terça-feira, 3 de novembro de 2009

Somos superficiais

Se as meninas do Leblon não olham
mais para mim, eu uso óculos.
Óculos – Paralamas do Sucesso


Que a humanidade vive na Era das Aparências ninguém duvida. Mas a que ponto chegamos em uma sociedade de discrimina os diversos nichos visuais, criando e ratificando estereótipos? Essa segregação é vista em qualquer ambiente social: na praia, no shopping, na noite e, até mesmo, no trabalho. Incrível a necessidade que temos de viver de aparências e modismos.

O culto ao corpo é exacerbado e reforçado a cada dia por campanhas midiáticas fortes, onde somente o belo é glorificado. Concordo que não há nada como admirar a beleza, mas apegar-se que ela é fundamental é o prejuízo que trazemos para a marginalização do que não é tão belo, do que é real, ou mesmo, do que é diferente daquilo que estamos acostumados.

Admiro as campanhas publicitárias que valorizam o corpo natural, seja com uma barriguinha, umas celulites (até porque não se tem uma só), um cabelo cacheado. Cada vez mais o mundo estético tem acordado para a beleza natural. Cuidar do corpo é para uma vida saudável, não para se exibir frente aos outros.

A Unilever, dona dos produtos Dove, faz uma campanha pela real beleza, seja por uma papada, por um cabelo mais seco, seja por um braço rechonchudo. É esse mundo que devemos buscar: o real. O cinema começou a se render a isso. Durante a Mostra de Cinema de São Paulo, alguns filmes suecos traziam atores com outro tipo de beleza e em papeis de destaque. Não ficaram rotulados para elenco de apoio. Ganharam seu espaço pela capacidade de atuação e não por uma barriga tanquinho.


Campanha Pela Real Beleza


Outro dia, li uma matéria sobre a repercussão de uma foto da modelo Lizzie Miller, de 20 anos, em umas das mais conceituadas revistas de moda americana, a Glamour, em que ela aparecia desnuda e com uma saliente barriguinha. E as mensagens não foram condenando a foto, mas sim de mulheres parabenizando a revista e a modelo. Muitas começaram a se sentir valorizadas por se identificaram naquelas páginas, o que seria um começo de espaço nessa sociedade segregacionista. Elas se sentiram valorizadas pela primeira vez.

Mas me pergunto se isso é o começo do fim da ditadura da beleza. Ainda há massividade no reforço ao estereótipo do corpo perfeito, com incremento pela falsa idéia de que roupas de marca valorizam ainda mais o indivíduo. Isso é mais que perceptível. Sempre te olham torto por não identificarem de que grife é a roupa que você está usando ou se não está com o corte de cabelo da moda. A discriminação passa da física para a social, onde muitos criam dívidas para estar na moda.

Muitas vezes, para que nos sintamos bem com nosso estilo próprio de ser e de vestir, temos que recorrer a guetos e ficar marginalizado da sociedade preconceituosa. Hipocrisia dizer que isso não ocorre. E maior ainda que não temos as mesmas atitudes, já que esses espaços são tão fechados que quem chega sendo diferente dele também é alvo do preconceito.

Devemos buscar a melhor forma de nos sentirmos bem com nosso corpo e mente. Não discriminar quem procurar malhar o corpo em vez da mente e vice-versa. E não é papo para incrementar a briga entre os “nichos”. Não há porque rotular dessa forma também. Devemos buscar o equilíbrio entre ambos e aceitar, de uma vez por todas, que há beleza na diferença. Que não faz mal sair de óculos para uma boate, de exibir uma barriga e celulites na praia, de um corpo belo e torneado frequentar ambientes undergrounds e pseudocults.

Enfim, temos que acabar com a superficialidade ditada em nossa sociedade e com a hipocrisia que não segregamos. O Apartheid visual é grande e não está perto do fim. Ainda medimos as pessoas da cabeça aos pés e fazemos a cara de desdém, sem sequer, darmos uma chance de conhecer uma pessoa ótima para se conviver. Temos que nos sentir bem com o que somos. E a cada dia que passa, concordo menos com o verso de Vinícius de Moraes: as feias que me perdoem, mas beleza é fundamental.

Um comentário:

o Nobre disse...

Como achei que o texto ficou muito longo e não quis reeditá-lo, achei melhor adicionar um comentário. O pior disso tudo é que muitas vezes não nos sentimos bem com a gente mesmo porque pensamos no que o outro vai avaliar sobre nosso corpo. Corremos então para dietas e exercícios simplesmente para agradar ao outro e não a nós mesmos. Até que ponto isso é válido, quando não importamos nem para o que sentimos.