quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
Entre confetes e serpentinas
Passado o carnaval, todos falamos do Oscar. Mentira. Não se ouviu um comentário nesta cidade sobre as estatuetas. O único que vi foi um cara travestido de Kate Winslet. Nada mais. Nem fantasia dourada foi usada nas ruas de uma cidade que passou a reinventar o carnaval de rua.
Sim. Milhares de pessoas tomando conta do asfalto e do concreto da Cidade Maravilhosa. Todos se renderam. Ou melhor, quase todos. Há quem não goste de folia. Sorte dos que gostam, pois são maioria. Maioria esta que pulava animadamente atrás de qualquer batuque. Valia até o teto do metrô.
Não dá para dizer qual o melhor bloco, o melhor momento. Afinal, foram 10 blocos em uma “pequena” área da cidade. Consegui me concentrar em apenas uma banda da Zona Sul, e foi aquela que se estendia para o Centro. Grandes blocos. Grande folia. Não tenho idéia de como estava o outro lado do morro. Passei longe. Fui longe.
Minha surpresa foi encontrar rostos inesperados em diversos momentos. Hiláááááário. As fantasias então. Alguns estavam irreconhecíveis. Mas a diversão foi garantida. Ainda mais com uma loira gelaaaaada. No calor que fez, foi a única coisa capaz de esfriar um corpo, além do afanar das pedras de gelos dos ambulantes que teimavam em se infiltrar e atrapalhar os blocos.
Mas queria terminar este post com um pequeno protesto. A alegria estava espalhada, mas muita gente não sabe ainda que tem que saber brincar para descer para o play. Não é porque colocou uma fantasia que já pode chegar bem. Tem que entrar no espírito, ainda mais se for querer seguir bloco com empurra-empurra. Não rola reclamar de pisão no pé, de empurrão. Se for fazer isso, pode colocar o rabinho entre as pernas e tomar o rumo de casa. Aluga um DVD.
Quantas confusões bobas eu vi e senti por causa de uma casualidade e fatalidade de bloco. Multidão dá nisso. Quase apanhei em um bloco. Vi uma amiga ser empurrada injustamente em outro. Fora um troglodita que tentou começar uma briga num lugar de festa e levou uma bela direita no nariz e uma cervejada no quengo. Doeu até em mim.
Então, sigam o conselho para o ano que vem e esqueçam os sentimentos de confusão em casa. Carnaval é para festejar. Pular, cantar, dançar. Se for sentir dor, que seja pelo cansaço das pernas ou por um escorregão no chão molhado. Vale até pisão no pé. O negócio é relevar.
domingo, 22 de fevereiro de 2009
Esperança materna
Semana cheia de filmes dá nisso, três resenhas seguidas. Na verdade, foram quatro, se contarmos que há uma sobre um documentário e show, todos os dois no mesmo dia. Creio que me empolguei, pois fazia um tempo que não curtia um momento tão bom: idas ao cinema várias vezes. O melhor de tudo numa companhia que adoro: a minha. Por incrível que pareça, minhas últimas idas ao cinema tem sido assim, mas não me sinto solitário. Sei que tenho amigos cinéfilos que sempre aceitam um convite, caso não tenham ainda visto o filme selecionado.
Mas estive mais que determinado a ver A troca, de Clint Eastwood. Baseado em uma história real, o filme narra o desaparecimento de Walter Collins, um garoto de oito anos que sumiu em 1928. Abandonado por seu pai às vésperas do nascimento, o garoto morava com a mãe, Christine, uma supervisora do serviço de telefonia de Los Angeles. Um dia, ela chega do trabalho e seu filho não está mais em casa. No desespero de qualquer mãe, ela liga para a polícia e começa o desenrolar da trama.
Cinco meses se passam e a corrupta polícia de LA apresenta outra criança como sendo Walter. Christine inicia, nesse ponto, sua batalha contra um sistema que se utiliza de violencia e artificios para ficar “bem” com a imprensa. Ainda mais com as denuncias do pastor presbiteriano Gustav Briegleb, em seu programa de radio, sobre como agem os policiais do LAPD (Los Angeles Police Departament). Tudo tem um peso político.
O enfrentamento ao sistema leva Christine à internação forçada, para que ela não enfrente à policia, principalmente o Capitão J.J. Jones. No sanatório, ela conhece uma prostituta que explica como funciona todo o esquema de quem tenta enfrentá-los. O código 12 é sinônimo de injustiça. Sua nova amiga dá as dicas de como ela deve se comportar para não enlouquecer de vez.
A reviravolta ocorre com a deportação de um garoto de 12 anos para o Canadá, que muda todo o rumo das investigações. Isso tudo leva à libertação de Christine e ao clímax do filme.
Uma coisa que me encantou na história é que ela não é nada piegas, como muito podem pensar: mais um filme sobre uma mãe procurando um filho desaparecido. Não sei se o charmoso período dos anos 20/30 contribui para essa visão, mas a história é cheia de esperança. A atuação de Angelina Jolie como a sofrida Christine é estonteante. Seus olhos e seu olhar são fundamentais para a caracterização da personagem. Não é à toa que a moça foi merecidamente indicada ao Oscar de Melhor Atriz (não vi os outros filmes para comparar).
Os aspectos técnicos não me chamaram tanto a atenção. Creio que todo filme de época possui destaque para a direção de arte, tanto que há uma indicação, mas esse não me empolgou como em O curioso caso de Benjamin Button, de David Fincher. A fotografia e a direção de arte são ótimas, mas não acho que sejam páreas para o filme com Brad Pitt.
Creio que o filme foi muito bem construído. Você não sente o tempo passar. Não é cansativo. Ele prende sua atenção. Chama para a história. Até quando ela mostra o seu lado mais brutal e macabro. O enojar é natural. A revolta faz parte do ser humano. Dera que o ato de revoltar não causasse mais mazelas, principalmente aumentando a negligência ou o senso de justiça com as próprias mãos.
Olhos da esperança
Mas estive mais que determinado a ver A troca, de Clint Eastwood. Baseado em uma história real, o filme narra o desaparecimento de Walter Collins, um garoto de oito anos que sumiu em 1928. Abandonado por seu pai às vésperas do nascimento, o garoto morava com a mãe, Christine, uma supervisora do serviço de telefonia de Los Angeles. Um dia, ela chega do trabalho e seu filho não está mais em casa. No desespero de qualquer mãe, ela liga para a polícia e começa o desenrolar da trama.
Cinco meses se passam e a corrupta polícia de LA apresenta outra criança como sendo Walter. Christine inicia, nesse ponto, sua batalha contra um sistema que se utiliza de violencia e artificios para ficar “bem” com a imprensa. Ainda mais com as denuncias do pastor presbiteriano Gustav Briegleb, em seu programa de radio, sobre como agem os policiais do LAPD (Los Angeles Police Departament). Tudo tem um peso político.
O enfrentamento ao sistema leva Christine à internação forçada, para que ela não enfrente à policia, principalmente o Capitão J.J. Jones. No sanatório, ela conhece uma prostituta que explica como funciona todo o esquema de quem tenta enfrentá-los. O código 12 é sinônimo de injustiça. Sua nova amiga dá as dicas de como ela deve se comportar para não enlouquecer de vez.
A reviravolta ocorre com a deportação de um garoto de 12 anos para o Canadá, que muda todo o rumo das investigações. Isso tudo leva à libertação de Christine e ao clímax do filme.
Uma coisa que me encantou na história é que ela não é nada piegas, como muito podem pensar: mais um filme sobre uma mãe procurando um filho desaparecido. Não sei se o charmoso período dos anos 20/30 contribui para essa visão, mas a história é cheia de esperança. A atuação de Angelina Jolie como a sofrida Christine é estonteante. Seus olhos e seu olhar são fundamentais para a caracterização da personagem. Não é à toa que a moça foi merecidamente indicada ao Oscar de Melhor Atriz (não vi os outros filmes para comparar).
Os aspectos técnicos não me chamaram tanto a atenção. Creio que todo filme de época possui destaque para a direção de arte, tanto que há uma indicação, mas esse não me empolgou como em O curioso caso de Benjamin Button, de David Fincher. A fotografia e a direção de arte são ótimas, mas não acho que sejam páreas para o filme com Brad Pitt.
Creio que o filme foi muito bem construído. Você não sente o tempo passar. Não é cansativo. Ele prende sua atenção. Chama para a história. Até quando ela mostra o seu lado mais brutal e macabro. O enojar é natural. A revolta faz parte do ser humano. Dera que o ato de revoltar não causasse mais mazelas, principalmente aumentando a negligência ou o senso de justiça com as próprias mãos.
Olhos da esperança
sábado, 21 de fevereiro de 2009
Crescer rejuvenescendo
A vida seria infinitamente mais feliz
se pudéssemos nascer aos 80 anos e
gradualmente chegar aos 18
Mark Twain
se pudéssemos nascer aos 80 anos e
gradualmente chegar aos 18
Mark Twain
Já tinha lido soa um texto engraçado que fala de se nascer com 90 anos e ir regredindo. Nossa aposentadoria seria com o vigor de uma criança e morríamos em uma explosão de prazer. Recebi diversos e-mails ao longo desses últimos anos com essa teoria mágica e que te levava a refletir. Mas, deparei com uma visão poética disso tudo. Com um olhar que me permite hoje dizer que eu não gostaria de fazer isso.
Quem ainda não viu O curioso caso de Benjamin Button, de David Fincher, corra para os cinemas e passe a enxergar o mundo de outra forma. Creio que tudo aquilo é possível fazer em vida, desde que nunca deixemos morrer o nosso espírito juvenil, o nosso desejo de viver. Espero continuar impregnado de minha juventude, de minhas baterias de longa duração.
O filme narra a história de Benjamin, um bebê que nasceu velho numa Nova Orleans ao final da Primeira Grande Guerra. Do tamanho de qualquer recém-nascido, mas aparentando mais de 90 anos, Benjamin nasce com todas as doenças da velhice: artrite, catarata, reumatismo etc. Mas, ao crescer, ele vai rejuvenescendo. Sua calvicie regride, sua pela estica, o vigor juvenil retorna. Há potência naquele corpo que parecia carcomido pelo tempo.
Os questionamentos e aprendizados de ver quem se ama envelhecer e morrer e você ficar cada vez mais forte e jovem. Creio que é quase a mesma coisa de se estagnar em determinada idade e continuar assim para sempre. Até tinha comentando com uma amiga sobre isso, mas já penso que não deve ser tão legal ser eterno. Tem várias vantagens, mas a solidão e o sofrimento que o peso dos anos traz, não compensam.
Mas, voltando ao Benjamin, o jovem-velho-homem vive num asilo, onde fora abandonado pela família por ser uma aberração. Adotado por Queenie, uma serviçal, ele cresce em meio aos idosos e sempre com a história de estar doente, podendo morrer a qualquer minuto, como seus companheiros de casa. Aos 10 anos, ele conhece Daisy, o grande amor de sua vida. Ela é neta de uma das idosas que moram com ele. Mas apenas um homem entende o quão ele é diferente, o pigmeu Ngunda Oti .
Sentindo-se cada vez mais forte, Benjamin parte mundo a fora, explorando cada pedaço como um tripulante do rebocador do Capitão Mike, que em suas constantes bebedeiras, não percebe o quanto Benjamin regride no tempo. Primeira vez, Segunda Guerra, amores, decepções e encontro familiar. O pai de Ben, empresario de uma fábrica de botões, o procura após anos de penitência por ter abandonado o filho, quando prometera cuidar dele.
Mas, mesmo em suas longas ausências pelo mundo, Benjamin nunca esqueceu Daisy, que amara ao primeiro olhar. A linda garotinha ruiva agora era uma das melhores bailarinas. Saíra de Nova Orleans para Nova York, chegando a morar em Moscou e Paris. Porém, os infortunios da vida colocaram os dois frente à frente. Benjamin já é um Button quando isso ocorre, tendo herdado tudo o que fora de seu pai. A partir desse momento que o filme segue para seu clímax.
A narrativa emociona em vários momentos. As situações pelas quais Benjamin tem que passar, os percalços da vida, as questões, tudo isso se reflete em nosso cotidiano. A relação de pai e filho foi a que mais mexeu comigo. Sempre mexe. Qualquer filme com essa temática já tem um nó certo em minha garganta (que o diga Peixe Grande).
Mas fiquei mesmo pasmo com a parte técnica do filme: direção de arte, iluminação, efeitos especiais, maquiagem, fotografia. Creio que todos estudaram o Barroco para o filme. Ele começa escuro, enche-se de luz, e volta a ser escuro. Tal e qual como é a vida. No início, não sabemos o que há. Ainda estamos na escuridão da ignorância. Depois, tomamos o banho de luz do conhecimento e viajamos em tudo que nos cerca. Sabemos que enxergamos longe. Depois, a escuridão retorna com o receio de se expor e com o medo de não ser mais capaz de fazer aquilo que mais amávamos na vida.
O jogo das sombras para ajudar na manipulação do tempo foi genial. Em vários momentos, do início ao fim, Benjamin e Daisy não encaram as câmeras. Tudo é indireto. Olhares, posições, luz. Sempre uma luz dourada. Luz branca apenas na plenitude de uma vida cheia de sonhos e realizações do momento em que se encontram na mesma idade.
Ah, antes que me esqueça. O filme é uma narração do momento da morte de Daisy, fazendo com que sua filha Caroline conheça a história de seu grande amor Benjamin. O que mais me impressionou isso é que a narração se dá no leito de um hospital no dia que o Katrina devastou Nova Orleans.
Boa noite, Benjamin. Boa noite, Daisy.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Inocencia no olhar
Domingo. Cansaço. Preguiça de sair para comer. Calor do lado de fora. Calor do lado de dentro. Internet. Pesquisa sobre filmes em cartaz. Vontade de uma boa comédia. Mas a surpresa salta aos olhos ao ler, em negrito, o nome de um filme que há muito queria ver e que o horário impossibilitava de ir durante a semana.
Sai de casa, almocei e atravessei a rua. Boa tarde, uma meia, por favor. Obrigado. Olhei no relógio e vi que iria esperar um bom tempo. Locadora, banco, pessoas. Começa uma tímida fila. Pelo menos eu já estava nela, até porque a sala era pequena.
Entrei, sentei, luz, câmera, ação. Começava ali um dos filmes mais tristes que já vi. Sempre fui tocado pela temática do Holocausto. Creio que procuro tentar entender como o homem foi capaz de tamanha atrocidade com seu semelhante. A coisa é sempre muito chocante. E ali, na minha frente, a telona me mostrava mais uma vez isso. O menino de pijama listrado traz a história de Bruno, filho de um grande oficial do exército alemão, que muda para o interior da Alemanha e descobre um campo de concentração no “quintal” de casa. Ao explorar os arredores, ele conhece Shmuel, um judeu de oito anos que está do outro lado da cerca.
A amizade desenvolve-se por ali, através do arama farpado e eletrocutado. Bruno, nos seus oito anos, tenta entender aquilo. Seu amigo sabe bem, mas ele, embebido de uma pura inocência, não vê o horror de um campo de concentração. Seu pai, oficial responsável pelo CC, é seu herói, detentor de sua admiração. Mas Bruno não consegue entender as proibições de sua mãe. Ela sabe o que foram fazer ali, mas choca-se ao descobrir o que é feito lá. E o filme vai atingindo seu clímax.
A forma como o diretor Mark Herman mostra as atrocidades cometidas pelos nazistas contra o povo judeu é de uma sutileza impressionante. Nada é exposto. Tudo velado, mas que não precisa mais do que aquilo para chocar. O filme se torna tão denso e tão leve ao mesmo tempo, que este paradoxo te prende. Não há como desgrudar os olhos da tela. A suavidade dos diálogos e das cenas surpreende. E muito é conduzido pelo olhar dos personagens. As transformações estão ali. Principalmente atrás dos belos olhos azuis do pequeno Bruno.
Os aspectos técnicos também de me chamaram a atenção. Fiquei encantado com a fotografia. Sempre busco olhar este quesito. Ela vai do colorido inocente ao cinza da mazela humana. A fronteira entre os dois é tênue. Apenas a cerca cinza e brilhante.
PS: Fiquei impressionado como a Vera Farmiga lembra a Cate Blanchett.
Sai de casa, almocei e atravessei a rua. Boa tarde, uma meia, por favor. Obrigado. Olhei no relógio e vi que iria esperar um bom tempo. Locadora, banco, pessoas. Começa uma tímida fila. Pelo menos eu já estava nela, até porque a sala era pequena.
Entrei, sentei, luz, câmera, ação. Começava ali um dos filmes mais tristes que já vi. Sempre fui tocado pela temática do Holocausto. Creio que procuro tentar entender como o homem foi capaz de tamanha atrocidade com seu semelhante. A coisa é sempre muito chocante. E ali, na minha frente, a telona me mostrava mais uma vez isso. O menino de pijama listrado traz a história de Bruno, filho de um grande oficial do exército alemão, que muda para o interior da Alemanha e descobre um campo de concentração no “quintal” de casa. Ao explorar os arredores, ele conhece Shmuel, um judeu de oito anos que está do outro lado da cerca.
