sábado, 21 de fevereiro de 2009

Crescer rejuvenescendo

A vida seria infinitamente mais feliz
se pudéssemos nascer aos 80 anos e
gradualmente chegar aos 18
Mark Twain

Já tinha lido soa um texto engraçado que fala de se nascer com 90 anos e ir regredindo. Nossa aposentadoria seria com o vigor de uma criança e morríamos em uma explosão de prazer. Recebi diversos e-mails ao longo desses últimos anos com essa teoria mágica e que te levava a refletir. Mas, deparei com uma visão poética disso tudo. Com um olhar que me permite hoje dizer que eu não gostaria de fazer isso.

Quem ainda não viu O curioso caso de Benjamin Button, de David Fincher, corra para os cinemas e passe a enxergar o mundo de outra forma. Creio que tudo aquilo é possível fazer em vida, desde que nunca deixemos morrer o nosso espírito juvenil, o nosso desejo de viver. Espero continuar impregnado de minha juventude, de minhas baterias de longa duração.

O filme narra a história de Benjamin, um bebê que nasceu velho numa Nova Orleans ao final da Primeira Grande Guerra. Do tamanho de qualquer recém-nascido, mas aparentando mais de 90 anos, Benjamin nasce com todas as doenças da velhice: artrite, catarata, reumatismo etc. Mas, ao crescer, ele vai rejuvenescendo. Sua calvicie regride, sua pela estica, o vigor juvenil retorna. Há potência naquele corpo que parecia carcomido pelo tempo.

Os questionamentos e aprendizados de ver quem se ama envelhecer e morrer e você ficar cada vez mais forte e jovem. Creio que é quase a mesma coisa de se estagnar em determinada idade e continuar assim para sempre. Até tinha comentando com uma amiga sobre isso, mas já penso que não deve ser tão legal ser eterno. Tem várias vantagens, mas a solidão e o sofrimento que o peso dos anos traz, não compensam.

Mas, voltando ao Benjamin, o jovem-velho-homem vive num asilo, onde fora abandonado pela família por ser uma aberração. Adotado por Queenie, uma serviçal, ele cresce em meio aos idosos e sempre com a história de estar doente, podendo morrer a qualquer minuto, como seus companheiros de casa. Aos 10 anos, ele conhece Daisy, o grande amor de sua vida. Ela é neta de uma das idosas que moram com ele. Mas apenas um homem entende o quão ele é diferente, o pigmeu Ngunda Oti .

Sentindo-se cada vez mais forte, Benjamin parte mundo a fora, explorando cada pedaço como um tripulante do rebocador do Capitão Mike, que em suas constantes bebedeiras, não percebe o quanto Benjamin regride no tempo. Primeira vez, Segunda Guerra, amores, decepções e encontro familiar. O pai de Ben, empresario de uma fábrica de botões, o procura após anos de penitência por ter abandonado o filho, quando prometera cuidar dele.

Mas, mesmo em suas longas ausências pelo mundo, Benjamin nunca esqueceu Daisy, que amara ao primeiro olhar. A linda garotinha ruiva agora era uma das melhores bailarinas. Saíra de Nova Orleans para Nova York, chegando a morar em Moscou e Paris. Porém, os infortunios da vida colocaram os dois frente à frente. Benjamin já é um Button quando isso ocorre, tendo herdado tudo o que fora de seu pai. A partir desse momento que o filme segue para seu clímax.

A narrativa emociona em vários momentos. As situações pelas quais Benjamin tem que passar, os percalços da vida, as questões, tudo isso se reflete em nosso cotidiano. A relação de pai e filho foi a que mais mexeu comigo. Sempre mexe. Qualquer filme com essa temática já tem um nó certo em minha garganta (que o diga Peixe Grande).

Mas fiquei mesmo pasmo com a parte técnica do filme: direção de arte, iluminação, efeitos especiais, maquiagem, fotografia. Creio que todos estudaram o Barroco para o filme. Ele começa escuro, enche-se de luz, e volta a ser escuro. Tal e qual como é a vida. No início, não sabemos o que há. Ainda estamos na escuridão da ignorância. Depois, tomamos o banho de luz do conhecimento e viajamos em tudo que nos cerca. Sabemos que enxergamos longe. Depois, a escuridão retorna com o receio de se expor e com o medo de não ser mais capaz de fazer aquilo que mais amávamos na vida.

O jogo das sombras para ajudar na manipulação do tempo foi genial. Em vários momentos, do início ao fim, Benjamin e Daisy não encaram as câmeras. Tudo é indireto. Olhares, posições, luz. Sempre uma luz dourada. Luz branca apenas na plenitude de uma vida cheia de sonhos e realizações do momento em que se encontram na mesma idade.

Ah, antes que me esqueça. O filme é uma narração do momento da morte de Daisy, fazendo com que sua filha Caroline conheça a história de seu grande amor Benjamin. O que mais me impressionou isso é que a narração se dá no leito de um hospital no dia que o Katrina devastou Nova Orleans.



Boa noite, Benjamin. Boa noite, Daisy.

Nenhum comentário: