sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Navegar*

Uma luz azul me guia
Com a firmeza e os lampejos de um farol
E os recifes lá de cima
Me avisam dos perigos de chegar

Descobridor dos Sete Mares, Lulu Santos

Por vezes sinto que meu coração é um barco a vela, que navega livremente pelo mar, ao sabor do vento. À deriva em alguns momentos, parado em algum porto em outros, mas sempre livre para navegar. Nem sempre escolho a direção que ele irá tomar, depende do tempo, do vento, das condições do mar. Bússola? Para que me serve, a não ser para confundir mais os pensamentos? Que adianta a razão me mandar ir para o Sul, se os ventos me levam para Oeste?

Sempre fui dada a traçar minhas rotas de navegação. Tentava seguir a risca o itinerário e ficava frustrada se um vento norte mudava meu rumo. Parei de sofrer. Não que tenha deixado de traçar minhas rotas, acho importante ter em mente aonde se quer ir. Mas, agora, tento tirar proveito dos desvios, aprender novos caminhos e admirar a paisagem inesperada.

Nem sempre o tempo está claro. Nem sempre é possível navegar. Às vezes a melhor opção é jogar a âncora e esperar a tempestade passar. Por vezes não é tempestade, mas falta de vento. Nem uma brisa leve para movimentar as madeixas. Também não tem jeito, tem que esperar.

Acho que estou num desses momentos de espera, traçando rotas de navegação, algumas delas para destinos ainda desconhecidos. Os desvios não me assustam. Estou me preparando para levantar âncora.

Içar velas, marinheiro!



* Um dia, numa conversa com a Amanda, do Meu Cantinho, decidimos fazer participação especial no blog do outro. Este foi o texto de sua colaboração com o Visão Mundana. Quem quiser ver o meu, passa lá. O texto é o Conexões.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Esquecer

Por que ainda me pego pensando em você?
O que há de tão especial em ti?
Por que não consigo esquecer seus olhos cor de mel?
O que fazer para não ir ao teu encontro?
Como esquecer você, se tudo ao meu redor me leva para o seu lado?

Minha maior tranqüilidade é que já não sofro mais por ti.
Minha mente vai ao teu encontro.
Meu coração permite que isso ocorra.
Mas estou fincado na razão.
Sei que ela me acalma e diz que tudo vai ficar bem.

Não quero esquecer de nada do que passou entre nós.
Quero apenas aceitar que isso é realmente passado.
Ficar sem esperanças de que possa voltar a ser presente ou futuro.
Mas, se você quiser voltar, dou a dica do que fazer.
Basta bater em minha porta cantando Por onde andei, do Nando Reis.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Convidado

Pessoas, conversando com uma amiga, combinamos de escrever para o blog um do outro, como convidado. Meu texto está em Conexões, no blog Meu Cantinho, da Amanda. O link também está ai do lado, nos favoritos.

Espero que gostem das minhas palavras. Aproveitem para ler as dela.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Dia Frio

Mais um final de semana chegou na vida de Carlos. Sua vidinha de casa para o trabalho e do trabalho para casa já o cansava fazia meses. Algo não deixava que isso mudasse. Parecia estar preso a um carrossel. Via sempre as mesmas coisas, as mesmas pessoas. Tentava fugir e não conseguia.

Já não tinha mais paciência para cozinhar. Abusou de seu próprio tempero. A comida sempre com o mesmo gosto. As mesmas especiarias. Já havia virado um hábito. Até a ordem com que punha na panela. Azeite, alho, cebola, tempero, frango, água, alecrim. Quando fazia uma mudança, colocava noz moscada ou ervas finas. O manjericão acabou meses atrás.

Mas ele acordou diferente naquela dia. Olhou pela janela a fina chuva que cobria a cidade. Não se percebia muito bem os prédios. Parecia uma neblina. O céu nublado, mas claro. Havia luminosidade. Ele sentia que o dia seria diferente. Abriu a janela e o vento frio tomou conta do ambiente. Sua sorte foi o agasalho que usou para dormir. Um arrepio percorreu sua espinha. Mas não lhe deu medo.

Arrumou a casa como de costume. Fazia anos que estava no dilema da solidão. Não se curou do passado. Passado este que o assombrava em sonhos, o perseguia em músicas. Mas naquele dia tudo era diferente. Ouviu uma música antiga. Séculos que seus tímpanos não eram invadidos por aquela melodia. Sabia que possuía alma. Que não era mais um no meio dos que marcham. Um sorriso torto tomou-lhe a boca.

Resolveu sair. Sabia que precisava de uma caminhada, mesmo que a chuva caísse mais forte. Sentia-se bem para aquilo. Colocou a bermuda, trocou a camisa, calçou o sapato. Parada estratégica no banheiro. Pente, escova de dentes, fio dental. Sorriso colgate. Riu de si mesmo refletido. Sempre riu de sua aparência. Adorava brincar na frente do espelho.

Entrou sozinho no elevador. Raramente encontrava vizinhos. No máximo via o ranzinza do andar de baixo. Mais um espelho. Desta vez, nada de sorrisos. A câmera o intimidava. Sua timidez era catapultada. Despediu-se do porteiro e tomou o caminho da rua. Carros, pessoas, semáforo, asfalto. Aquela cidade de concreto não impunha medo. Conhecia-a bem, afinal, fora criado em meio ao caos.

Caminhou por um tempo e sentiu fome. Não tinha como apreciar a paisagem devido a leve chuva. O guarda-chuva se fazia necessário, mas era um fardo a carregar. As pessoas andavam sem. Porém, tinha medo de gripar. Não queria ficar doente, ainda mais em sua longa solidão. Seu estômago pediu comida e ele entrou no restaurante. Já havia estado ali. Anos atrás. E não tinha ido só. Lembranças quiseram voltar, mas ele bloqueou. Carlos se conhecia.

Serviu-se com o de sempre. Alface, tomate, um pouco de brócolis. Pensou: frango assado ou bife à milanesa? Ficou com o peixe frito. Pesou e foi se sentar. De repente, olhou pra frente e a viu. De quem seriam aqueles olhos curiosos. Chegou a pensar que estava com a roupa suja. Olhou para baixo. Tudo limpo. Olhou para frente. Os olhos estavam em outra direção. Sentou, pegou o sal, garfo e faca em punhos. Todo o ritual começara. Levantou a cabeça e deu de cara com eles. Olhar curioso e disfarçado em sua direção.

Come devagar, como sempre. Resolveu olhar também. Pegaram-se trocando olhares. Não tem coragem de sorrir. Não ganha sorriso. O estranho é que se entendem no olhar. Tentou esperá-la, mas não deu. Terminou antes. Pagou a conta e saiu. Caminhou devagar. Viu quando ela saiu, mas foi em outra direção. Encheu-se de esperança. Depois de anos, conseguiu flertar. Precisava apenas aprender a trabalhar a timidez.

Voltou andando para casa. A chuva teimava em cair, mas sabia que o melhor era caminhar. Precisava pensar. Nada como fazer isso sem pressa. O vento frio batia em seu rosto. Conversou consigo mesmo. Brigou internamente. Riu. Falou sozinho. Fazia tempo que não sentia aquilo tudo junto.

Ao entrar no apartamento, tirou a roupa na sala mesmo. Depois arrumaria a bagunça. Colocou o moletom e deitou na cama. Ligou a TV e ficou zappeando. Futebol, séries, filmes, documentários. Parou um pouco em um sobre dinossauros. Encheu-se. Levantou e colocou um DVD. Sabia que não passava nada melhor aquele horário. E parecia que tudo era ruim por causa do frio que fazia. Mas ele gostava do frio. Sabia que estava “em casa” a baixas temperaturas.

Com meia hora de filme, seu celular toca. Estranhou. Além de não o procurarem nos finais de semana, aquele tocar lhe foi familiar. Conhecia a melodia. Sabia a quem pertencia. Fazia anos que não ouvia a música. Afinal, ela sumiu sem dizer adeus. Não sabia o paradeiro. Nem por onde procurar.

Atendeu confuso. Não sabia o que dizer. Muito menos o que iria ouvir. A doce voz do outro lado o cumprimentou. Carlos ficou nervoso. Respondeu, com voz trêmula, que estava tudo bem. Comentou sobre a surpresa da ligação. Ela perguntou se ele estava em casa e ouviu que sim. Perguntou se poderia subir. Ele pulou. Pensou rapidamente no que estava acontecendo. Disse que sim e se havia acontecido algo. Ela queria conversar pessoalmente.

Tomado pelo susto, correu para recolher as roupas molhadas de chuva que ficaram pelo caminho. O coração parecia querer saltar-lhe pela garganta. Lembrou do último encontro. De quanto ele foi bom. Da troca de carinho e de afeto. Das juras. Anos se passaram em segundos por sua cabeça. Congelou ao ouvir a campainha. Viu-se no espelho e sabia o que fazer. O vento frio que entrava pela janela aberta não o assustou.

Pronto. Estava cara a cara com o passado. Imaginou por anos aquele reencontro. Havia ensaiado várias vezes o que dizer, o que fazer. Foi incapaz de proferir o texto decorado. Apenas sorriu. Um abraço juntou mais uma vez aqueles corpos que tanto tempo estiveram juntos. Outro arrepio lhe correu pela coluna. Sua sorte era o moletom. Ficou imperceptível.

Ouviu aquela voz mais uma vez. Primeiro, um suave pedido de desculpas, de perdão. Disse que não precisava daquilo. Ela quis se explicar. Ele a impediu, dizendo que o que passou, passou. Só queria saber em que poderia ser útil. Sentiu-se frio ao dizer aquilo. Mas não foi de propósito. Tinha consciência de que não queria magoá-la. Ela pediu que apenas a ouvisse e assim o fez.

O vento frio o incomodou. Foi fechar a janela. Aproveitou e ofereceu algo: água? Suco? Café? Ela disse que água estaria bem. Lembrou da forma como sempre foi: um copo com muito gelo e pouca água. Mesmo no frio, sempre bebeu água assim. Ela sorriu ao ver que ele se lembrou de seu gosto. Não conseguiu disfarçar aquilo. Manuela olhou em volta e reconheceu o ambiente. Sentiu-se em casa, apesar que não queria. Sabia que sua chance já ocorrera.

Ela não queria explicar o que houve. Viu que tinha que procurar Carlos. Sabia que ele era algo mais. Ele simplesmente a completava. Demorou a enxergar isso. Falou sobre tudo isso com ele. Não sabia como seria a reação dele, mas tinha certeza que precisava falar aquilo para viver. Queria lutar por ele. Queria ele.

Carlos ouviu tudo. Não tinha forças para reagir. Era tudo o que ele sempre quis. A mulher de sua vida, sua alma gêmea, seu ar. Ela, ali, falando tudo o que sentia e o que queria. Os dois estavam vulneráveis. Ele quis abraçá-la e dizer que nada mais importava, desde que ficassem juntos. Conteve-se. Sabia que tinha que ouvir tudo, afinal, ela sempre soube o que ele sentia.

Por impulso, passou a mão em seus cabelos. Lembrava com cuidado de cada fio. Suas narinas foram invadidas pelo cheiro das madeixas. Sua pele sentia a maciez de tudo. Percorreu seu rosto e encontrou lágrimas. Notou que as suas também escorriam. Olhos nos olhos. A resposta para tudo já havia sido dada.

O homem amargurado sempre soube que a perdoaria no dia em que batesse a sua porta. Ele nunca deixou de amá-la. Foram anos. Sabia que ela era sua, assim como sabia que era dela. Era algo além. Tudo transcendia entre os dois. Foi assim desde o primeiro encontro. Quando passaram um noite inteira conversando a beira mar e se beijaram aos primeiros raios do Sol. Aquilo tudo havia selado o destino de ambos. Duas almas errantes que se encontraram para viver juntas.

Manu e Carlos, abraçados, olhavam pela janela e viam a chuva cair sobre a cidade. O frio tomava conta de todos, menos dos dois, que estavam juntos para se aquecerem. E ficaram ali, curtindo-se ao som das gotículas que teimavam em bater na janela.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Alma Gêmea

Já que você não está aqui
O que posso fazer
É cuidar de mim
Quero ser feliz ao menos,
Lembra que o plano
Era ficarmos bem...

Vento no litoral - Legião Urbana

Outro dia, recebi o e-mail de uma amiga falando sobre alma gêmea. Bom é que eu já sentia certas coisas sobre o assunto. E concordei em muito com o que ela me falou. Alma gêmea é quem te completa. Envolve amor, transcende o amor. São duas pessoas conectadas em outra esfera. Mas não envolve relacionamento carnal. Envolve conexão.

Sinto que duas pessoas podem ser almas gêmeas sendo amigas, parentes, pais e filhos, irmãos, amigos. Sim, podem ser também um casal, que se ama, que se completa, que se faz feliz. O importante é ter a consciência de que tem que se desejar a felicidade do outro, independe de vocês estarem juntos ou não.

Sinto que já achei a minha alma gêmea. Ela já entrou em minha vida. Me deu imensas alegrias. Colocou um sorriso em meu rosto que demorou a sair. Mas também fez escorrer lágrimas várias vezes. Tantas quantas as vezes que sorri. Sofri muito. Mas também fui feliz. Se bem que sou feliz.

Houve uma grande separação entre nós. Oceano. Milhas de distância. Silêncio.

O destino foi justo e promoveu um reencontro. Tudo foi esclarecido. Já não éramos mais os mesmos. Novas cidades. Novos “nós”. Novos estilos de vida. Novas pessoas em nossas vidas. Mas um sentimento que não saiu de nós foi o desejo que o outro fosse feliz. Acho que nunca vai sair. Tenho um carinho tão grande por ela, que nada me fará mudar o que tem dentro do meu peito. Ela tem lugar cativo. Transcendeu qualquer coisa.

Mas hoje doeu. Não doeu não estar com ela. Não doeu tê-la longe de mim. Doeu saber que poderia perdê-la. A garganta deu um nó ao saber o que ocorreu recentemente. Saber que poderia perdê-la mais uma vez. Já foi tão difícil trazê-la de volta. Não imagino o mundo sem ela. Não me imagino sem ela, por mais que não esteja comigo. O peito doeu, a garganta travou, o olho marejou.

Fico feliz em estar mudando a cada dia e de ter sido sincero comigo e com ela. Não tive receio em dizer que ela é minha alma gêmea. De explicar o porquê. De dizer o quanto ela me faz bem, mesmo que a distância. Não sei se a quero para mim novamente. Mas sei que a quero comigo, como amiga, como companheira. Quero que ela seja feliz.

Se você ler este texto um dia, saiba que o que eu mais quero é que você fique bem. Te amo, te adoro, te admiro. Torço por sua felicidade.

Escolhas

É notório a todos que a vida é feita de escolhas. Das nossas escolhas. Das dos outros que implicam em nossas vidas. Mas é incrível como somos cobrados pelas nossas e que não afetam a mais ninguém. Somente a nós. As pessoas se intimidam, sentem inveja, nos cobram atitudes, quando deveriam apenas aceitar.

Não se destrata ninguém, mas parece que o sim ou o não ofendem. Não se aceita aquilo. Você é repreendido por um ato de não querer ir, de fazer outra coisa, de se arriscar.

Sei que muitas vezes a brincadeira impera. Principalmente quando é gosto musical, cinematográfico, televisivo. Há uma pitada de sarcasmo nas frases de reprovação. Quem não usou isso que atire a primeira pedra. Mas dói receber isso. Mesmo sabendo que você tem o mesmo tipo de comportamento.

A dor é outra. Não é pelos gostos citados, mas é quando se fazem de vítima, dramatizando um fato simples e dando um horizonte negro de chuva para um copo d’água. Foi só um não. Foi só um sim. Foi. Nada inviabiliza nada. Não há impedimento da continuidade. Houve apenas outro caminho. Até porque a vida é cheia de caminhos e trilhas. Resta-nos apenas seguir aquele que nos parece mais favorável no momento.

Esbarrou no muro, peça desculpas e dê meia volta. Nada pode não ser consertado. Com jeitinho, se consegue as coisas. Enxergamos o melhor caminho. Espera-se que sem cobranças, até porque não há o que cobrar. Não há nada para cobrar. Não se exige amizade, carinho, amor. A gente consegue. A gente troca. Afinal, é tudo uma escolha.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Aquarela II

Tive vontade de continuar com o assunto do post Aquarela. Quem sabe é até a idéia original que resolveu sair. Falar somente das amizades por este Brasilzão. Amizades fortes, apesar da distância. Amizades que enciumam, apesar de não quererem substituir nenhuma outra. Amizades sinceras, apesar de algumas páginas coladas. Até as relações familiares ficaram mais fortes e transparentes com a distância. Foram potencializadas.

Amigos que não se vêem e nem se falam por séculos, com um único abraço e dois minutos de prosa, parece que nunca se separaram. A cumplicidade é enorme. Basta enxergar os olhos, que se complementam, que denunciam, que conversam. As piadas, as histórias, as lembranças. Um entende o outro perfeitamente pelo olhar. Não precisa explicar mais nada. Já foi parar na testa. Até parece conversa telepática.

