terça-feira, 7 de abril de 2009

Apaixonado

Deitei-me com uma sensação estranha. Não sabia ao certo o que passava por minha cabeça. Um turbilhão de pensamentos me roubava o sono. Olhava a noite avançar pela janela. O luar já havia corrido quase toda a penumbra do quarto. Pude ver claramente o caminho feito pelas estrelas. De tão longo o pensar, adormeci. Os primeiros raios de sol que invadiram o quarto me fizeram despertar.

Ainda cheio de sono, com a luz dourada que batia na parede e caia macia sobre a cama, senti algo percorrer meu corpo. Nada externo. Apesar do frio da manhã, que teimava em levantar, estava com aquele friozinho no estômago, que muitos comparam a borboletas. Tudo estava confuso como na véspera. Cambaleando de sono, levantei e fui beber uma água. Na volta, parada estratégica no banheiro, pois ainda poderia dormir mais, afinal era sábado e não tinha motivos para levantar cedo.

Foi ai que tudo se revelou. Olhei-me no espelho. Profundamente. E ali, na minha frente, estava o motivo da sensação estranha. Forcei um pouco a vista e vi o porquê de sentir frio na barriga já ao amanhecer. Tinha me apaixonado por mim mesmo. Não uma coisa narcisística, de do querer a mim, de me achar o mais belo de todos. Tudo naquela imagem me atraía, me despertava carinho. Queria tocar, pegar, apertar, sentir.

Voltei para a cama e comecei a visualizar cada parte de meu corpo. Não acreditava que estava apaixonado por mim mesmo. Ainda mais sabendo de minhas qualidades e meus defeitos. Mãos, pés, barriga, braços. A frustração era depender de um objeto frio para por me olhar no olho. Interagir com minha alma.

A medida que me estudava, começava a ver defeitos. Mas nada que me desagradasse. A natureza imperfeita é que cria o charme. A imperfeição dos acidentes naturais é que traz a beleza das paisagens mundo a fora. Sei que nada do que enxergava me causava ojeriza. Estava encantado com as formas. Vi tudo minuciosamente. Queria me conhecer, me reconhecer.

Enquanto os aspectos físicos tomavam conta de meus impacientes olhos, meu cérebro ardia na avaliação de minhas virtudes e de meus defeitos. Passei, a partir daquele momento, a me conhecer melhor. Conseguia ver até onde iria minha limitação. Metas, planos, vontades. Tudo isso foi estudado de perto. Eu e eu, numa discussão arrebatadora, questionávamos a mim tudo o que eu sentia, o que queria, o que desejava.

Abracei-me e voltei a dormir em minha companhia. Não queria mais nada além de mim, naquele momento. Vi o quanto eu valia a pena e o quando eu deveria lutar por mim mesmo. E aquele tanto de eu e de mim não me passava a ideia de egoísmo. Sabia que era necessário aquele encontro para poder oferecer aos outros o melhor de mim: um eu apaixonado por mim mesmo.

Um comentário:

Sônia disse...

Acho que é isso que me falta! Me apaixonar por mim mesma...rs