segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Parar sentir o cheiro e salivar

Na última sexta, dia 15, uma chuva inundou o Rio. Foi muita água caindo do céu e molhando os transeuntes. Choveu até pelo guarda-chuva, que de nada adiantou. E como quem está na chuva é para se molhar, molhado ficamos em mais um réveillon dos Escravos da Mauá. No começo, com uma espécie de garoa que cobria o Largo de São Francisco da Prainha, a animação do pessoal manteve o bom clima de carnaval. Mas a medida que os pingos resolviam engrossar, foi mais uma debandada para onde molhava menos. Inclusive o próprio Grupo Eu Canto o Sabiá teve que suspender as atividades.

Ainda assim, o cavaleiro errante marchou solitariamente rumo à Lapa, onde encontraria com os bobos da corte para mais uma noite de menestréis e coringas. Só não esperava encontrar tudo o que chovia acumulado sobre o asfalto, a fazer ondas e encharcar os calcanhares. Mas, atrevido como sempre foi, tentou chegar ao ponto da festança. Olhou e decidiu se render a não sair em uma noite de sábado, buscando o conforto e o aquecimento de um quarto confortável e de onde não quis sair.

Ele só não esperou ser derrotado, horas depois, por seu arquiinimigo, Morfeu, que com um golpe forte e rápido, o derrubou em seu leito e o manteve imobilizado por mais de 12 horas. Das tentativas de fugir da opressão inimiga, sentiu-se perdido e não dizia nada com nada. Estava embriagado por algo que não o derrubava fácil, o sono.

Recuperado após sua derrota na véspera, rumou em direção ao mar, mas não houve tempo de zarpar. Haviam afundado as chances de navegar em águas calmas e de buscar a fênix que se esconde na pedra doce que observa diariamente de sua janela. Partiu dali para novos campos, com sua tropa, e acabou por escolher um ambiente escuro e frio para passar mais uma tarde quente de verão, longe do calor escaldante das tardes de céu azul.

Escolheu algo leve e descontraído e foi direto em algo que fez o ambiente cheirar a alecrim e a manjericão. Julie o levou a conhecer Julia, mulher de voz engraçada, com falsetes a todo o momento, que o lembrava de sua professora de inglês de um passado distante, mas que o sotaque americano diferenciava do que seus ouvidos memorizaram.

Ao ver Julie & Julia, filme que deu um Globo de Ouro a Meryl Streep, por sua interpretação da famosa Julia Child, ele sentiu-se bem. Ficou tão envolvido com o filme que conseguiu sentir o cheiro da comida invadir a pequena sala de cinema, onde uma emocionada senhora sentada ao seu lado não parava de chorar. Chegou a salivar com um pão que surgiu na tela. Sentiu fome naquele momento.

Leve como um suspiro, o filme traz a história verídica de Julie Powell, uma jornalista perdida no mundo burocrático do governo norte-americano após o trágico 11 de setembro. Sem saber o que fazer, ela decide criar um blog onde contaria suas experiências ao preparar as 543 receitas do livro de culinária de Julia Child, uma americana desengonçada que passou por situação semelhante, de querer se encontrar no mundo enquanto vivia na Paris da década de 60.

Como Julia adorava comer, decidiu fazer um curso de gastronomia na melhor escola francesa. Desacreditada, ela encontrou a motivação que precisava e, com a ajuda de três amigas, escreveu e publicou um dos livros mais famosos da culinária norte-americana, adaptando as grandes receitas para as mulheres que não possuíam cozinheiras. Julie, que sempre gostou de cozinhar e era fã de Julia, resolve dar vidas às receitas em 365 dias, relatando tudo em seu blog.

As cômicas situações são costuradas de uma forma que Julia e Julie continuam as piadas e os momentos da outra. Detalhe, elas nunca se encontram, mas o roteiro consegue fazer com que haja uma continuidade das ações iniciadas por uma e terminadas pela outra. Um intenso e continuo ir e vir ao passado. Isso que dá graça e deixa o filme no ponto de consumir.

Gostaria de destacar mais uma parceria da dupla Meryl Streep e Amy Adams, que interpreta Julie. Tudo bem que elas não contracenam, mas gostei de vê-las novamente em um grande filme. O outro foi Dúvida, na qual Meryl interpretou a severa irmã Beauvier, e Amy a inocente irmã James. Não poderia ficar de fora a boa atuação de Stanley Tucci, que representa o marido de Julia e que já contracenou com Meryl em O Diabo Veste Prada.

E, para não fugir da regra, é praxe deste falar sobre a trilha sonora. Mas vou tecer apenas um comentário sobre a mesma. Foi muito bem casada a música Psycho Killer, do Taking Heads, com a cena em que Julie surta na cozinha quando vai cozinhar lagostas vivas. A música potencializou o aspecto cômico da voz na cabeça de Julia: assassina de lagosta!

PS: Uma dúvida além-filme: Amy Adams poderia ser irmã de Nicole Kidman?