A amizade desenvolve-se por ali, através do arama farpado e eletrocutado. Bruno, nos seus oito anos, tenta entender aquilo. Seu amigo sabe bem, mas ele, embebido de uma pura inocência, não vê o horror de um campo de concentração. Seu pai, oficial responsável pelo CC, é seu herói, detentor de sua admiração. Mas Bruno não consegue entender as proibições de sua mãe. Ela sabe o que foram fazer ali, mas choca-se ao descobrir o que é feito lá. E o filme vai atingindo seu clímax.
A forma como o diretor Mark Herman mostra as atrocidades cometidas pelos nazistas contra o povo judeu é de uma sutileza impressionante. Nada é exposto. Tudo velado, mas que não precisa mais do que aquilo para chocar. O filme se torna tão denso e tão leve ao mesmo tempo, que este paradoxo te prende. Não há como desgrudar os olhos da tela. A suavidade dos diálogos e das cenas surpreende. E muito é conduzido pelo olhar dos personagens. As transformações estão ali. Principalmente atrás dos belos olhos azuis do pequeno Bruno.
Os aspectos técnicos também de me chamaram a atenção. Fiquei encantado com a fotografia. Sempre busco olhar este quesito. Ela vai do colorido inocente ao cinza da mazela humana. A fronteira entre os dois é tênue. Apenas a cerca cinza e brilhante.
PS: Fiquei impressionado como a Vera Farmiga lembra a Cate Blanchett.
Vera e Cate
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Moeda
A expressão “dois lados de uma mesma moeda” serve, muitas vezes, para falar sobre o contraponto de uma única coisa ou fato. A busca pelos ângulos que mostrem a tentativa da verdade. Até porque a verdade é relativa e depende de quem a vê. Não que se vá mentir de cara, mas você tem apenas um ângulo. Precisa dos outros para chegar nos 360º que compõe o fato, a coisa.
E foi a partir daí que comecei a refletir, um tempinho atrás, sobre várias questões que permeiam o relacionamento entre os seres humanos. Por algumas vezes, relatei coisas do tipo aqui. Sempre o um e o outro.
O outro? Para mim, é cada vez mais místico esse outro. Fico sempre a espreita da reação perante determinado fato. Ou mesmo ausente (na maioria dos casos). Na busca incessante de um para ter o outro por perto. O Paulinho Moska (meu mestre e senhor da filosofia humana) canta que “um fala e o outro escuta”. Um e outro são complementos de algo único, assim como a cara completa a coroa da moeda. São dois lados de um único objeto.
Relações de amizades devem ser assim. A busca pela companhia deve vir dos dois lados. Por que só um lado procura? Apenas ele se vê como amigo/ companheiro/ parceiro? Por que o espanto do outro quando o um se espanta com a presença dele? As questões seguiriam linhas abaixo. Mas, para quê? O essencial já passou.
Mas termino com uma pergunta: até que ponto vale continuar investindo em algo que não se tem retorno? Isso mesmo. Retorno. Ninguém quer só passar adiante, quer receber também. Isso é uma troca. Isso é a moeda. Moeda é troca. Troca-se cara por coroa.
E foi a partir daí que comecei a refletir, um tempinho atrás, sobre várias questões que permeiam o relacionamento entre os seres humanos. Por algumas vezes, relatei coisas do tipo aqui. Sempre o um e o outro.
O outro? Para mim, é cada vez mais místico esse outro. Fico sempre a espreita da reação perante determinado fato. Ou mesmo ausente (na maioria dos casos). Na busca incessante de um para ter o outro por perto. O Paulinho Moska (meu mestre e senhor da filosofia humana) canta que “um fala e o outro escuta”. Um e outro são complementos de algo único, assim como a cara completa a coroa da moeda. São dois lados de um único objeto.
Relações de amizades devem ser assim. A busca pela companhia deve vir dos dois lados. Por que só um lado procura? Apenas ele se vê como amigo/ companheiro/ parceiro? Por que o espanto do outro quando o um se espanta com a presença dele? As questões seguiriam linhas abaixo. Mas, para quê? O essencial já passou.
Mas termino com uma pergunta: até que ponto vale continuar investindo em algo que não se tem retorno? Isso mesmo. Retorno. Ninguém quer só passar adiante, quer receber também. Isso é uma troca. Isso é a moeda. Moeda é troca. Troca-se cara por coroa.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Uma noite, muitas coisas - Parte II
Dando continuidade ao post anterior, quando quis escrever mais e vi que estava fazendo um conto, venho modestamente tentar resenhar um filme e falar de comportamentos.
Fumando espero
Quando estive no Morro da Urca para o show da Ana Carolina, a programação da noite incluía a pré-estreia de um filme, uma apresentação-aquecimento, o show principal e um DJ para finalizar a noite.
Cheguei cedo, sentei-me em uma das cadeiras de praia e consegui pegar o começo do filme Fumando espero, de Adriana Dutra. O roteiro é bem simples. É um documentário sobre a(s) tentativa(s) frustrada(s) de parar de fumar. Depoimentos de pessoas famosas e de médicos sobre o processo quase traumático de largar o cigarro. Muitos são fumantes. Há os ex-fumantes. E, claro, os nunca-fumantes.
A Adriana conseguiu tratar o assunto de forma humorada, sem cansar o espectador. Linguagem leve. Uso de animações. Tudo para compor um filme que tinha tudo para não ser interessante. Ela mesma virou personagem. Utilizou-se para mostrar como funciona o processo de para de fumar. Consultas gravadas, cara e bocas, frustrações, crises de abstinência.
A narrativa ganhou um tom leve e descontraído que não chocava. Ela mostrou os males do cigarro sem imagens fortes. O que prevalecia era o depoimento. Atores, médicos, jornalistas, combatentes do fumo, plantadores de fumo. E a legenda sempre informando o status do relacionamento com o tabaco.
O filme começou a ser rodado em 2006, mas saiu bem atualizado. Todos os dados estavam bem embasados. Depoimentos francos e cômicos. Relatos tristes de quem se deu mal pelo cigarro ou se viu numa situação de semi-escravidão pelo fato de depender do fumo para viver. E creio que quem já deu suas tragadas por ai deve ter parado para repensar se vale a pena continuar.
Comportamento em pré-estreia
Assusta-me o comportamento de algumas pessoas em pré-estreia. Começam a cantar numa música do filme, batem palmas no meio, questionam. Isso se intensifica quando é um documentário.
Como há uma moda de jogar sapatos nas pessoas, eu quase entrei para o grupo dos que jogam. Um senhor, sentando duas fileiras a frente, fumante, aproveitou o cinema ao ar livre para suas baforadas e comentários sobre o filme. Batia palmas para os defensores do cigarro e vaiava os que eram contra. Falava alto. Incomodava. Muitos fizeram “shiiiii” para ele, mas dava de ombros e seguia com seu alto teor alcoólico a manifestar-se durante o filme.
Engraçado que essa não foi a primeira vez que eu percebi tal comportamento. Mas é sempre em pré-estreia. Já fui em varias e também vivo nas salas de cinema. Fácil notar tal mudança. Creio que quem faz isso que aparecer mais que o filme ou que o diretor ou os atores. Se for assim, que se pintem de vermelho e pendurem uma melancia no pescoço.
Curiosidade da noite
Nunca me passou pela cabeça que um casal terminaria o namoro no meio de um show romântico. E o motivo sendo o melhor lugar para ver o show. Dois teimosos brigando para ver quem enxergaria a Ana Carolina no palco. O detalhe é que ambos estavam no alto.
Achei meio sem noção. Pior que a menina era a mais sem noção. Ela gritou que tinham terminado, pedia para o cara não tocá-la e continuava do lado dele, de cabeça baixa e chorando. Quando ele ia falar com ela, ela se sacudia batendo nas pessoas (em mim, inclusive) e gritava que tudo tinha acabado. Parecia até o Galvão Bueno na final da Copa do Mundo de 94.
Claro que isso não foi o motivo. Deve ter sido a gota d’água para um casal intransigente e com a relação gasta pela teimosia e disputa dos dois para ver quem manda na relação. Qualquer “Freud” saberia analisar aqueles dois pelas poucas coisas que demonstraram em público. Ainda mais em um lugar cheio. Se não queriam multidão, deveriam ter investido o valor dos ingressos em DVDs.
Fumando espero
Quando estive no Morro da Urca para o show da Ana Carolina, a programação da noite incluía a pré-estreia de um filme, uma apresentação-aquecimento, o show principal e um DJ para finalizar a noite.
Cheguei cedo, sentei-me em uma das cadeiras de praia e consegui pegar o começo do filme Fumando espero, de Adriana Dutra. O roteiro é bem simples. É um documentário sobre a(s) tentativa(s) frustrada(s) de parar de fumar. Depoimentos de pessoas famosas e de médicos sobre o processo quase traumático de largar o cigarro. Muitos são fumantes. Há os ex-fumantes. E, claro, os nunca-fumantes.
A Adriana conseguiu tratar o assunto de forma humorada, sem cansar o espectador. Linguagem leve. Uso de animações. Tudo para compor um filme que tinha tudo para não ser interessante. Ela mesma virou personagem. Utilizou-se para mostrar como funciona o processo de para de fumar. Consultas gravadas, cara e bocas, frustrações, crises de abstinência.
A narrativa ganhou um tom leve e descontraído que não chocava. Ela mostrou os males do cigarro sem imagens fortes. O que prevalecia era o depoimento. Atores, médicos, jornalistas, combatentes do fumo, plantadores de fumo. E a legenda sempre informando o status do relacionamento com o tabaco.
O filme começou a ser rodado em 2006, mas saiu bem atualizado. Todos os dados estavam bem embasados. Depoimentos francos e cômicos. Relatos tristes de quem se deu mal pelo cigarro ou se viu numa situação de semi-escravidão pelo fato de depender do fumo para viver. E creio que quem já deu suas tragadas por ai deve ter parado para repensar se vale a pena continuar.
Comportamento em pré-estreia
Assusta-me o comportamento de algumas pessoas em pré-estreia. Começam a cantar numa música do filme, batem palmas no meio, questionam. Isso se intensifica quando é um documentário.
Como há uma moda de jogar sapatos nas pessoas, eu quase entrei para o grupo dos que jogam. Um senhor, sentando duas fileiras a frente, fumante, aproveitou o cinema ao ar livre para suas baforadas e comentários sobre o filme. Batia palmas para os defensores do cigarro e vaiava os que eram contra. Falava alto. Incomodava. Muitos fizeram “shiiiii” para ele, mas dava de ombros e seguia com seu alto teor alcoólico a manifestar-se durante o filme.
Engraçado que essa não foi a primeira vez que eu percebi tal comportamento. Mas é sempre em pré-estreia. Já fui em varias e também vivo nas salas de cinema. Fácil notar tal mudança. Creio que quem faz isso que aparecer mais que o filme ou que o diretor ou os atores. Se for assim, que se pintem de vermelho e pendurem uma melancia no pescoço.
Curiosidade da noite
Nunca me passou pela cabeça que um casal terminaria o namoro no meio de um show romântico. E o motivo sendo o melhor lugar para ver o show. Dois teimosos brigando para ver quem enxergaria a Ana Carolina no palco. O detalhe é que ambos estavam no alto.
Achei meio sem noção. Pior que a menina era a mais sem noção. Ela gritou que tinham terminado, pedia para o cara não tocá-la e continuava do lado dele, de cabeça baixa e chorando. Quando ele ia falar com ela, ela se sacudia batendo nas pessoas (em mim, inclusive) e gritava que tudo tinha acabado. Parecia até o Galvão Bueno na final da Copa do Mundo de 94.
Claro que isso não foi o motivo. Deve ter sido a gota d’água para um casal intransigente e com a relação gasta pela teimosia e disputa dos dois para ver quem manda na relação. Qualquer “Freud” saberia analisar aqueles dois pelas poucas coisas que demonstraram em público. Ainda mais em um lugar cheio. Se não queriam multidão, deveriam ter investido o valor dos ingressos em DVDs.
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Uma noite, muitas coisas - Parte I
Quando criei este blog, não pensava em fazer blog-diarinho. Quero colocar aqui as impressões que possuo das coisas que me cercam. Mas, para isso, não há como escapar do dia-a-dia. Ida a um show, fuga para o cinema, uma mera conversa.
Então, vamos às impressões da última sexta.
Visão noturna
Nunca me passou pela cabeça como o Rio de Janeiro é lindo à noite. As luzes da cidade, o clarão no céu escuro, as sombras das montanhas. As únicas visões noturnas e do alto que tive foram chegando ao Rio de avião ou subindo o Alto da Boa Vista. Mas fiquei impressionado com o impacto de ver a Zona Sul, Baixada Fluminense e Niterói vistas do alto do Morro da Urca.
Arrependi-me profundamente de não estar com minha câmera. As fotos noturnas de lá seriam incríveis. Imagina se fosse com máquina profissional. Peguei uma sexta chuvosa, com o céu encoberto. Mas, tudo era tão belo, que fiquei a imaginar uma lua cheia nascendo e iluminando tudo com o pratear de seus raios. Minha vontade era sentar e contemplar tudo, esperando os raios dourados de um dia de sol. Ainda bem que não fiz isso, pois amanheceu o com uma chuva e um frio.
Ana Carolina
Pois é, a subida para a o Morro da Urca foi para ver o show da Ana Carolina. Nervosismo apenas para ver se ainda tinha ingresso, pois deixei para a última hora. Que, por sinal, foi a melhor coisa feita. Tinha uma fila de gente trocando o ingresso de internet e ninguém comprando na hora. Entrei rapidinho e quando vi, já estava no bondinho a apreciar a noite sobre a Cidade Maravilhosa.
A programação incluía o filme Fumando espero (resenha em outro post) e o show das Meninas do Nós, um pequeno Grupo do Nós do Morro. Mas não vi a apresentação delas. Já tinha ido demarcar meu quadrado para o show principal. Muita gente em um anfiteatro. Muitos casais de todos os tipos e credos. O lance era procurar o lugar mais neutro e que facilitasse a fuga ao fim do show, evitando a loooooo...ooonga fila para descer. Já havia passado apuros assim em uma ida normal ao Pão de Açúcar. Imagina em show, com todos concentrados.
Na posição estratégica e próxima à rota de fuga, ouvi os primeiros acordes da ruiva de voz marcante. Fazia um tempo que me devia o show da moça. E fiquei impressionado com a presença de palco da Ana. Aquela mulher sabe conduzir um espetáculo. E que espetáculo. Ela vai do suave ao forte com uma tranquilidade que encanta. E me surpreendi em ir num show sem baixista. Ela chegou a tocar em poucas músicas, mas o som do instrumento nas outras veio do teclado.
Delírio com os grandes sucessos dela. Pout-pourri com algumas músicas. Guitarras pesadas em outras. Duelo de pandeiros. E, pela primeira vez em muito tempo, eu presenciei um bis. Isso mesmo, um bis. Não aquela saída do palco para voltar e tocar mais três ou quatro músicas do set-list. Ela fez um bis de uma música mesmo. Por mim, teria feito do show inteiro. Sei que sai de lá, apressado, mas saciado e com o gostinho de quero mais.
Cirurgia do siamês
Eu até ia falar das outras coisas que queria, mas vi que o post ia ficar gigantesco. Então, vou finalizar contando a cirurgia do siamês que fiz na sexta. Como assim, Bial?? Pois é. Lembro de ter colocado em algumas linhas desde blog sobre o fato de eu nunca ter saído sozinho à noite. Um amigo até definiu isso como um siamês grudado em mim. E o fato de eu ter uma irmã gêmea colabora para o processo, pois até o parto eu dividi. Sempre tive alguém comigo.
Comecei a ir pro cinema/teatro sozinho quando notei que estava perdendo boas opções de lazer porque não arranjava companhia. A mesma coisa se repetia com shows. Da Ana mesmo foi assim. Ninguém queria ir. Resolvi então encarar a parada sozinho. Precisava daquilo. Tinha colocado como resolução de Ano Novo. Então por que não um show legal e recomendado? Fui e vi que não dói nada. Já estou planejando saídas para boates. Agora é que a buraqueira começa.
Então, vamos às impressões da última sexta.
Visão noturna
Nunca me passou pela cabeça como o Rio de Janeiro é lindo à noite. As luzes da cidade, o clarão no céu escuro, as sombras das montanhas. As únicas visões noturnas e do alto que tive foram chegando ao Rio de avião ou subindo o Alto da Boa Vista. Mas fiquei impressionado com o impacto de ver a Zona Sul, Baixada Fluminense e Niterói vistas do alto do Morro da Urca.
Arrependi-me profundamente de não estar com minha câmera. As fotos noturnas de lá seriam incríveis. Imagina se fosse com máquina profissional. Peguei uma sexta chuvosa, com o céu encoberto. Mas, tudo era tão belo, que fiquei a imaginar uma lua cheia nascendo e iluminando tudo com o pratear de seus raios. Minha vontade era sentar e contemplar tudo, esperando os raios dourados de um dia de sol. Ainda bem que não fiz isso, pois amanheceu o com uma chuva e um frio.
