhar são fundamentais para a caracterização da personagem. Não é à toa que a moça foi merecidamente indicada ao Oscar de Melhor Atriz (não vi os outros filmes para comparar).
Os aspectos técnicos não me chamaram tanto a atenção. Creio que todo filme de época possui destaque para a direção de arte, tanto que há uma indicação, mas esse não me empolgou como em O curioso caso de Benjamin Button, de David Fincher. A fotografia e a direção de arte são ótimas, mas não acho que sejam páreas para o filme com Brad Pitt.
Creio que o filme foi muito bem construído. Você não sente o tempo passar. Não é cansativo. Ele prende sua atenção. Chama para a história. Até quando ela mostra o seu lado mais brutal e macabro. O enojar é natural. A revolta faz parte do ser humano. Dera que o ato de revoltar não causasse mais mazelas, principalmente aumentando a negligência ou o senso de justiça com as próprias mãos.
Olhos da esperança
sábado, 21 de fevereiro de 2009
Crescer rejuvenescendo
A vida seria infinitamente mais feliz
se pudéssemos nascer aos 80 anos e
gradualmente chegar aos 18
Mark Twain
se pudéssemos nascer aos 80 anos e
gradualmente chegar aos 18
Mark Twain
Já tinha lido soa um texto engraçado que fala de se nascer com 90 anos e ir regredindo. Nossa aposentadoria seria com o vigor de uma criança e morríamos em uma explosão de prazer. Recebi diversos e-mails ao longo desses últimos anos com essa teoria mágica e que te levava a refletir. Mas, deparei com uma visão poética disso tudo. Com um olhar que me permite hoje dizer que eu não gostaria de fazer isso.
Quem ainda não viu O curioso caso de Benjamin Button, de David Fincher, corra para os cinemas e passe a enxergar o mundo de outra forma. Creio que tudo aquilo é possível fazer em vida, desde que nunca deixemos morrer o nosso espírito juvenil, o nosso desejo de viver. Espero continuar impregnado de minha juventude, de minhas baterias de longa duração.
O filme narra a história de Benjamin, um bebê que nasceu velho numa Nova Orleans ao final da Primeira Grande Guerra. Do tamanho de qualquer recém-nascido, mas aparentando mais de 90 anos, Benjamin nasce com todas as doenças da velhice: artrite, catarata, reumatismo etc. Mas, ao crescer, ele vai rejuvenescendo. Sua calvicie regride, sua pela estica, o vigor juvenil retorna. Há potência naquele corpo que parecia carcomido pelo tempo.
Os questionamentos e aprendizados de ver quem se ama envelhecer e morrer e você ficar cada vez mais forte e jovem. Creio que é quase a mesma coisa de se estagnar em determinada idade e continuar assim para sempre. Até tinha comentando com uma amiga sobre isso, mas já penso que não deve ser tão legal ser eterno. Tem várias vantagens, mas a solidão e o sofrimento que o peso dos anos traz, não compensam.
Mas, voltando ao Benjamin, o jovem-velho-homem vive num asilo, onde fora abandonado pela família por ser uma aberração. Adotado por Queenie, uma serviçal, ele cresce em meio aos idosos e sempre com a história de estar doente, podendo morrer a qualquer minuto, como seus companheiros de casa. Aos 10 anos, ele conhece Daisy, o grande amor de sua vida. Ela é neta de uma das idosas que moram com ele. Mas apenas um homem entende o quão ele é diferente, o pigmeu Ngunda Oti .
Sentindo-se cada vez mais forte, Benjamin parte mundo a fora, explorando cada pedaço como um tripulante do rebocador do Capitão Mike, que em suas constantes bebedeiras, não percebe o quanto Benjamin regride no tempo. Primeira vez, Segunda Guerra, amores, decepções e encontro familiar. O pai de Ben, empresario de uma fábrica de botões, o procura após anos de penitência por ter abandonado o filho, quando prometera cuidar dele.
Mas, mesmo em suas longas ausências pelo mundo, Benjamin nunca esqueceu Daisy, que amara ao primeiro olhar. A linda garotinha ruiva agora era uma das melhores bailarinas. Saíra de Nova Orleans para Nova York, chegando a morar em Moscou e Paris. Porém, os infortunios da vida colocaram os dois frente à frente. Benjamin já é um Button quando isso ocorre, tendo herdado tudo o que fora de seu pai. A partir desse momento que o filme segue para seu clímax.
A narrativa emociona em vários momentos. As situações pelas quais Benjamin tem que passar, os percalços da vida, as questões, tudo isso se reflete em nosso cotidiano. A relação de pai e filho foi a que mais mexeu comigo. Sempre mexe. Qualquer filme com essa temática já tem um nó certo em minha garganta (que o diga Peixe Grande).
Mas fiquei mesmo pasmo com a parte técnica do filme: direção de arte, iluminação, efeitos especiais, maquiagem, fotografia. Creio que todos estudaram o Barroco para o filme. Ele começa escuro, enche-se de luz, e volta a ser escuro. Tal e qual como é a vida. No início, não sabemos o que há. Ainda estamos na escuridão da ignorância. Depois, tomamos o banho de luz do conhecimento e viajamos em tudo que nos cerca. Sabemos que enxergamos longe. Depois, a escuridão retorna com o receio de se expor e com o medo de não ser mais capaz de fazer aquilo que mais amávamos na vida.
O jogo das sombras para ajudar na manipulação do tempo foi genial. Em vários momentos, do início ao fim, Benjamin e Daisy não encaram as câmeras. Tudo é indireto. Olhares, posições, luz. Sempre uma luz dourada. Luz branca apenas na plenitude de uma vida cheia de sonhos e realizações do momento em que se encontram na mesma idade.
Ah, antes que me esqueça. O filme é uma narração do momento da morte de Daisy, fazendo com que sua filha Caroline conheça a história de seu grande amor Benjamin. O que mais me impressionou isso é que a narração se dá no leito de um hospital no dia que o Katrina devastou Nova Orleans.
Boa noite, Benjamin. Boa noite, Daisy.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Inocencia no olhar
Domingo. Cansaço. Preguiça de sair para comer. Calor do lado de fora. Calor do lado de dentro. Internet. Pesquisa sobre filmes em cartaz. Vontade de uma boa comédia. Mas a surpresa salta aos olhos ao ler, em negrito, o nome de um filme que há muito queria ver e que o horário impossibilitava de ir durante a semana.
Sai de casa, almocei e atravessei a rua. Boa tarde, uma meia, por favor. Obrigado. Olhei no relógio e vi que iria esperar um bom tempo. Locadora, banco, pessoas. Começa uma tímida fila. Pelo menos eu já estava nela, até porque a sala era pequena.
Entrei, sentei, luz, câmera, ação. Começava ali um dos filmes mais tristes que já vi. Sempre fui tocado pela temática do Holocausto. Creio que procuro tentar entender como o homem foi capaz de tamanha atrocidade com seu semelhante. A coisa é sempre muito chocante. E ali, na minha frente, a telona me mostrava mais uma vez isso. O menino de pijama listrado traz a história de Bruno, filho de um grande oficial do exército alemão, que muda para o interior da Alemanha e descobre um campo de concentração no “quintal” de casa. Ao explorar os arredores, ele conhece Shmuel, um judeu de oito anos que está do outro lado da cerca.
A amizade desenvolve-se por ali, através do arama farpado e eletrocutado. Bruno, nos seus oito anos, tenta entender aquilo. Seu amigo sabe bem, mas ele, embebido de uma pura inocência, não vê o horror de um campo de concentração. Seu pai, oficial responsável pelo CC, é seu herói, detentor de sua admiração. Mas Bruno não consegue entender as proibições de sua mãe. Ela sabe o que foram fazer ali, mas choca-se ao descobrir o que é feito lá. E o filme vai atingindo seu clímax.
A forma como o diretor Mark Herman mostra as atrocidades cometidas pelos nazistas contra o povo judeu é de uma sutileza impressionante. Nada é exposto. Tudo velado, mas que não precisa mais do que aquilo para chocar. O filme se torna tão denso e tão leve ao mesmo tempo, que este paradoxo te prende. Não há como desgrudar os olhos da tela. A suavidade dos diálogos e das cenas surpreende. E muito é conduzido pelo olhar dos personagens. As transformações estão ali. Principalmente atrás dos belos olhos azuis do pequeno Bruno.
Os aspectos técnicos também de me chamaram a atenção. Fiquei encantado com a fotografia. Sempre busco olhar este quesito. Ela vai do colorido inocente ao cinza da mazela humana. A fronteira entre os dois é tênue. Apenas a cerca cinza e brilhante.
PS: Fiquei impressionado como a Vera Farmiga lembra a Cate Blanchett.
Sai de casa, almocei e atravessei a rua. Boa tarde, uma meia, por favor. Obrigado. Olhei no relógio e vi que iria esperar um bom tempo. Locadora, banco, pessoas. Começa uma tímida fila. Pelo menos eu já estava nela, até porque a sala era pequena.
Entrei, sentei, luz, câmera, ação. Começava ali um dos filmes mais tristes que já vi. Sempre fui tocado pela temática do Holocausto. Creio que procuro tentar entender como o homem foi capaz de tamanha atrocidade com seu semelhante. A coisa é sempre muito chocante. E ali, na minha frente, a telona me mostrava mais uma vez isso. O menino de pijama listrado traz a história de Bruno, filho de um grande oficial do exército alemão, que muda para o interior da Alemanha e descobre um campo de concentração no “quintal” de casa. Ao explorar os arredores, ele conhece Shmuel, um judeu de oito anos que está do outro lado da cerca.
A amizade desenvolve-se por ali, através do arama farpado e eletrocutado. Bruno, nos seus oito anos, tenta entender aquilo. Seu amigo sabe bem, mas ele, embebido de uma pura inocência, não vê o horror de um campo de concentração. Seu pai, oficial responsável pelo CC, é seu herói, detentor de sua admiração. Mas Bruno não consegue entender as proibições de sua mãe. Ela sabe o que foram fazer ali, mas choca-se ao descobrir o que é feito lá. E o filme vai atingindo seu clímax.
A forma como o diretor Mark Herman mostra as atrocidades cometidas pelos nazistas contra o povo judeu é de uma sutileza impressionante. Nada é exposto. Tudo velado, mas que não precisa mais do que aquilo para chocar. O filme se torna tão denso e tão leve ao mesmo tempo, que este paradoxo te prende. Não há como desgrudar os olhos da tela. A suavidade dos diálogos e das cenas surpreende. E muito é conduzido pelo olhar dos personagens. As transformações estão ali. Principalmente atrás dos belos olhos azuis do pequeno Bruno.
Os aspectos técnicos também de me chamaram a atenção. Fiquei encantado com a fotografia. Sempre busco olhar este quesito. Ela vai do colorido inocente ao cinza da mazela humana. A fronteira entre os dois é tênue. Apenas a cerca cinza e brilhante.
PS: Fiquei impressionado como a Vera Farmiga lembra a Cate Blanchett.
Vera e Cate
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Moeda
A expressão “dois lados de uma mesma moeda” serve, muitas vezes, para falar sobre o contraponto de uma única coisa ou fato. A busca pelos ângulos que mostrem a tentativa da verdade. Até porque a verdade é relativa e depende de quem a vê. Não que se vá mentir de cara, mas você tem apenas um ângulo. Precisa dos outros para chegar nos 360º que compõe o fato, a coisa.
E foi a partir daí que comecei a refletir, um tempinho atrás, sobre várias questões que permeiam o relacionamento entre os seres humanos. Por algumas vezes, relatei coisas do tipo aqui. Sempre o um e o outro.
O outro? Para mim, é cada vez mais místico esse outro. Fico sempre a espreita da reação perante determinado fato. Ou mesmo ausente (na maioria dos casos). Na busca incessante de um para ter o outro por perto. O Paulinho Moska (meu mestre e senhor da filosofia humana) canta que “um fala e o outro escuta”. Um e outro são complementos de algo único, assim como a cara completa a coroa da moeda. São dois lados de um único objeto.
Relações de amizades devem ser assim. A busca pela companhia deve vir dos dois lados. Por que só um lado procura? Apenas ele se vê como amigo/ companheiro/ parceiro? Por que o espanto do outro quando o um se espanta com a presença dele? As questões seguiriam linhas abaixo. Mas, para quê? O essencial já passou.
Mas termino com uma pergunta: até que ponto vale continuar investindo em algo que não se tem retorno? Isso mesmo. Retorno. Ninguém quer só passar adiante, quer receber também. Isso é uma troca. Isso é a moeda. Moeda é troca. Troca-se cara por coroa.
E foi a partir daí que comecei a refletir, um tempinho atrás, sobre várias questões que permeiam o relacionamento entre os seres humanos. Por algumas vezes, relatei coisas do tipo aqui. Sempre o um e o outro.
O outro? Para mim, é cada vez mais místico esse outro. Fico sempre a espreita da reação perante determinado fato. Ou mesmo ausente (na maioria dos casos). Na busca incessante de um para ter o outro por perto. O Paulinho Moska (meu mestre e senhor da filosofia humana) canta que “um fala e o outro escuta”. Um e outro são complementos de algo único, assim como a cara completa a coroa da moeda. São dois lados de um único objeto.
Relações de amizades devem ser assim. A busca pela companhia deve vir dos dois lados. Por que só um lado procura? Apenas ele se vê como amigo/ companheiro/ parceiro? Por que o espanto do outro quando o um se espanta com a presença dele? As questões seguiriam linhas abaixo. Mas, para quê? O essencial já passou.
Mas termino com uma pergunta: até que ponto vale continuar investindo em algo que não se tem retorno? Isso mesmo. Retorno. Ninguém quer só passar adiante, quer receber também. Isso é uma troca. Isso é a moeda. Moeda é troca. Troca-se cara por coroa.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Uma noite, muitas coisas - Parte II
Dando continuidade ao post anterior, quando quis escrever mais e vi que estava fazendo um conto, venho modestamente tentar resenhar um filme e falar de comportamentos.
Fumando espero
Quando estive no Morro da Urca para o show da Ana Carolina, a programação da noite incluía a pré-estreia de um filme, uma apresentação-aquecimento, o show principal e um DJ para finalizar a noite.
Cheguei cedo, sentei-me em uma das cadeiras de praia e consegui pegar o começo do filme Fumando espero, de Adriana Dutra. O roteiro é bem simples. É um documentário sobre a(s) tentativa(s) frustrada(s) de parar de fumar. Depoimentos de pessoas famosas e de médicos sobre o processo quase traumático de largar o cigarro. Muitos são fumantes. Há os ex-fumantes. E, claro, os nunca-fumantes.
A Adriana conseguiu tratar o assunto de forma humorada, sem cansar o espectador. Linguagem leve. Uso de animações. Tudo para compor um filme que tinha tudo para não ser interessante. Ela mesma virou personagem. Utilizou-se para mostrar como funciona o processo de para de fumar. Consultas gravadas, cara e bocas, frustrações, crises de abstinência.
A narrativa ganhou um tom leve e descontraído que não chocava. Ela mostrou os males do cigarro sem imagens fortes. O que prevalecia era o depoimento. Atores, médicos, jornalistas, combatentes do fumo, plantadores de fumo. E a legenda sempre informando o status do relacionamento com o tabaco.
O filme começou a ser rodado em 2006, mas saiu bem atualizado. Todos os dados estavam bem embasados. Depoimentos francos e cômicos. Relatos tristes de quem se deu mal pelo cigarro ou se viu numa situação de semi-escravidão pelo fato de depender do fumo para viver. E creio que quem já deu suas tragadas por ai deve ter parado para repensar se vale a pena continuar.
Comportamento em pré-estreia
Assusta-me o comportamento de algumas pessoas em pré-estreia. Começam a cantar numa música do filme, batem palmas no meio, questionam. Isso se intensifica quando é um documentário.
Como há uma moda de jogar sapatos nas pessoas, eu quase entrei para o grupo dos que jogam. Um senhor, sentando duas fileiras a frente, fumante, aproveitou o cinema ao ar livre para suas baforadas e comentários sobre o filme. Batia palmas para os defensores do cigarro e vaiava os que eram contra. Falava alto. Incomodava. Muitos fizeram “shiiiii” para ele, mas dava de ombros e seguia com seu alto teor alcoólico a manifestar-se durante o filme.
Engraçado que essa não foi a primeira vez que eu percebi tal comportamento. Mas é sempre em pré-estreia. Já fui em varias e também vivo nas salas de cinema. Fácil notar tal mudança. Creio que quem faz isso que aparecer mais que o filme ou que o diretor ou os atores. Se for assim, que se pintem de vermelho e pendurem uma melancia no pescoço.
Curiosidade da noite
Nunca me passou pela cabeça que um casal terminaria o namoro no meio de um show romântico. E o motivo sendo o melhor lugar para ver o show. Dois teimosos brigando para ver quem enxergaria a Ana Carolina no palco. O detalhe é que ambos estavam no alto.
Achei meio sem noção. Pior que a menina era a mais sem noção. Ela gritou que tinham terminado, pedia para o cara não tocá-la e continuava do lado dele, de cabeça baixa e chorando. Quando ele ia falar com ela, ela se sacudia batendo nas pessoas (em mim, inclusive) e gritava que tudo tinha acabado. Parecia até o Galvão Bueno na final da Copa do Mundo de 94.
Claro que isso não foi o motivo. Deve ter sido a gota d’água para um casal intransigente e com a relação gasta pela teimosia e disputa dos dois para ver quem manda na relação. Qualquer “Freud” saberia analisar aqueles dois pelas poucas coisas que demonstraram em público. Ainda mais em um lugar cheio. Se não queriam multidão, deveriam ter investido o valor dos ingressos em DVDs.
Fumando espero
Quando estive no Morro da Urca para o show da Ana Carolina, a programação da noite incluía a pré-estreia de um filme, uma apresentação-aquecimento, o show principal e um DJ para finalizar a noite.
Cheguei cedo, sentei-me em uma das cadeiras de praia e consegui pegar o começo do filme Fumando espero, de Adriana Dutra. O roteiro é bem simples. É um documentário sobre a(s) tentativa(s) frustrada(s) de parar de fumar. Depoimentos de pessoas famosas e de médicos sobre o processo quase traumático de largar o cigarro. Muitos são fumantes. Há os ex-fumantes. E, claro, os nunca-fumantes.
A Adriana conseguiu tratar o assunto de forma humorada, sem cansar o espectador. Linguagem leve. Uso de animações. Tudo para compor um filme que tinha tudo para não ser interessante. Ela mesma virou personagem. Utilizou-se para mostrar como funciona o processo de para de fumar. Consultas gravadas, cara e bocas, frustrações, crises de abstinência.
A narrativa ganhou um tom leve e descontraído que não chocava. Ela mostrou os males do cigarro sem imagens fortes. O que prevalecia era o depoimento. Atores, médicos, jornalistas, combatentes do fumo, plantadores de fumo. E a legenda sempre informando o status do relacionamento com o tabaco.
O filme começou a ser rodado em 2006, mas saiu bem atualizado. Todos os dados estavam bem embasados. Depoimentos francos e cômicos. Relatos tristes de quem se deu mal pelo cigarro ou se viu numa situação de semi-escravidão pelo fato de depender do fumo para viver. E creio que quem já deu suas tragadas por ai deve ter parado para repensar se vale a pena continuar.
Comportamento em pré-estreia
Assusta-me o comportamento de algumas pessoas em pré-estreia. Começam a cantar numa música do filme, batem palmas no meio, questionam. Isso se intensifica quando é um documentário.
Como há uma moda de jogar sapatos nas pessoas, eu quase entrei para o grupo dos que jogam. Um senhor, sentando duas fileiras a frente, fumante, aproveitou o cinema ao ar livre para suas baforadas e comentários sobre o filme. Batia palmas para os defensores do cigarro e vaiava os que eram contra. Falava alto. Incomodava. Muitos fizeram “shiiiii” para ele, mas dava de ombros e seguia com seu alto teor alcoólico a manifestar-se durante o filme.
Engraçado que essa não foi a primeira vez que eu percebi tal comportamento. Mas é sempre em pré-estreia. Já fui em varias e também vivo nas salas de cinema. Fácil notar tal mudança. Creio que quem faz isso que aparecer mais que o filme ou que o diretor ou os atores. Se for assim, que se pintem de vermelho e pendurem uma melancia no pescoço.
Curiosidade da noite
Nunca me passou pela cabeça que um casal terminaria o namoro no meio de um show romântico. E o motivo sendo o melhor lugar para ver o show. Dois teimosos brigando para ver quem enxergaria a Ana Carolina no palco. O detalhe é que ambos estavam no alto.
Achei meio sem noção. Pior que a menina era a mais sem noção. Ela gritou que tinham terminado, pedia para o cara não tocá-la e continuava do lado dele, de cabeça baixa e chorando. Quando ele ia falar com ela, ela se sacudia batendo nas pessoas (em mim, inclusive) e gritava que tudo tinha acabado. Parecia até o Galvão Bueno na final da Copa do Mundo de 94.
Claro que isso não foi o motivo. Deve ter sido a gota d’água para um casal intransigente e com a relação gasta pela teimosia e disputa dos dois para ver quem manda na relação. Qualquer “Freud” saberia analisar aqueles dois pelas poucas coisas que demonstraram em público. Ainda mais em um lugar cheio. Se não queriam multidão, deveriam ter investido o valor dos ingressos em DVDs.
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Uma noite, muitas coisas - Parte I
Quando criei este blog, não pensava em fazer blog-diarinho. Quero colocar aqui as impressões que possuo das coisas que me cercam. Mas, para isso, não há como escapar do dia-a-dia. Ida a um show, fuga para o cinema, uma mera conversa.
Então, vamos às impressões da última sexta.
Visão noturna
Nunca me passou pela cabeça como o Rio de Janeiro é lindo à noite. As luzes da cidade, o clarão no céu escuro, as sombras das montanhas. As únicas visões noturnas e do alto que tive foram chegando ao Rio de avião ou subindo o Alto da Boa Vista. Mas fiquei impressionado com o impacto de ver a Zona Sul, Baixada Fluminense e Niterói vistas do alto do Morro da Urca.
Arrependi-me profundamente de não estar com minha câmera. As fotos noturnas de lá seriam incríveis. Imagina se fosse com máquina profissional. Peguei uma sexta chuvosa, com o céu encoberto. Mas, tudo era tão belo, que fiquei a imaginar uma lua cheia nascendo e iluminando tudo com o pratear de seus raios. Minha vontade era sentar e contemplar tudo, esperando os raios dourados de um dia de sol. Ainda bem que não fiz isso, pois amanheceu o com uma chuva e um frio.
Ana Carolina
Pois é, a subida para a o Morro da Urca foi para ver o show da Ana Carolina. Nervosismo apenas para ver se ainda tinha ingresso, pois deixei para a última hora. Que, por sinal, foi a melhor coisa feita. Tinha uma fila de gente trocando o ingresso de internet e ninguém comprando na hora. Entrei rapidinho e quando vi, já estava no bondinho a apreciar a noite sobre a Cidade Maravilhosa.
A programação incluía o filme Fumando espero (resenha em outro post) e o show das Meninas do Nós, um pequeno Grupo do Nós do Morro. Mas não vi a apresentação delas. Já tinha ido demarcar meu quadrado para o show principal. Muita gente em um anfiteatro. Muitos casais de todos os tipos e credos. O lance era procurar o lugar mais neutro e que facilitasse a fuga ao fim do show, evitando a loooooo...ooonga fila para descer. Já havia passado apuros assim em uma ida normal ao Pão de Açúcar. Imagina em show, com todos concentrados.
Na posição estratégica e próxima à rota de fuga, ouvi os primeiros acordes da ruiva de voz marcante. Fazia um tempo que me devia o show da moça. E fiquei impressionado com a presença de palco da Ana. Aquela mulher sabe conduzir um espetáculo. E que espetáculo. Ela vai do suave ao forte com uma tranquilidade que encanta. E me surpreendi em ir num show sem baixista. Ela chegou a tocar em poucas músicas, mas o som do instrumento nas outras veio do teclado.
Delírio com os grandes sucessos dela. Pout-pourri com algumas músicas. Guitarras pesadas em outras. Duelo de pandeiros. E, pela primeira vez em muito tempo, eu presenciei um bis. Isso mesmo, um bis. Não aquela saída do palco para voltar e tocar mais três ou quatro músicas do set-list. Ela fez um bis de uma música mesmo. Por mim, teria feito do show inteiro. Sei que sai de lá, apressado, mas saciado e com o gostinho de quero mais.
Cirurgia do siamês
Eu até ia falar das outras coisas que queria, mas vi que o post ia ficar gigantesco. Então, vou finalizar contando a cirurgia do siamês que fiz na sexta. Como assim, Bial?? Pois é. Lembro de ter colocado em algumas linhas desde blog sobre o fato de eu nunca ter saído sozinho à noite. Um amigo até definiu isso como um siamês grudado em mim. E o fato de eu ter uma irmã gêmea colabora para o processo, pois até o parto eu dividi. Sempre tive alguém comigo.
Comecei a ir pro cinema/teatro sozinho quando notei que estava perdendo boas opções de lazer porque não arranjava companhia. A mesma coisa se repetia com shows. Da Ana mesmo foi assim. Ninguém queria ir. Resolvi então encarar a parada sozinho. Precisava daquilo. Tinha colocado como resolução de Ano Novo. Então por que não um show legal e recomendado? Fui e vi que não dói nada. Já estou planejando saídas para boates. Agora é que a buraqueira começa.
Então, vamos às impressões da última sexta.
Visão noturna
Nunca me passou pela cabeça como o Rio de Janeiro é lindo à noite. As luzes da cidade, o clarão no céu escuro, as sombras das montanhas. As únicas visões noturnas e do alto que tive foram chegando ao Rio de avião ou subindo o Alto da Boa Vista. Mas fiquei impressionado com o impacto de ver a Zona Sul, Baixada Fluminense e Niterói vistas do alto do Morro da Urca.
Arrependi-me profundamente de não estar com minha câmera. As fotos noturnas de lá seriam incríveis. Imagina se fosse com máquina profissional. Peguei uma sexta chuvosa, com o céu encoberto. Mas, tudo era tão belo, que fiquei a imaginar uma lua cheia nascendo e iluminando tudo com o pratear de seus raios. Minha vontade era sentar e contemplar tudo, esperando os raios dourados de um dia de sol. Ainda bem que não fiz isso, pois amanheceu o com uma chuva e um frio.
Ana Carolina
Pois é, a subida para a o Morro da Urca foi para ver o show da Ana Carolina. Nervosismo apenas para ver se ainda tinha ingresso, pois deixei para a última hora. Que, por sinal, foi a melhor coisa feita. Tinha uma fila de gente trocando o ingresso de internet e ninguém comprando na hora. Entrei rapidinho e quando vi, já estava no bondinho a apreciar a noite sobre a Cidade Maravilhosa.
A programação incluía o filme Fumando espero (resenha em outro post) e o show das Meninas do Nós, um pequeno Grupo do Nós do Morro. Mas não vi a apresentação delas. Já tinha ido demarcar meu quadrado para o show principal. Muita gente em um anfiteatro. Muitos casais de todos os tipos e credos. O lance era procurar o lugar mais neutro e que facilitasse a fuga ao fim do show, evitando a loooooo...ooonga fila para descer. Já havia passado apuros assim em uma ida normal ao Pão de Açúcar. Imagina em show, com todos concentrados.
Na posição estratégica e próxima à rota de fuga, ouvi os primeiros acordes da ruiva de voz marcante. Fazia um tempo que me devia o show da moça. E fiquei impressionado com a presença de palco da Ana. Aquela mulher sabe conduzir um espetáculo. E que espetáculo. Ela vai do suave ao forte com uma tranquilidade que encanta. E me surpreendi em ir num show sem baixista. Ela chegou a tocar em poucas músicas, mas o som do instrumento nas outras veio do teclado.
Delírio com os grandes sucessos dela. Pout-pourri com algumas músicas. Guitarras pesadas em outras. Duelo de pandeiros. E, pela primeira vez em muito tempo, eu presenciei um bis. Isso mesmo, um bis. Não aquela saída do palco para voltar e tocar mais três ou quatro músicas do set-list. Ela fez um bis de uma música mesmo. Por mim, teria feito do show inteiro. Sei que sai de lá, apressado, mas saciado e com o gostinho de quero mais.
Cirurgia do siamês
Eu até ia falar das outras coisas que queria, mas vi que o post ia ficar gigantesco. Então, vou finalizar contando a cirurgia do siamês que fiz na sexta. Como assim, Bial?? Pois é. Lembro de ter colocado em algumas linhas desde blog sobre o fato de eu nunca ter saído sozinho à noite. Um amigo até definiu isso como um siamês grudado em mim. E o fato de eu ter uma irmã gêmea colabora para o processo, pois até o parto eu dividi. Sempre tive alguém comigo.
Comecei a ir pro cinema/teatro sozinho quando notei que estava perdendo boas opções de lazer porque não arranjava companhia. A mesma coisa se repetia com shows. Da Ana mesmo foi assim. Ninguém queria ir. Resolvi então encarar a parada sozinho. Precisava daquilo. Tinha colocado como resolução de Ano Novo. Então por que não um show legal e recomendado? Fui e vi que não dói nada. Já estou planejando saídas para boates. Agora é que a buraqueira começa.
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Não absoluto
Conversas e mais conversas rendem bons questionamentos. Além dos vários que já possuímos, alguém vem e sempre levanta mais um. Aí, ou você enxerga uma coisa que tem e começa a refletir ou adquire mais um, apenas como forma de meditação.
Já tive algumas discussões sobre um assunto que gostaria de expor aqui: o não absoluto. Eu o tenho e não abro mão (olha ele ai). Não sei de onde ele veio ou quando começou. Mas não faz muito tempo que tenho consciência dele. Lembro muito bem a primeira vez que me deparei com ele.
Estávamos lá, um grupo de amigos, o não absoluto e eu. Todos numa mesa de bar conversando, Engraçado que eu nunca tinha reparado nesse não. Ai, um amigo que faz análise e queria me convencer a fazer começou a levantar certas questões e comecei a utilizar esse não. Pois bem que ele me puxa o porquê de eu ter esse não tão firme na boca. De ser intransigível com minhas coisas pessoais.
A partir desse momento, comecei a reparar nisso. Eu nunca tinha pensando no não, até porque sempre tive dificuldade de dizê-lo. Já passei por umas coisas bem chatas apenas por não ter dito um não e o mantido ali, firme. Até quando estou mais enrolado que novelo de lã, eu digo um sim. Por isso não havia enxergado o meu não.
Alguns eu já comecei a trabalhar e não são tão absolutos agora. Quem sabe faz parte do amadurecimento ou do simples fato de ter visto que determinada atitude me prejudicava.
Um desses nãos que eu comecei a trabalhar foi o fato de olhar para trás. Não o ato de repensar sobre atitudes passadas para entender. Mas o ato mecânico de virar o corpo e ver o que ficou para trás. Isso vale para tudo: despedidas, paqueras, viagens. Geralmente, quando olho, a surpresa nunca é tão boa. Não quero ver lágrimas nos olhos de quem amo. Não quero ver que não fui correspondido. Não quero. Não.
Já tive boas surpresas com o fato de olhar. E com o fato de dizer um sim para um não absoluto. Mas isso é raridade e ainda me forço. Uma das coisas que me levaram a não olhar para trás tem relação com a mulher de Ló, que virou estátua de sal ao olhar o castigo que Deus impunha. Ou sempre que alguém está fugindo, em filme, e olha para trás ... buuuum ... vai beijar o chão ou dá de cara com outro bandido/monstro/etc.
Enfim, sei que tenho que rever os meus nãos. E espero que isso possa levá-lo(a) a (re)pensar os seus. De uns, não abro mão mesmo. Já outros, creio que posso revê-los e não virar mais uma estátua de sal.
Já tive algumas discussões sobre um assunto que gostaria de expor aqui: o não absoluto. Eu o tenho e não abro mão (olha ele ai). Não sei de onde ele veio ou quando começou. Mas não faz muito tempo que tenho consciência dele. Lembro muito bem a primeira vez que me deparei com ele.
Estávamos lá, um grupo de amigos, o não absoluto e eu. Todos numa mesa de bar conversando, Engraçado que eu nunca tinha reparado nesse não. Ai, um amigo que faz análise e queria me convencer a fazer começou a levantar certas questões e comecei a utilizar esse não. Pois bem que ele me puxa o porquê de eu ter esse não tão firme na boca. De ser intransigível com minhas coisas pessoais.
A partir desse momento, comecei a reparar nisso. Eu nunca tinha pensando no não, até porque sempre tive dificuldade de dizê-lo. Já passei por umas coisas bem chatas apenas por não ter dito um não e o mantido ali, firme. Até quando estou mais enrolado que novelo de lã, eu digo um sim. Por isso não havia enxergado o meu não.
Alguns eu já comecei a trabalhar e não são tão absolutos agora. Quem sabe faz parte do amadurecimento ou do simples fato de ter visto que determinada atitude me prejudicava.
Um desses nãos que eu comecei a trabalhar foi o fato de olhar para trás. Não o ato de repensar sobre atitudes passadas para entender. Mas o ato mecânico de virar o corpo e ver o que ficou para trás. Isso vale para tudo: despedidas, paqueras, viagens. Geralmente, quando olho, a surpresa nunca é tão boa. Não quero ver lágrimas nos olhos de quem amo. Não quero ver que não fui correspondido. Não quero. Não.
Já tive boas surpresas com o fato de olhar. E com o fato de dizer um sim para um não absoluto. Mas isso é raridade e ainda me forço. Uma das coisas que me levaram a não olhar para trás tem relação com a mulher de Ló, que virou estátua de sal ao olhar o castigo que Deus impunha. Ou sempre que alguém está fugindo, em filme, e olha para trás ... buuuum ... vai beijar o chão ou dá de cara com outro bandido/monstro/etc.
Enfim, sei que tenho que rever os meus nãos. E espero que isso possa levá-lo(a) a (re)pensar os seus. De uns, não abro mão mesmo. Já outros, creio que posso revê-los e não virar mais uma estátua de sal.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
Rosa murcha
O luar recai sobre a rosa sobre a mesa. Rosa essa que foi um belo botão. Vermelho. Vibrante. Rosa que veio com um sorriso, um carinho de um olhar atencioso. Mas, é rosa. É chama. Queima. Consome. Morre.
Vejo ali, algumas pétalas caídas. Água turva. Esverdeada. E o luar continua sobre a rosa, que resolveu abrir aos primeiros raios brilhantes do sol e deixou-se ir pela luz prata da lua.
O vermelho já não vibra mais. Não agride. Não sufoca. Entristeceu-se. Ainda mais nas pétalas sobre a mesa. Já foi-se a graça, que ainda continua nas que estão mais acima, presas.
O observador pensa: trocar a água? Podar o caule? Ou apenas jogar fora? A rosa que era bela já não o agrada mais. Incomoda-o. Angustia-o.
Como algo que era tão belo e frágil passa, rapidamente, para algo que enjoa pelo simples fato de existir? Mas a rosa não tem culpa. Nem o observador. Nem mesmo o tempo, responsável pela deterioração.
No fundo, não há culpa ou culpados. Há apenas um vazio a ser preenchido com uma nova rosa ou um novo observador.
Vejo ali, algumas pétalas caídas. Água turva. Esverdeada. E o luar continua sobre a rosa, que resolveu abrir aos primeiros raios brilhantes do sol e deixou-se ir pela luz prata da lua.
O vermelho já não vibra mais. Não agride. Não sufoca. Entristeceu-se. Ainda mais nas pétalas sobre a mesa. Já foi-se a graça, que ainda continua nas que estão mais acima, presas.
O observador pensa: trocar a água? Podar o caule? Ou apenas jogar fora? A rosa que era bela já não o agrada mais. Incomoda-o. Angustia-o.
Como algo que era tão belo e frágil passa, rapidamente, para algo que enjoa pelo simples fato de existir? Mas a rosa não tem culpa. Nem o observador. Nem mesmo o tempo, responsável pela deterioração.
No fundo, não há culpa ou culpados. Há apenas um vazio a ser preenchido com uma nova rosa ou um novo observador.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Sempre o outro
Por que a grama do vizinho é sempre mais verde que a nossa? Por que o sanduíche do outro é mais bonito e mais gostoso que o nosso? Por que sempre olhamos o garçom passar com os pratos da mesa ao lado e ficamos na curiosidade do que aqui ali?
Parece praga ou maldição. Não contentar-se com o que está aqui. Sempre tem que ser lá. Por quê? É sempre ter vontade de comer num restaurante que não existe aqui. De ir num museu que está lá. De ver alguém por uma tela que mostra quilômetros de distancia. Papo, carinho, paixão, amizade. Cumplicidade.
Aos que nos cercam, não é desdém. Até porque só percebemos o vazio que nos rodeia. Falta de atenção, ausência, descaso. Para que um “eu te ligo”, se já sentimos que o telefone não vai tocar. Não há porque enganar quem não engana a si mesmo.
Pior de tudo isso são as expectativas criadas, as noites mal dormidas, a vida mal vivida. Medo de algo próximo? Fuga? Boicote? Ou apenas a vida mostrando mais uma vez que não é nada fácil estar disposto a amar. A querer ser feliz e dividir isso com alguém especial.
Conhecer pessoas dá nisso. Viajar dá nisso. Não é querer ser marinheiro, deixando um amor em cada porto. É querer voltar àquela baía calma, de mar azul e que te sorri como se você fosse o único ser humano que por ali passou. O único capaz de cuidar para que nenhum invasor venha e polua as águas brilhantes que teimam em cair do alto e a correr em sua direção, prendendo sua vista e te dando um nó na garganta de tão bela paisagem que fascina e apaixona.
Parece praga ou maldição. Não contentar-se com o que está aqui. Sempre tem que ser lá. Por quê? É sempre ter vontade de comer num restaurante que não existe aqui. De ir num museu que está lá. De ver alguém por uma tela que mostra quilômetros de distancia. Papo, carinho, paixão, amizade. Cumplicidade.
Aos que nos cercam, não é desdém. Até porque só percebemos o vazio que nos rodeia. Falta de atenção, ausência, descaso. Para que um “eu te ligo”, se já sentimos que o telefone não vai tocar. Não há porque enganar quem não engana a si mesmo.
Pior de tudo isso são as expectativas criadas, as noites mal dormidas, a vida mal vivida. Medo de algo próximo? Fuga? Boicote? Ou apenas a vida mostrando mais uma vez que não é nada fácil estar disposto a amar. A querer ser feliz e dividir isso com alguém especial.
Conhecer pessoas dá nisso. Viajar dá nisso. Não é querer ser marinheiro, deixando um amor em cada porto. É querer voltar àquela baía calma, de mar azul e que te sorri como se você fosse o único ser humano que por ali passou. O único capaz de cuidar para que nenhum invasor venha e polua as águas brilhantes que teimam em cair do alto e a correr em sua direção, prendendo sua vista e te dando um nó na garganta de tão bela paisagem que fascina e apaixona.
Frase de Filme
Te agradezco mucho que no quieras jugar conmigo, de todos modos yo no te iba a dejar jugar conmigo, porque yo valgo la pena ¿entendés?… yo valgo.
El hijo de la novia
El hijo de la novia
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Saltos
Já compete há anos naquele esporte. Quantas medalhas levou para casa com seus saltos precisos. Coleciona alguns ouros, pratas e bronzes. Não curte mostrá-los em sua parede, como muitos atletas o fazem. Conta para um ou para outro o que aconteceu na competição anterior: se foi qualificado para disputar a semi-final ou final; se conseguiu subir no pódio. Mas nunca contou vantagem, apesar das trocas de experiência com outros atletas, enquanto esperava a hora de saltar.
Começou cedo, logo após aprender a nadar. Nunca teve medo de altura. Vivia treinando pulos da janela de sua casa para dois colchões postos, de forma estratégica, para amortecer suas estripulias. Sempre ouvia os gritos da mãe dizendo para “não fazer arte”. Resolveu então comentar na escola de natação que gostaria de praticar outro esporte. Nadar seria apenas parte do treino, já que adorava estar na água.
Quando deu por si, já estava saltando das plataformas de três metros. Mas não cansava de olhar mais para cima. Sabia que seu objetivo era bem mais alto. Às vezes, doía o pescoço de tanto que fitava os mais velhos pulando. Aplaudia, incentivava, torcia. Aguardava, ansioso, a hora de galgar maiores conquistas.
Já tinha medalhas amadoras de pequenas competições. Parecia que tinha talento nato. Suas acrobacias encantavam. Mostrava seu potencial. Mas seu objetivo eram as Olimpíadas. O tão sonhado encontro com os deuses. A cada mortal, carpada, grupada, ele sentia que chegava mais perto do Olimpo.
Começou a competir nas plataformas de dez metros. Adorava a visão do horizonte em um ponto tão acima do chão. Corria e se jogava. O coração sempre disparava. O frio na espinha sempre corria a cada desprender para o “vazio”. Buscava sempre ser um ao tocar na água. Sua meta sempre foi a suavidade de subir na plataforma a cair na piscina.
A vontade de competir nunca o impediu de fazer outras coisas. Continuava seus estudos, suas amizades e suas viagens. E foi pelas viagens que começou a querer competir fora de casa. Sempre acompanhara as competições nacionais e internacionais. A cada novo lugar visitado, queria sempre incluir um espaço próprio para saltos. Sabia que era destemido e sempre ia pronto para pular.
Fez sua primeira inscrição em uma competição fora de casa. Resolveu ir um tempo antes, para treinar no novo ambiente. Queria se familiarizar com a piscina, com a água, com a plataforma. O conhecimento era essencial para seus saltos. Fazia parte da preparação.
Enfim, chegou o dia. Arquibancada cheia, torcida de cada competidor, de cada estado. Ao longe, em um cantinho, via o seu tímido grupo. Não deu para todos viajarem. Mas sentia que tinha que fazer o melhor para si mesmo e para os que agitavam e aplaudiam.
Chamaram seu nome. Subiu as escadas levemente, controlando a respiração para chegar bem aos dez metros. Necessitava de equilíbrio, de concentração. Ia subindo e mirando seu alvo. As marolas de saltos anteriores ainda percorriam aquela superfície azul. Seu ritmo lento era para poder pular na tranquilidade das águas. Chegou ao topo. Olhou mais uma vez para baixo e sorriu. Um sorriso farto, cheio de dentes. Sentia que era a coisa certa a fazer. Não passava perto a vontade de desistir. Preparou-se. Queria o salto mais belo de sua vida. Buscou relaxar e não ficar ansioso. Sentia o vento no rosto e o frio a comer-lhe o estômago. Ouviu o apito. Saltou.
Seus movimentos o traíram. Sua perna escorregou e caiu feio na água. O choque da queda machucou um pouco. Sentia a queimação na pele. Mas o aperto no coração era o pior. Não acreditou no que havia acabado de acontecer. Seus sonhos indo pelo ralo. O horizonte já não estava mais tão claro. A visão ficou um pouco turva com tamanho desapontamento. Ainda tinha mais quatro chances. Mas a vergonha e o medo o tomaram de uma forma que ele correu para o vestiário. E depois voltou para a sua cidade. Para os seus.
Anos se passaram e ele não competia mais. Aqui e ali arriscava um salto. Nada de grande impacto. Quando queria praticar, com saudades daqueles tempos em que se sentia dono da situação, ia treinar a noite. Ninguém via e nem ouvia. Fazia tudo sem medo, já que não o fitavam.
Até que um dia, seu antigo treinador o incentivou a voltar a competir. Poderia começar nas amadoras, já que o clube da cidade tinha provas todo mês, na busca de novos talentos. Decidiu passar uma borracha no passado e voltar a treinar forte. Mas sentia que ali não chegaria a ser o atleta que sempre sonhou.
Resolveu sair pelo mundo em busca de um novo clube para treinar. Achou um que o recebeu bem e que havia gostado. Sentia-se em casa. Parecia que havia nascido ali, em meio àquela piscina. A motivação foi maior. O desafio era maior. O frio que percorria a espinha provocava um sorriso. Sabia que era o mais certo a fazer.
Passou a treinar forte. Cinco. Seis. Oito. Dez horas por dia. Musculação, natação, acrobacias em solo, trampolim, plataforma. A rotina era dura. Mas estava disposto a seguir em frente e mergulhar fundo.
Fez a primeira competição local. Já não havia mais o nervosismo de outrora. Estava mais que focado. Sabia o que queria. Seus saltos foram bons. Viu placas de 8.0 a 9.0. Recebeu um único 10.0 em seu quarto salto, que foi o melhor. Mas, na pontuação geral, não passou do sexto lugar. Comemorou como se fosse uma medalha. Afinal, fazia anos que estava longe dos saltos competitivos.
Outra competição, a primeira medalha. Prata. Reluzente. Brilhante. Pela cor, achava-a mais bonita que a prima dourada. Mas queria a que levasse ao ponto mais alto. À que permitisse falar com Zeus. E não demorou muito para vir.
A competição foi longe de sua nova casa. A sensação da primeira vez que viajou para saltar voltou, mas já estava maduro para não cometer os erros que o afastaram das plataformas. Seus cinco saltos foram perfeitos. Saia da piscina sendo ovacionado pelo público presente. Jornalistas corriam em sua direção. A timidez, sempre presente, fazia-o dizer poucas palavras. Jogou-se com tudo na água após o último competidor saltar e não conseguir superá-lo nos pontos.
Ouro. Louro. Altura. Glória. Tudo aquilo mexeu com ele. Sabia que queria aquilo, mas que não tinha nascido para a fama. Jornais estampavam seu feito. Pela primeira vez, se viu como um herói.
Competições vieram e outras foram. Começou a colecionar de medalhas. Não sabia mais viver sem competir, independente se pontuava ou não para o ranking nacional. Mas o destino ainda reservada a grande competição que o levaria para o sonho olímpico. Soube de mais uma. Inscreveu-se. Precisou viajar. Pegou seus apetrechos e partiu rumo a mais um desafio.
Preparou-se. Concentrou-se. Não conseguiu ir antes para conhecer o ambiente. Eram poucos dias. Um ou dois de treino e mais uns de competição, caso fosse para a final. Foi lá e fez o melhor. Classificou-se. Mal dormiu a noite, ansioso pela grande final. Acordou, fez o que tinha que fazer ao longo do dia, antes da decisão. Todos começaram a saltar. Chegou mais uma vez o seu momento. Subiu e pulou. Ao cair na água, sabia que poderia ter feito melhor. Aguardou o resultado e contentou-se com os 7.5 e 8.0 que recebeu.
Inspirou fundo mais uma vez e foi para o segundo. Dessa vez, arriscou-se mais. Queria mais. Conseguiu um 9.3 de máxima. Gargalhou. Sabia que estava entrando no ritmo. Concentrado, partiu para o terceiro salto. Desta vez, plantou bananeira na ponta e saltou. Os movimentos foram precisos. Levantou pouca água. Ouviu a vibração do público enquanto emergia. Olhou para o telão e viu notas entre 9.5 e 10.0. Socou o ar.
Já estava em segundo na classificação geral. Sabia que se quisesse o ouro, o próximo salto deveria ser o mais arriscado, a fim de ter vantagem sobre o outro concorrente. Subiu calmamente, tentando controlar a já ofegante respiração. Preparou-se e foi ao encontro da água mais uma vez. Mas um novo escorregão o fez bater na plataforma e cair. Além de perder os pontos, se machucou feio. Batera primeiro a perna ao cair, depois a cabeça na borda. Foi socorrido.
Abandonou a competição rumo ao hospital. Exames, tomografia, repouso. Ficou ali alguns dias. Quieto. O monitoramento era necessário. Ao receber alta, ainda sentia dor. Mas nada que sessões de fisioterapia não o reabilitassem para novos saltos. Meses sem competir. Treinava pouco. Passou a acompanhar mais os campeonatos pela televisão e internet. Viu um que despertou sua curiosidade e aguçou a vontade de participar.
Decidiu voltar a treinar para mais uma competição de saltos. Perdera o medo e a vergonha de falhar. Sabe que vai dar o melhor de si para levar a medalha de ouro para casa. Rotina excessiva de exercícios, além de umas sessões de fisioterapia.
É chegada a hora da competição. Mais uma viagem. Mais um desafio. Mais um frio a congelar o estômago. Mais uma vez ali, no alto, a mirar todos e seu alvo azul. Treina e se aquece. Conhece um pouco o local da competição. Ansioso, aguarda que chamem seu nome para se dirigir à área de saltos. Quer ir para a final e sabe que vai fazer de tudo.
Sobe com certa pressa. Escorrega um degrau, mas nada grave. Aquilo não vai tirá-lo de sua meta dourada. Mais uma vez na ponta. Mais uma vez o azul prender sua visão. Sabe agora que é respirar fundo e mergulhar. Respira e salta mais uma vez para o desconhecido, a espera do que vai acontecer ao chegar à água.
Começou cedo, logo após aprender a nadar. Nunca teve medo de altura. Vivia treinando pulos da janela de sua casa para dois colchões postos, de forma estratégica, para amortecer suas estripulias. Sempre ouvia os gritos da mãe dizendo para “não fazer arte”. Resolveu então comentar na escola de natação que gostaria de praticar outro esporte. Nadar seria apenas parte do treino, já que adorava estar na água.
Quando deu por si, já estava saltando das plataformas de três metros. Mas não cansava de olhar mais para cima. Sabia que seu objetivo era bem mais alto. Às vezes, doía o pescoço de tanto que fitava os mais velhos pulando. Aplaudia, incentivava, torcia. Aguardava, ansioso, a hora de galgar maiores conquistas.
Já tinha medalhas amadoras de pequenas competições. Parecia que tinha talento nato. Suas acrobacias encantavam. Mostrava seu potencial. Mas seu objetivo eram as Olimpíadas. O tão sonhado encontro com os deuses. A cada mortal, carpada, grupada, ele sentia que chegava mais perto do Olimpo.
Começou a competir nas plataformas de dez metros. Adorava a visão do horizonte em um ponto tão acima do chão. Corria e se jogava. O coração sempre disparava. O frio na espinha sempre corria a cada desprender para o “vazio”. Buscava sempre ser um ao tocar na água. Sua meta sempre foi a suavidade de subir na plataforma a cair na piscina.
A vontade de competir nunca o impediu de fazer outras coisas. Continuava seus estudos, suas amizades e suas viagens. E foi pelas viagens que começou a querer competir fora de casa. Sempre acompanhara as competições nacionais e internacionais. A cada novo lugar visitado, queria sempre incluir um espaço próprio para saltos. Sabia que era destemido e sempre ia pronto para pular.
Fez sua primeira inscrição em uma competição fora de casa. Resolveu ir um tempo antes, para treinar no novo ambiente. Queria se familiarizar com a piscina, com a água, com a plataforma. O conhecimento era essencial para seus saltos. Fazia parte da preparação.
Enfim, chegou o dia. Arquibancada cheia, torcida de cada competidor, de cada estado. Ao longe, em um cantinho, via o seu tímido grupo. Não deu para todos viajarem. Mas sentia que tinha que fazer o melhor para si mesmo e para os que agitavam e aplaudiam.
Chamaram seu nome. Subiu as escadas levemente, controlando a respiração para chegar bem aos dez metros. Necessitava de equilíbrio, de concentração. Ia subindo e mirando seu alvo. As marolas de saltos anteriores ainda percorriam aquela superfície azul. Seu ritmo lento era para poder pular na tranquilidade das águas. Chegou ao topo. Olhou mais uma vez para baixo e sorriu. Um sorriso farto, cheio de dentes. Sentia que era a coisa certa a fazer. Não passava perto a vontade de desistir. Preparou-se. Queria o salto mais belo de sua vida. Buscou relaxar e não ficar ansioso. Sentia o vento no rosto e o frio a comer-lhe o estômago. Ouviu o apito. Saltou.
Seus movimentos o traíram. Sua perna escorregou e caiu feio na água. O choque da queda machucou um pouco. Sentia a queimação na pele. Mas o aperto no coração era o pior. Não acreditou no que havia acabado de acontecer. Seus sonhos indo pelo ralo. O horizonte já não estava mais tão claro. A visão ficou um pouco turva com tamanho desapontamento. Ainda tinha mais quatro chances. Mas a vergonha e o medo o tomaram de uma forma que ele correu para o vestiário. E depois voltou para a sua cidade. Para os seus.
Anos se passaram e ele não competia mais. Aqui e ali arriscava um salto. Nada de grande impacto. Quando queria praticar, com saudades daqueles tempos em que se sentia dono da situação, ia treinar a noite. Ninguém via e nem ouvia. Fazia tudo sem medo, já que não o fitavam.
Até que um dia, seu antigo treinador o incentivou a voltar a competir. Poderia começar nas amadoras, já que o clube da cidade tinha provas todo mês, na busca de novos talentos. Decidiu passar uma borracha no passado e voltar a treinar forte. Mas sentia que ali não chegaria a ser o atleta que sempre sonhou.
Resolveu sair pelo mundo em busca de um novo clube para treinar. Achou um que o recebeu bem e que havia gostado. Sentia-se em casa. Parecia que havia nascido ali, em meio àquela piscina. A motivação foi maior. O desafio era maior. O frio que percorria a espinha provocava um sorriso. Sabia que era o mais certo a fazer.
Passou a treinar forte. Cinco. Seis. Oito. Dez horas por dia. Musculação, natação, acrobacias em solo, trampolim, plataforma. A rotina era dura. Mas estava disposto a seguir em frente e mergulhar fundo.
Fez a primeira competição local. Já não havia mais o nervosismo de outrora. Estava mais que focado. Sabia o que queria. Seus saltos foram bons. Viu placas de 8.0 a 9.0. Recebeu um único 10.0 em seu quarto salto, que foi o melhor. Mas, na pontuação geral, não passou do sexto lugar. Comemorou como se fosse uma medalha. Afinal, fazia anos que estava longe dos saltos competitivos.
Outra competição, a primeira medalha. Prata. Reluzente. Brilhante. Pela cor, achava-a mais bonita que a prima dourada. Mas queria a que levasse ao ponto mais alto. À que permitisse falar com Zeus. E não demorou muito para vir.
A competição foi longe de sua nova casa. A sensação da primeira vez que viajou para saltar voltou, mas já estava maduro para não cometer os erros que o afastaram das plataformas. Seus cinco saltos foram perfeitos. Saia da piscina sendo ovacionado pelo público presente. Jornalistas corriam em sua direção. A timidez, sempre presente, fazia-o dizer poucas palavras. Jogou-se com tudo na água após o último competidor saltar e não conseguir superá-lo nos pontos.
Ouro. Louro. Altura. Glória. Tudo aquilo mexeu com ele. Sabia que queria aquilo, mas que não tinha nascido para a fama. Jornais estampavam seu feito. Pela primeira vez, se viu como um herói.
Competições vieram e outras foram. Começou a colecionar de medalhas. Não sabia mais viver sem competir, independente se pontuava ou não para o ranking nacional. Mas o destino ainda reservada a grande competição que o levaria para o sonho olímpico. Soube de mais uma. Inscreveu-se. Precisou viajar. Pegou seus apetrechos e partiu rumo a mais um desafio.
Preparou-se. Concentrou-se. Não conseguiu ir antes para conhecer o ambiente. Eram poucos dias. Um ou dois de treino e mais uns de competição, caso fosse para a final. Foi lá e fez o melhor. Classificou-se. Mal dormiu a noite, ansioso pela grande final. Acordou, fez o que tinha que fazer ao longo do dia, antes da decisão. Todos começaram a saltar. Chegou mais uma vez o seu momento. Subiu e pulou. Ao cair na água, sabia que poderia ter feito melhor. Aguardou o resultado e contentou-se com os 7.5 e 8.0 que recebeu.
Inspirou fundo mais uma vez e foi para o segundo. Dessa vez, arriscou-se mais. Queria mais. Conseguiu um 9.3 de máxima. Gargalhou. Sabia que estava entrando no ritmo. Concentrado, partiu para o terceiro salto. Desta vez, plantou bananeira na ponta e saltou. Os movimentos foram precisos. Levantou pouca água. Ouviu a vibração do público enquanto emergia. Olhou para o telão e viu notas entre 9.5 e 10.0. Socou o ar.
Já estava em segundo na classificação geral. Sabia que se quisesse o ouro, o próximo salto deveria ser o mais arriscado, a fim de ter vantagem sobre o outro concorrente. Subiu calmamente, tentando controlar a já ofegante respiração. Preparou-se e foi ao encontro da água mais uma vez. Mas um novo escorregão o fez bater na plataforma e cair. Além de perder os pontos, se machucou feio. Batera primeiro a perna ao cair, depois a cabeça na borda. Foi socorrido.
Abandonou a competição rumo ao hospital. Exames, tomografia, repouso. Ficou ali alguns dias. Quieto. O monitoramento era necessário. Ao receber alta, ainda sentia dor. Mas nada que sessões de fisioterapia não o reabilitassem para novos saltos. Meses sem competir. Treinava pouco. Passou a acompanhar mais os campeonatos pela televisão e internet. Viu um que despertou sua curiosidade e aguçou a vontade de participar.
Decidiu voltar a treinar para mais uma competição de saltos. Perdera o medo e a vergonha de falhar. Sabe que vai dar o melhor de si para levar a medalha de ouro para casa. Rotina excessiva de exercícios, além de umas sessões de fisioterapia.
É chegada a hora da competição. Mais uma viagem. Mais um desafio. Mais um frio a congelar o estômago. Mais uma vez ali, no alto, a mirar todos e seu alvo azul. Treina e se aquece. Conhece um pouco o local da competição. Ansioso, aguarda que chamem seu nome para se dirigir à área de saltos. Quer ir para a final e sabe que vai fazer de tudo.
Sobe com certa pressa. Escorrega um degrau, mas nada grave. Aquilo não vai tirá-lo de sua meta dourada. Mais uma vez na ponta. Mais uma vez o azul prender sua visão. Sabe agora que é respirar fundo e mergulhar. Respira e salta mais uma vez para o desconhecido, a espera do que vai acontecer ao chegar à água.
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