A vida seria infinitamente mais feliz
se pudéssemos nascer aos 80 anos e
gradualmente chegar aos 18
Mark Twain
se pudéssemos nascer aos 80 anos e
gradualmente chegar aos 18
Mark Twain
Já tinha lido soa um texto engraçado que fala de se nascer com 90 anos e ir regredindo. Nossa aposentadoria seria com o vigor de uma criança e morríamos em uma explosão de prazer. Recebi diversos e-mails ao longo desses últimos anos com essa teoria mágica e que te levava a refletir. Mas, deparei com uma visão poética disso tudo. Com um olhar que me permite hoje dizer que eu não gostaria de fazer isso.
Quem ainda não viu O curioso caso de Benjamin Button, de David Fincher, corra para os cinemas e passe a enxergar o mundo de outra forma. Creio que tudo aquilo é possível fazer em vida, desde que nunca deixemos morrer o nosso espírito juvenil, o nosso desejo de viver. Espero continuar impregnado de minha juventude, de minhas baterias de longa duração.O filme narra a história de Benjamin, um bebê que nasceu velho numa Nova Orleans ao final da Primeira Grande Guerra. Do tamanho de qualquer recém-nascido, mas aparentando mais de 90 anos, Benjamin nasce com todas as doenças da velhice: artrite, catarata, reumatismo etc. Mas, ao crescer, ele vai rejuvenescendo. Sua calvicie regride, sua pela estica, o vigor juvenil retorna. Há potência naquele corpo que parecia carcomido pelo tempo.
Os questionamentos e aprendizados de ver quem se ama envelhecer e morrer e você ficar cada vez mais forte e jovem. Creio que é quase a mesma coisa de se estagnar em determinada idade e continuar assim para sempre. Até tinha comentando com uma amiga sobre isso, mas já penso que não deve ser tão legal ser eterno. Tem várias vantagens, mas a solidão e o sofrimento que o peso dos anos traz, não compensam.
Mas, voltando ao Benjamin, o jovem-velho-homem vive num asilo, onde fora abandonado pela família por ser uma aberração. Adotado por Queenie, uma serviçal, ele cresce em meio aos idosos e sempre com a história de estar doente, podendo morrer a qualquer minuto, como seus companheiros de casa. Aos 10 anos, ele conhece Daisy, o grande amor de sua vida. Ela é neta de uma das idosas que moram com ele. Mas apenas um homem entende o quão ele é diferente, o pigmeu Ngunda Oti .Sentindo-se cada vez mais forte, Benjamin parte mundo a fora, explorando cada pedaço como um tripulante do rebocador do Capitão Mike, que em suas constantes bebedeiras, não percebe o quanto Benjamin regride no tempo. Primeira vez, Segunda Guerra, amores, decepções e encontro familiar. O pai de Ben, empresario de uma fábrica de botões, o procura após anos de penitência por ter abandonado o filho, quando prometera cuidar dele.
Mas, mesmo em suas longas ausências pelo mundo, Benjamin nunca esqueceu Daisy, que amara ao primeiro olhar. A linda garotinha ruiva agora era uma das melhores bailarinas. Saíra de Nova Orleans para Nova York, chegando a morar em Moscou e Paris. Porém, os infortunios da vida colocaram os dois frente à frente. Benjamin já é um Button quando isso ocorre, tendo herdado tudo o que fora de seu pai. A partir desse momento que o filme segue para seu clímax.
A narrativa emociona em vários momentos. As situações pelas quais Benjamin tem que passar, os percalços da vida, as questões, tudo isso se reflete em nosso cotidiano. A relação de pai e filho foi a que mais mexeu comigo. Sempre mexe. Qualquer filme com essa temática já tem um nó certo em minha garganta (que o diga Peixe Grande).
Mas fiquei mesmo pasmo com a parte técnica do filme: direção de arte, iluminação, efeitos especiais, maquiagem, fotografia. Creio que todos estudaram o Barroco para o filme. Ele começa escuro, enche-se de luz, e volta a ser escuro. Tal e qual como é a vida. No início, não sabemos o que há. Ainda estamos na escuridão da ignorância. Depois, tomamos o banho de luz do conhecimento e viajamos em tudo que nos cerca. Sabemos que enxergamos longe. Depois, a escuridão retorna com o receio de se expor e com o medo de não ser mais capaz de fazer aquilo que mais amávamos na vida.O jogo das sombras para ajudar na manipulação do tempo foi genial. Em vários momentos, do início ao fim, Benjamin e Daisy não encaram as câmeras. Tudo é indireto. Olhares, posições, luz. Sempre uma luz dourada. Luz branca apenas na plenitude de uma vida cheia de sonhos e realizações do momento em que se encontram na mesma idade.
Ah, antes que me esqueça. O filme é uma narração do momento da morte de Daisy, fazendo com que sua filha Caroline conheça a história de seu grande amor Benjamin. O que mais me impressionou isso é que a narração se dá no leito de um hospital no dia que o Katrina devastou Nova Orleans.

Boa noite, Benjamin. Boa noite, Daisy.
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