Ana Carolina
Pois é, a subida para a o Morro da Urca foi para ver o show da Ana Carolina. Nervosismo apenas para ver se ainda tinha ingresso, pois deixei para a última hora. Que, por sinal, foi a melhor coisa feita. Tinha uma fila de gente trocando o ingresso de internet e ninguém comprando na hora. Entrei rapidinho e quando vi, já estava no bondinho a apreciar a noite sobre a Cidade Maravilhosa.
A programação incluía o filme Fumando espero (resenha em outro post) e o show das Meninas do Nós, um pequeno Grupo do Nós do Morro. Mas não vi a apresentação delas. Já tinha ido demarcar meu quadrado para o show principal. Muita gente em um anfiteatro. Muitos casais de todos os tipos e credos. O lance era procurar o lugar mais neutro e que facilitasse a fuga ao fim do show, evitando a loooooo...ooonga fila para descer. Já havia passado apuros assim em uma ida normal ao Pão de Açúcar. Imagina em show, com todos concentrados.
Na posição estratégica e próxima à rota de fuga, ouvi os primeiros acordes da ruiva de voz marcante. Fazia um tempo que me devia o show da moça. E fiquei impressionado com a presença de palco da Ana. Aquela mulher sabe conduzir um espetáculo. E que espetáculo. Ela vai do suave ao forte com uma tranquilidade que encanta. E me surpreendi em ir num show sem baixista. Ela chegou a tocar em poucas músicas, mas o som do instrumento nas outras veio do teclado.
Delírio com os grandes sucessos dela. Pout-pourri com algumas músicas. Guitarras pesadas em outras. Duelo de pandeiros. E, pela primeira vez em muito tempo, eu presenciei um bis. Isso mesmo, um bis. Não aquela saída do palco para voltar e tocar mais três ou quatro músicas do set-list. Ela fez um bis de uma música mesmo. Por mim, teria feito do show inteiro. Sei que sai de lá, apressado, mas saciado e com o gostinho de quero mais.
Cirurgia do siamês
Eu até ia falar das outras coisas que queria, mas vi que o post ia ficar gigantesco. Então, vou finalizar contando a cirurgia do siamês que fiz na sexta. Como assim, Bial?? Pois é. Lembro de ter colocado em algumas linhas desde blog sobre o fato de eu nunca ter saído sozinho à noite. Um amigo até definiu isso como um siamês grudado em mim. E o fato de eu ter uma irmã gêmea colabora para o processo, pois até o parto eu dividi. Sempre tive alguém comigo.
Comecei a ir pro cinema/teatro sozinho quando notei que estava perdendo boas opções de lazer porque não arranjava companhia. A mesma coisa se repetia com shows. Da Ana mesmo foi assim. Ninguém queria ir. Resolvi então encarar a parada sozinho. Precisava daquilo. Tinha colocado como resolução de Ano Novo. Então por que não um show legal e recomendado? Fui e vi que não dói nada. Já estou planejando saídas para boates. Agora é que a buraqueira começa.
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Não absoluto
Conversas e mais conversas rendem bons questionamentos. Além dos vários que já possuímos, alguém vem e sempre levanta mais um. Aí, ou você enxerga uma coisa que tem e começa a refletir ou adquire mais um, apenas como forma de meditação.
Já tive algumas discussões sobre um assunto que gostaria de expor aqui: o não absoluto. Eu o tenho e não abro mão (olha ele ai). Não sei de onde ele veio ou quando começou. Mas não faz muito tempo que tenho consciência dele. Lembro muito bem a primeira vez que me deparei com ele.
Estávamos lá, um grupo de amigos, o não absoluto e eu. Todos numa mesa de bar conversando, Engraçado que eu nunca tinha reparado nesse não. Ai, um amigo que faz análise e queria me convencer a fazer começou a levantar certas questões e comecei a utilizar esse não. Pois bem que ele me puxa o porquê de eu ter esse não tão firme na boca. De ser intransigível com minhas coisas pessoais.
A partir desse momento, comecei a reparar nisso. Eu nunca tinha pensando no não, até porque sempre tive dificuldade de dizê-lo. Já passei por umas coisas bem chatas apenas por não ter dito um não e o mantido ali, firme. Até quando estou mais enrolado que novelo de lã, eu digo um sim. Por isso não havia enxergado o meu não.
Alguns eu já comecei a trabalhar e não são tão absolutos agora. Quem sabe faz parte do amadurecimento ou do simples fato de ter visto que determinada atitude me prejudicava.
Um desses nãos que eu comecei a trabalhar foi o fato de olhar para trás. Não o ato de repensar sobre atitudes passadas para entender. Mas o ato mecânico de virar o corpo e ver o que ficou para trás. Isso vale para tudo: despedidas, paqueras, viagens. Geralmente, quando olho, a surpresa nunca é tão boa. Não quero ver lágrimas nos olhos de quem amo. Não quero ver que não fui correspondido. Não quero. Não.
Já tive boas surpresas com o fato de olhar. E com o fato de dizer um sim para um não absoluto. Mas isso é raridade e ainda me forço. Uma das coisas que me levaram a não olhar para trás tem relação com a mulher de Ló, que virou estátua de sal ao olhar o castigo que Deus impunha. Ou sempre que alguém está fugindo, em filme, e olha para trás ... buuuum ... vai beijar o chão ou dá de cara com outro bandido/monstro/etc.
Enfim, sei que tenho que rever os meus nãos. E espero que isso possa levá-lo(a) a (re)pensar os seus. De uns, não abro mão mesmo. Já outros, creio que posso revê-los e não virar mais uma estátua de sal.
Já tive algumas discussões sobre um assunto que gostaria de expor aqui: o não absoluto. Eu o tenho e não abro mão (olha ele ai). Não sei de onde ele veio ou quando começou. Mas não faz muito tempo que tenho consciência dele. Lembro muito bem a primeira vez que me deparei com ele.
Estávamos lá, um grupo de amigos, o não absoluto e eu. Todos numa mesa de bar conversando, Engraçado que eu nunca tinha reparado nesse não. Ai, um amigo que faz análise e queria me convencer a fazer começou a levantar certas questões e comecei a utilizar esse não. Pois bem que ele me puxa o porquê de eu ter esse não tão firme na boca. De ser intransigível com minhas coisas pessoais.
A partir desse momento, comecei a reparar nisso. Eu nunca tinha pensando no não, até porque sempre tive dificuldade de dizê-lo. Já passei por umas coisas bem chatas apenas por não ter dito um não e o mantido ali, firme. Até quando estou mais enrolado que novelo de lã, eu digo um sim. Por isso não havia enxergado o meu não.
Alguns eu já comecei a trabalhar e não são tão absolutos agora. Quem sabe faz parte do amadurecimento ou do simples fato de ter visto que determinada atitude me prejudicava.
Um desses nãos que eu comecei a trabalhar foi o fato de olhar para trás. Não o ato de repensar sobre atitudes passadas para entender. Mas o ato mecânico de virar o corpo e ver o que ficou para trás. Isso vale para tudo: despedidas, paqueras, viagens. Geralmente, quando olho, a surpresa nunca é tão boa. Não quero ver lágrimas nos olhos de quem amo. Não quero ver que não fui correspondido. Não quero. Não.
Já tive boas surpresas com o fato de olhar. E com o fato de dizer um sim para um não absoluto. Mas isso é raridade e ainda me forço. Uma das coisas que me levaram a não olhar para trás tem relação com a mulher de Ló, que virou estátua de sal ao olhar o castigo que Deus impunha. Ou sempre que alguém está fugindo, em filme, e olha para trás ... buuuum ... vai beijar o chão ou dá de cara com outro bandido/monstro/etc.
Enfim, sei que tenho que rever os meus nãos. E espero que isso possa levá-lo(a) a (re)pensar os seus. De uns, não abro mão mesmo. Já outros, creio que posso revê-los e não virar mais uma estátua de sal.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
Rosa murcha
O luar recai sobre a rosa sobre a mesa. Rosa essa que foi um belo botão. Vermelho. Vibrante. Rosa que veio com um sorriso, um carinho de um olhar atencioso. Mas, é rosa. É chama. Queima. Consome. Morre.
Vejo ali, algumas pétalas caídas. Água turva. Esverdeada. E o luar continua sobre a rosa, que resolveu abrir aos primeiros raios brilhantes do sol e deixou-se ir pela luz prata da lua.
O vermelho já não vibra mais. Não agride. Não sufoca. Entristeceu-se. Ainda mais nas pétalas sobre a mesa. Já foi-se a graça, que ainda continua nas que estão mais acima, presas.
O observador pensa: trocar a água? Podar o caule? Ou apenas jogar fora? A rosa que era bela já não o agrada mais. Incomoda-o. Angustia-o.
Como algo que era tão belo e frágil passa, rapidamente, para algo que enjoa pelo simples fato de existir? Mas a rosa não tem culpa. Nem o observador. Nem mesmo o tempo, responsável pela deterioração.
No fundo, não há culpa ou culpados. Há apenas um vazio a ser preenchido com uma nova rosa ou um novo observador.
Vejo ali, algumas pétalas caídas. Água turva. Esverdeada. E o luar continua sobre a rosa, que resolveu abrir aos primeiros raios brilhantes do sol e deixou-se ir pela luz prata da lua.
O vermelho já não vibra mais. Não agride. Não sufoca. Entristeceu-se. Ainda mais nas pétalas sobre a mesa. Já foi-se a graça, que ainda continua nas que estão mais acima, presas.
O observador pensa: trocar a água? Podar o caule? Ou apenas jogar fora? A rosa que era bela já não o agrada mais. Incomoda-o. Angustia-o.
Como algo que era tão belo e frágil passa, rapidamente, para algo que enjoa pelo simples fato de existir? Mas a rosa não tem culpa. Nem o observador. Nem mesmo o tempo, responsável pela deterioração.
No fundo, não há culpa ou culpados. Há apenas um vazio a ser preenchido com uma nova rosa ou um novo observador.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Sempre o outro
Por que a grama do vizinho é sempre mais verde que a nossa? Por que o sanduíche do outro é mais bonito e mais gostoso que o nosso? Por que sempre olhamos o garçom passar com os pratos da mesa ao lado e ficamos na curiosidade do que aqui ali?
Parece praga ou maldição. Não contentar-se com o que está aqui. Sempre tem que ser lá. Por quê? É sempre ter vontade de comer num restaurante que não existe aqui. De ir num museu que está lá. De ver alguém por uma tela que mostra quilômetros de distancia. Papo, carinho, paixão, amizade. Cumplicidade.
Aos que nos cercam, não é desdém. Até porque só percebemos o vazio que nos rodeia. Falta de atenção, ausência, descaso. Para que um “eu te ligo”, se já sentimos que o telefone não vai tocar. Não há porque enganar quem não engana a si mesmo.
Pior de tudo isso são as expectativas criadas, as noites mal dormidas, a vida mal vivida. Medo de algo próximo? Fuga? Boicote? Ou apenas a vida mostrando mais uma vez que não é nada fácil estar disposto a amar. A querer ser feliz e dividir isso com alguém especial.
Conhecer pessoas dá nisso. Viajar dá nisso. Não é querer ser marinheiro, deixando um amor em cada porto. É querer voltar àquela baía calma, de mar azul e que te sorri como se você fosse o único ser humano que por ali passou. O único capaz de cuidar para que nenhum invasor venha e polua as águas brilhantes que teimam em cair do alto e a correr em sua direção, prendendo sua vista e te dando um nó na garganta de tão bela paisagem que fascina e apaixona.
Parece praga ou maldição. Não contentar-se com o que está aqui. Sempre tem que ser lá. Por quê? É sempre ter vontade de comer num restaurante que não existe aqui. De ir num museu que está lá. De ver alguém por uma tela que mostra quilômetros de distancia. Papo, carinho, paixão, amizade. Cumplicidade.
Aos que nos cercam, não é desdém. Até porque só percebemos o vazio que nos rodeia. Falta de atenção, ausência, descaso. Para que um “eu te ligo”, se já sentimos que o telefone não vai tocar. Não há porque enganar quem não engana a si mesmo.
Pior de tudo isso são as expectativas criadas, as noites mal dormidas, a vida mal vivida. Medo de algo próximo? Fuga? Boicote? Ou apenas a vida mostrando mais uma vez que não é nada fácil estar disposto a amar. A querer ser feliz e dividir isso com alguém especial.
Conhecer pessoas dá nisso. Viajar dá nisso. Não é querer ser marinheiro, deixando um amor em cada porto. É querer voltar àquela baía calma, de mar azul e que te sorri como se você fosse o único ser humano que por ali passou. O único capaz de cuidar para que nenhum invasor venha e polua as águas brilhantes que teimam em cair do alto e a correr em sua direção, prendendo sua vista e te dando um nó na garganta de tão bela paisagem que fascina e apaixona.
Frase de Filme
Te agradezco mucho que no quieras jugar conmigo, de todos modos yo no te iba a dejar jugar conmigo, porque yo valgo la pena ¿entendés?… yo valgo.
El hijo de la novia
El hijo de la novia
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Saltos
Já compete há anos naquele esporte. Quantas medalhas levou para casa com seus saltos precisos. Coleciona alguns ouros, pratas e bronzes. Não curte mostrá-los em sua parede, como muitos atletas o fazem. Conta para um ou para outro o que aconteceu na competição anterior: se foi qualificado para disputar a semi-final ou final; se conseguiu subir no pódio. Mas nunca contou vantagem, apesar das trocas de experiência com outros atletas, enquanto esperava a hora de saltar.
Começou cedo, logo após aprender a nadar. Nunca teve medo de altura. Vivia treinando pulos da janela de sua casa para dois colchões postos, de forma estratégica, para amortecer suas estripulias. Sempre ouvia os gritos da mãe dizendo para “não fazer arte”. Resolveu então comentar na escola de natação que gostaria de praticar outro esporte. Nadar seria apenas parte do treino, já que adorava estar na água.
Quando deu por si, já estava saltando das plataformas de três metros. Mas não cansava de olhar mais para cima. Sabia que seu objetivo era bem mais alto. Às vezes, doía o pescoço de tanto que fitava os mais velhos pulando. Aplaudia, incentivava, torcia. Aguardava, ansioso, a hora de galgar maiores conquistas.
Já tinha medalhas amadoras de pequenas competições. Parecia que tinha talento nato. Suas acrobacias encantavam. Mostrava seu potencial. Mas seu objetivo eram as Olimpíadas. O tão sonhado encontro com os deuses. A cada mortal, carpada, grupada, ele sentia que chegava mais perto do Olimpo.
Começou a competir nas plataformas de dez metros. Adorava a visão do horizonte em um ponto tão acima do chão. Corria e se jogava. O coração sempre disparava. O frio na espinha sempre corria a cada desprender para o “vazio”. Buscava sempre ser um ao tocar na água. Sua meta sempre foi a suavidade de subir na plataforma a cair na piscina.
A vontade de competir nunca o impediu de fazer outras coisas. Continuava seus estudos, suas amizades e suas viagens. E foi pelas viagens que começou a querer competir fora de casa. Sempre acompanhara as competições nacionais e internacionais. A cada novo lugar visitado, queria sempre incluir um espaço próprio para saltos. Sabia que era destemido e sempre ia pronto para pular.
Fez sua primeira inscrição em uma competição fora de casa. Resolveu ir um tempo antes, para treinar no novo ambiente. Queria se familiarizar com a piscina, com a água, com a plataforma. O conhecimento era essencial para seus saltos. Fazia parte da preparação.
Enfim, chegou o dia. Arquibancada cheia, torcida de cada competidor, de cada estado. Ao longe, em um cantinho, via o seu tímido grupo. Não deu para todos viajarem. Mas sentia que tinha que fazer o melhor para si mesmo e para os que agitavam e aplaudiam.
Chamaram seu nome. Subiu as escadas levemente, controlando a respiração para chegar bem aos dez metros. Necessitava de equilíbrio, de concentração. Ia subindo e mirando seu alvo. As marolas de saltos anteriores ainda percorriam aquela superfície azul. Seu ritmo lento era para poder pular na tranquilidade das águas. Chegou ao topo. Olhou mais uma vez para baixo e sorriu. Um sorriso farto, cheio de dentes. Sentia que era a coisa certa a fazer. Não passava perto a vontade de desistir. Preparou-se. Queria o salto mais belo de sua vida. Buscou relaxar e não ficar ansioso. Sentia o vento no rosto e o frio a comer-lhe o estômago. Ouviu o apito. Saltou.
Seus movimentos o traíram. Sua perna escorregou e caiu feio na água. O choque da queda machucou um pouco. Sentia a queimação na pele. Mas o aperto no coração era o pior. Não acreditou no que havia acabado de acontecer. Seus sonhos indo pelo ralo. O horizonte já não estava mais tão claro. A visão ficou um pouco turva com tamanho desapontamento. Ainda tinha mais quatro chances. Mas a vergonha e o medo o tomaram de uma forma que ele correu para o vestiário. E depois voltou para a sua cidade. Para os seus.
Anos se passaram e ele não competia mais. Aqui e ali arriscava um salto. Nada de grande impacto. Quando queria praticar, com saudades daqueles tempos em que se sentia dono da situação, ia treinar a noite. Ninguém via e nem ouvia. Fazia tudo sem medo, já que não o fitavam.
Até que um dia, seu antigo treinador o incentivou a voltar a competir. Poderia começar nas amadoras, já que o clube da cidade tinha provas todo mês, na busca de novos talentos. Decidiu passar uma borracha no passado e voltar a treinar forte. Mas sentia que ali não chegaria a ser o atleta que sempre sonhou.
Resolveu sair pelo mundo em busca de um novo clube para treinar. Achou um que o recebeu bem e que havia gostado. Sentia-se em casa. Parecia que havia nascido ali, em meio àquela piscina. A motivação foi maior. O desafio era maior. O frio que percorria a espinha provocava um sorriso. Sabia que era o mais certo a fazer.
Passou a treinar forte. Cinco. Seis. Oito. Dez horas por dia. Musculação, natação, acrobacias em solo, trampolim, plataforma. A rotina era dura. Mas estava disposto a seguir em frente e mergulhar fundo.
Fez a primeira competição local. Já não havia mais o nervosismo de outrora. Estava mais que focado. Sabia o que queria. Seus saltos foram bons. Viu placas de 8.0 a 9.0. Recebeu um único 10.0 em seu quarto salto, que foi o melhor. Mas, na pontuação geral, não passou do sexto lugar. Comemorou como se fosse uma medalha. Afinal, fazia anos que estava longe dos saltos competitivos.
Outra competição, a primeira medalha. Prata. Reluzente. Brilhante. Pela cor, achava-a mais bonita que a prima dourada. Mas queria a que levasse ao ponto mais alto. À que permitisse falar com Zeus. E não demorou muito para vir.
A competição foi longe de sua nova casa. A sensação da primeira vez que viajou para saltar voltou, mas já estava maduro para não cometer os erros que o afastaram das plataformas. Seus cinco saltos foram perfeitos. Saia da piscina sendo ovacionado pelo público presente. Jornalistas corriam em sua direção. A timidez, sempre presente, fazia-o dizer poucas palavras. Jogou-se com tudo na água após o último competidor saltar e não conseguir superá-lo nos pontos.
Ouro. Louro. Altura. Glória. Tudo aquilo mexeu com ele. Sabia que queria aquilo, mas que não tinha nascido para a fama. Jornais estampavam seu feito. Pela primeira vez, se viu como um herói.
Competições vieram e outras foram. Começou a colecionar de medalhas. Não sabia mais viver sem competir, independente se pontuava ou não para o ranking nacional. Mas o destino ainda reservada a grande competição que o levaria para o sonho olímpico. Soube de mais uma. Inscreveu-se. Precisou viajar. Pegou seus apetrechos e partiu rumo a mais um desafio.
Preparou-se. Concentrou-se. Não conseguiu ir antes para conhecer o ambiente. Eram poucos dias. Um ou dois de treino e mais uns de competição, caso fosse para a final. Foi lá e fez o melhor. Classificou-se. Mal dormiu a noite, ansioso pela grande final. Acordou, fez o que tinha que fazer ao longo do dia, antes da decisão. Todos começaram a saltar. Chegou mais uma vez o seu momento. Subiu e pulou. Ao cair na água, sabia que poderia ter feito melhor. Aguardou o resultado e contentou-se com os 7.5 e 8.0 que recebeu.
Inspirou fundo mais uma vez e foi para o segundo. Dessa vez, arriscou-se mais. Queria mais. Conseguiu um 9.3 de máxima. Gargalhou. Sabia que estava entrando no ritmo. Concentrado, partiu para o terceiro salto. Desta vez, plantou bananeira na ponta e saltou. Os movimentos foram precisos. Levantou pouca água. Ouviu a vibração do público enquanto emergia. Olhou para o telão e viu notas entre 9.5 e 10.0. Socou o ar.
Já estava em segundo na classificação geral. Sabia que se quisesse o ouro, o próximo salto deveria ser o mais arriscado, a fim de ter vantagem sobre o outro concorrente. Subiu calmamente, tentando controlar a já ofegante respiração. Preparou-se e foi ao encontro da água mais uma vez. Mas um novo escorregão o fez bater na plataforma e cair. Além de perder os pontos, se machucou feio. Batera primeiro a perna ao cair, depois a cabeça na borda. Foi socorrido.
Abandonou a competição rumo ao hospital. Exames, tomografia, repouso. Ficou ali alguns dias. Quieto. O monitoramento era necessário. Ao receber alta, ainda sentia dor. Mas nada que sessões de fisioterapia não o reabilitassem para novos saltos. Meses sem competir. Treinava pouco. Passou a acompanhar mais os campeonatos pela televisão e internet. Viu um que despertou sua curiosidade e aguçou a vontade de participar.
Decidiu voltar a treinar para mais uma competição de saltos. Perdera o medo e a vergonha de falhar. Sabe que vai dar o melhor de si para levar a medalha de ouro para casa. Rotina excessiva de exercícios, além de umas sessões de fisioterapia.
É chegada a hora da competição. Mais uma viagem. Mais um desafio. Mais um frio a congelar o estômago. Mais uma vez ali, no alto, a mirar todos e seu alvo azul. Treina e se aquece. Conhece um pouco o local da competição. Ansioso, aguarda que chamem seu nome para se dirigir à área de saltos. Quer ir para a final e sabe que vai fazer de tudo.
Sobe com certa pressa. Escorrega um degrau, mas nada grave. Aquilo não vai tirá-lo de sua meta dourada. Mais uma vez na ponta. Mais uma vez o azul prender sua visão. Sabe agora que é respirar fundo e mergulhar. Respira e salta mais uma vez para o desconhecido, a espera do que vai acontecer ao chegar à água.
Começou cedo, logo após aprender a nadar. Nunca teve medo de altura. Vivia treinando pulos da janela de sua casa para dois colchões postos, de forma estratégica, para amortecer suas estripulias. Sempre ouvia os gritos da mãe dizendo para “não fazer arte”. Resolveu então comentar na escola de natação que gostaria de praticar outro esporte. Nadar seria apenas parte do treino, já que adorava estar na água.
Quando deu por si, já estava saltando das plataformas de três metros. Mas não cansava de olhar mais para cima. Sabia que seu objetivo era bem mais alto. Às vezes, doía o pescoço de tanto que fitava os mais velhos pulando. Aplaudia, incentivava, torcia. Aguardava, ansioso, a hora de galgar maiores conquistas.
Já tinha medalhas amadoras de pequenas competições. Parecia que tinha talento nato. Suas acrobacias encantavam. Mostrava seu potencial. Mas seu objetivo eram as Olimpíadas. O tão sonhado encontro com os deuses. A cada mortal, carpada, grupada, ele sentia que chegava mais perto do Olimpo.
Começou a competir nas plataformas de dez metros. Adorava a visão do horizonte em um ponto tão acima do chão. Corria e se jogava. O coração sempre disparava. O frio na espinha sempre corria a cada desprender para o “vazio”. Buscava sempre ser um ao tocar na água. Sua meta sempre foi a suavidade de subir na plataforma a cair na piscina.
A vontade de competir nunca o impediu de fazer outras coisas. Continuava seus estudos, suas amizades e suas viagens. E foi pelas viagens que começou a querer competir fora de casa. Sempre acompanhara as competições nacionais e internacionais. A cada novo lugar visitado, queria sempre incluir um espaço próprio para saltos. Sabia que era destemido e sempre ia pronto para pular.
Fez sua primeira inscrição em uma competição fora de casa. Resolveu ir um tempo antes, para treinar no novo ambiente. Queria se familiarizar com a piscina, com a água, com a plataforma. O conhecimento era essencial para seus saltos. Fazia parte da preparação.
Enfim, chegou o dia. Arquibancada cheia, torcida de cada competidor, de cada estado. Ao longe, em um cantinho, via o seu tímido grupo. Não deu para todos viajarem. Mas sentia que tinha que fazer o melhor para si mesmo e para os que agitavam e aplaudiam.
Chamaram seu nome. Subiu as escadas levemente, controlando a respiração para chegar bem aos dez metros. Necessitava de equilíbrio, de concentração. Ia subindo e mirando seu alvo. As marolas de saltos anteriores ainda percorriam aquela superfície azul. Seu ritmo lento era para poder pular na tranquilidade das águas. Chegou ao topo. Olhou mais uma vez para baixo e sorriu. Um sorriso farto, cheio de dentes. Sentia que era a coisa certa a fazer. Não passava perto a vontade de desistir. Preparou-se. Queria o salto mais belo de sua vida. Buscou relaxar e não ficar ansioso. Sentia o vento no rosto e o frio a comer-lhe o estômago. Ouviu o apito. Saltou.
Seus movimentos o traíram. Sua perna escorregou e caiu feio na água. O choque da queda machucou um pouco. Sentia a queimação na pele. Mas o aperto no coração era o pior. Não acreditou no que havia acabado de acontecer. Seus sonhos indo pelo ralo. O horizonte já não estava mais tão claro. A visão ficou um pouco turva com tamanho desapontamento. Ainda tinha mais quatro chances. Mas a vergonha e o medo o tomaram de uma forma que ele correu para o vestiário. E depois voltou para a sua cidade. Para os seus.