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Tempo

Todos os dias quando acordo
Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo...
Tempo Perdido – Legião Urbana

Há pouco, pensando sobre o tempo, veio uma ideia de escrever. Mas, ao mesmo tempo, me veio a cabeça que eu já tinha escrito algo sobre o mesmo. Busquei no que já publiquei e nada achei. Está claro em minha mente que já redigi palavras sobre aquilo que mais buscamos (lembrei até do Pedro Bial na abertura do BBB 10). Utilizei a mesma foto que inseri ai do lado, a do quadro do Salvador Dali (A persistência da memória).

E enquanto fui buscando informações e trechos de música com a palavra Tempo, não é que ele passou e já mudou todo um raciocínio que tentaria falar sobre a falta de tempo. Mas, com um tempinho sobrando para algo mais idealizado, as idéias mudam, assim como os cabelos, a voz, os amores, os desamores ... O tempo passa. Ainda mais depois dos 25 anos. Ele simplesmente corre.

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára
O tempo não para – Cazuza

Resolvi ventilar o texto com trechos, não sei se tão bem casados, de tentativas de retratar o tempo, independente do sentido que ele tenha. Mas que seja uma reflexão para que tenhamos sempre tempo. Tempo para trabalhar, para amar, para brincar, para viver. Não importa se é por alguns segundos ou por vários dias. Tenhamos tempo para nós mesmos, seja em grupo, seja largado no sofá de casa.

A questão do tempo é tão interessante, que levei horas para chegar até este ponto. Trabalho, telefonemas, café, músicas. Tudo em um dia mais que produtivo. Dia com tempo para um pouco de tudo e um pouco de nada.

Tempo, tempo, tempo mano velho
Tempo, tempo, tempo mano velho
Vai, vai, vai, vai, vai, vai
Sobre o Tempo – Pato Fu

Agora, início de noite, olhei pela janela do trabalho e vi a mudança do tempo. Não tempo cronometrado, mas tempo meteorológico. O Rio 40º de Janeiro está um formo. É andar pela cidade e ser cozinhado ao mesmo tempo. Há os que se arriscam e ficam um tempo maior na exposição da figura ao sol e ao calor e adquirem o tom tostado, ops, dourado do verão. O problema é ficar tempo demais e virar um camarão, mas diferente do filme Distrito 9 (já postado aqui).

Voltando e sem querer tomar mais do seu precioso tempo, o céu mudou de cor. Saiu de um azul forte para um cinza chumbo e púrpura. Sinal de temporal no horizonte, que vem deslizando, com e sem pressa sobre as montanhas que compõem a paisagem carioca, e iluminando o início da noite. É um corram antes de cair o mundo em água. O negócio é o tempo de chegar em casa.

Espero que o tempo voe
Para que você retorne
Pra que eu possa te abraçar
E te beijar
De novo
N – Nando Reis

Mas o melhor é arranjar tempo para fazer o que gosta. Boa companhia. Bom vinho. Boa música. Bom beijo. Se bem que é melhor beijo bom. Ou vou além. O melhor é beijar. Então, arranje tempo para tal. Aun más se me lo ha dicho el viento (eres para mi), lo oigo todo el tiempo (eres para mi).

E por hoje é só, que quero aproveitar mais meu tempo.

Calma!
Tudo está em calma
Deixe que o beijo dure
Deixe que o tempo cure
Deixe que a alma
Tenha a mesma idade
Que a idade do céu...
A Idade do céu – Moska e Jorge Drexler

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Horizonte de um novo ano

Ao som da trilha sonora de um dos melhores filmes de 2009 (500 dias com ela, cujo post está mais abaixo), venho tentar tecer um post para este novo início de ano e, espero eu, um novo boom de posts neste blog. Não rolou de postar em dezembro pela carga de trabalho. Mas já quero estrear 2010 com um post descontraído e sem grandes pretensões, apenas para marcar o começo do ano.

Não esperem um balanço do ano anterior. Se quiserem ver, basta ler o que já inseri aqui. Claro que existem coisas novas e, até mesmo, antigas, mas que não serão abordadas. Quero é olhar para frente. O passado apenas sustenta meu novo olhar para o mundo. Novas expectativas começam a subir no horizonte. Viagens, shows, trabalhos, pessoas, amores, sabores. Tudo será vivido com intensidade. Bem, quase tudo, pois tudo é muita coisa.

O ano ainda começa preguiçoso, como o despertar do sol, com a claridade invadindo o quarto da vida. Mas já já estaremos em pleno meio dia e quando menos esperarmos, já estaremos apagando a luz de 2010 e acendendo a de 2011. Bem que me falaram que depois dos 25, tudo seria muito rápido. Mas nada de parar o mundo que eu quero descer. Vivamos essa intensidade que a vida nos mostra.

Não esqueçam que devemos sorrir para tudo, mesmo nos momentos de dor. Saibam que, os que partem, querem o nosso bem e que continuemos a nossa jornada. Fora que um sorriso no rosto é mais bonito que as lágrimas rolam e molham a face. Mas espero um ano sem dor, sem decepções, sem desavenças. Sejamos otimistas. Há tanta coisa para fazer, para ver. Deixemos o medo de lado, guardado no fundo da gaveta ou do guarda-roupa, e vivamos o esplendor de estarmos vivos e com N possibilidades ao nosso alcance. Basta querer. Eu quero!!!

PS: Me senti agora o personagem Caramelo, do blog de tirinhas Bichinhos de Jardim.