Anos se passaram e ele não competia mais. Aqui e ali arriscava um salto. Nada de grande impacto. Quando queria praticar, com saudades daqueles tempos em que se sentia dono da situação, ia treinar a noite. Ninguém via e nem ouvia. Fazia tudo sem medo, já que não o fitavam.
Até que um dia, seu antigo treinador o incentivou a voltar a competir. Poderia começar nas amadoras, já que o clube da cidade tinha provas todo mês, na busca de novos talentos. Decidiu passar uma borracha no passado e voltar a treinar forte. Mas sentia que ali não chegaria a ser o atleta que sempre sonhou.
Resolveu sair pelo mundo em busca de um novo clube para treinar. Achou um que o recebeu bem e que havia gostado. Sentia-se em casa. Parecia que havia nascido ali, em meio àquela piscina. A motivação foi maior. O desafio era maior. O frio que percorria a espinha provocava um sorriso. Sabia que era o mais certo a fazer.
Passou a treinar forte. Cinco. Seis. Oito. Dez horas por dia. Musculação, natação, acrobacias em solo, trampolim, plataforma. A rotina era dura. Mas estava disposto a seguir em frente e mergulhar fundo.
Fez a primeira competição local. Já não havia mais o nervosismo de outrora. Estava mais que focado. Sabia o que queria. Seus saltos foram bons. Viu placas de 8.0 a 9.0. Recebeu um único 10.0 em seu quarto salto, que foi o melhor. Mas, na pontuação geral, não passou do sexto lugar. Comemorou como se fosse uma medalha. Afinal, fazia anos que estava longe dos saltos competitivos.
Outra competição, a primeira medalha. Prata. Reluzente. Brilhante. Pela cor, achava-a mais bonita que a prima dourada. Mas queria a que levasse ao ponto mais alto. À que permitisse falar com Zeus. E não demorou muito para vir.
A competição foi longe de sua nova casa. A sensação da primeira vez que viajou para saltar voltou, mas já estava maduro para não cometer os erros que o afastaram das plataformas. Seus cinco saltos foram perfeitos. Saia da piscina sendo ovacionado pelo público presente. Jornalistas corriam em sua direção. A timidez, sempre presente, fazia-o dizer poucas palavras. Jogou-se com tudo na água após o último competidor saltar e não conseguir superá-lo nos pontos.
Ouro. Louro. Altura. Glória. Tudo aquilo mexeu com ele. Sabia que queria aquilo, mas que não tinha nascido para a fama. Jornais estampavam seu feito. Pela primeira vez, se viu como um herói.
Competições vieram e outras foram. Começou a colecionar de medalhas. Não sabia mais viver sem competir, independente se pontuava ou não para o ranking nacional. Mas o destino ainda reservada a grande competição que o levaria para o sonho olímpico. Soube de mais uma. Inscreveu-se. Precisou viajar. Pegou seus apetrechos e partiu rumo a mais um desafio.
Preparou-se. Concentrou-se. Não conseguiu ir antes para conhecer o ambiente. Eram poucos dias. Um ou dois de treino e mais uns de competição, caso fosse para a final. Foi lá e fez o melhor. Classificou-se. Mal dormiu a noite, ansioso pela grande final. Acordou, fez o que tinha que fazer ao longo do dia, antes da decisão. Todos começaram a saltar. Chegou mais uma vez o seu momento. Subiu e pulou. Ao cair na água, sabia que poderia ter feito melhor. Aguardou o resultado e contentou-se com os 7.5 e 8.0 que recebeu.
Inspirou fundo mais uma vez e foi para o segundo. Dessa vez, arriscou-se mais. Queria mais. Conseguiu um 9.3 de máxima. Gargalhou. Sabia que estava entrando no ritmo. Concentrado, partiu para o terceiro salto. Desta vez, plantou bananeira na ponta e saltou. Os movimentos foram precisos. Levantou pouca água. Ouviu a vibração do público enquanto emergia. Olhou para o telão e viu notas entre 9.5 e 10.0. Socou o ar.
Já estava em segundo na classificação geral. Sabia que se quisesse o ouro, o próximo salto deveria ser o mais arriscado, a fim de ter vantagem sobre o outro concorrente. Subiu calmamente, tentando controlar a já ofegante respiração. Preparou-se e foi ao encontro da água mais uma vez. Mas um novo escorregão o fez bater na plataforma e cair. Além de perder os pontos, se machucou feio. Batera primeiro a perna ao cair, depois a cabeça na borda. Foi socorrido.
Abandonou a competição rumo ao hospital. Exames, tomografia, repouso. Ficou ali alguns dias. Quieto. O monitoramento era necessário. Ao receber alta, ainda sentia dor. Mas nada que sessões de fisioterapia não o reabilitassem para novos saltos. Meses sem competir. Treinava pouco. Passou a acompanhar mais os campeonatos pela televisão e internet. Viu um que despertou sua curiosidade e aguçou a vontade de participar.
Decidiu voltar a treinar para mais uma competição de saltos. Perdera o medo e a vergonha de falhar. Sabe que vai dar o melhor de si para levar a medalha de ouro para casa. Rotina excessiva de exercícios, além de umas sessões de fisioterapia.
É chegada a hora da competição. Mais uma viagem. Mais um desafio. Mais um frio a congelar o estômago. Mais uma vez ali, no alto, a mirar todos e seu alvo azul. Treina e se aquece. Conhece um pouco o local da competição. Ansioso, aguarda que chamem seu nome para se dirigir à área de saltos. Quer ir para a final e sabe que vai fazer de tudo.
Sobe com certa pressa. Escorrega um degrau, mas nada grave. Aquilo não vai tirá-lo de sua meta dourada. Mais uma vez na ponta. Mais uma vez o azul prender sua visão. Sabe agora que é respirar fundo e mergulhar. Respira e salta mais uma vez para o desconhecido, a espera do que vai acontecer ao chegar à água.
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
Terra dos Bandeirantes
Mais uma incursão às terras desbravadas pelos polêmicos bandeirantes. Mais uma vez sabores e lugares se repetem. Porém, novos contatos em meio a rosto outrora conhecidos. Sem esquecer que novas partes da cidade foram aventuradas. Senti-me um errante em meio à selva de concreto.
Agenda cheia e correria para os lugares: italianos, ingleses, japoneses, húngaros, paulistanos. Até porque não falta variedade numa cidade formada por migrantes de todos os cantinhos dessa Terra de Ai Meu Deus!.
A possibilidade de troca, de conhecimento, de compartilhar com a megalópole é uma das coisas que mais me fascinam. Cheiros, sabores, cores, texturas. Tudo ali, ao alcance da mão. Basta esticá-la. Basta andar e apreciar. Não se deve temer. Até porque o perigo é universal.
Frio na barriga é comum. Ainda mais em ambiente que não se conhece, que não se domina. Não se sabe quem está do outro lado. Mas a receptividade é sempre bem-vinda. É bom sentir um tratamento de qualidade. Ter atenção, mesmo em meio ao caos urbano. Profissionalismo que falta em inúmeras cidades.
Agora sim, posso dizer que conheço Sampa de uma ponta a outra. Não conheço 10% da cidade, mas já não há porque temê-la. Ainda mais quando se encontra sorrisos que te encantam e te atraem. Sorrisos amigáveis. Sorrisos tímidos. Sorrisos por todos os lados.
Agenda cheia e correria para os lugares: italianos, ingleses, japoneses, húngaros, paulistanos. Até porque não falta variedade numa cidade formada por migrantes de todos os cantinhos dessa Terra de Ai Meu Deus!.
A possibilidade de troca, de conhecimento, de compartilhar com a megalópole é uma das coisas que mais me fascinam. Cheiros, sabores, cores, texturas. Tudo ali, ao alcance da mão. Basta esticá-la. Basta andar e apreciar. Não se deve temer. Até porque o perigo é universal.
Frio na barriga é comum. Ainda mais em ambiente que não se conhece, que não se domina. Não se sabe quem está do outro lado. Mas a receptividade é sempre bem-vinda. É bom sentir um tratamento de qualidade. Ter atenção, mesmo em meio ao caos urbano. Profissionalismo que falta em inúmeras cidades.
Agora sim, posso dizer que conheço Sampa de uma ponta a outra. Não conheço 10% da cidade, mas já não há porque temê-la. Ainda mais quando se encontra sorrisos que te encantam e te atraem. Sorrisos amigáveis. Sorrisos tímidos. Sorrisos por todos os lados.
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