Pena que a distância cause isso. Às vezes, nem é física. Fica por conta das atribulações da vida. A correria do dia-a-dia. Estão sempre se vendo, mas não em contato. Mas basta um momento mais longo e pronto, tudo voltou ao que era antes. Nada tira isso.

O melhor são as amizades que começaram do nada, como quase todas. E ficam tão fortes que causam ciúmes nos outros. Mas não é a intenção. Você quer ser apenas mais um amigo. Não quer tirar ninguém do páreo. Até porque é uma coisa sua: fazer amizades. Dar atenção e carinho. Receber a mesma coisa. E faz sim esperando algo em troca, pois sabe que o altruísmo é utópico.

As amizades ficam tão fortes que as pessoas sentem inveja. Já inventam coisas. Ou não. Acham que o clima é tão legal que sugerem coisas. Poucos são os que entendem que ali há apenas amizade. Paixão de amigos. Tenho vários casos assim, de ser apaixonado por meus amigos. De gostar tanto deles e não ter vergonha de dizer que os amo. Já disse várias vezes e espero continuar a dizer sempre. Mas essa grande aquarela brasileira não permite o contato constante. Ainda bem que há tecnologia para matar as saudades. Pôr o papo em dia.

O importante é que os novos e os velhos amigos são insubstituíveis. Termino até com uma frase que recebi hoje e que me inspirou para escrever, além de outras coisas: não há como esquecer você.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Sorrisos

Incrível como um dia pode começar bem porque você acorda sorrindo. Você sente que o dia vai ser proveitoso. Que tudo vai dar certo. E dá. Murphy esqueceu que você existe. Tudo vai certinho, em linha reta, apesar das curvas na estrada.

Caras conhecidas. Trabalho mais que conhecido. Reconhecimento profissional. Sorriso conhecido. Tudo junto. Tudo num dia. Pessoas novas, pessoas antigas, pessoas surpreendentes. Clima perfeito, apesar da chuva que caia desde o início da semana. Uma manhã ensolarada, mas que deu lugar a chuva e trovão.

Sentia-se uma energia boa, que te fazia sorrir por tudo. Mesmo em momentos tensos. Nada de nervosismo. Nem quando algo poderia te fazer perder a linha. Foi olhar e sentir que tudo estava bem internamente. Que o sorriso fluiu sem dificuldade. Que se tinha superado um medo e que isso te fazia bem. Saber que venceu mais uma batalha.

A situação foi tão boa, que o sorriso não saiu mais. As largas avenidas em direção ao aeroporto. O vento úmido da cidade conhecida pela baixa umidade. O eixão para chegar na casa da Noélia. O papo engraçado dentro do táxi. Tudo aumentava o potencial daquele sorriso que veio para ficar. Nem o pesadelo da noite mexeu com ele.

Sentar na cozinha. Ouvir músicas que você tem escutado a semanas. Ver um pôr-do-sol sobre as nuvens que teimavam em derrubar suas gotas de chuva. Ler. E ele continuava ali, quieto, mas constante. A sensação que o colocou no rosto não ia embora. Nem quero que vá.

O caminho de volta para a casa vazia não incomodou. Muito menos chegar nela. Tudo foi tão bom. Ligação. Mensagens. Msn. Até o biscoito de chocolate com leite puro teve um gostinho especial. Parece que nada modifica a sensação. E ele continua ali, firme e forte, mostrando que tudo está bem. Que tudo vai continuar bem.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Aquarela

Os versos cantados de Aquarela Brasileira são a inspiração para uma vida de viagens, de amigos distantes, de família longe. Sair por ai, cantarolando a maravilha de cenário que é este país, tem um peso. Ainda mais quando você pára e pensa que já conhece uma boa parte dele. E o melhor, cada vez mais conhece pessoas que te fazem bem nessas andanças mundo afora.

Só em ter a família distante, cuja a saudade morre a cada vez que se liga uma câmera, que se escuta uma voz que mexe fundo no coração e se imagina aquela cena que se repetia a cada domingo: uma mãe na cama fazendo cafuné na cabeça do filho e ambos de olho no homem do dinheiro. Saudades de uma época que não havia carência.

Mas a melhor surpresa dessa aquela é conhecer pessoas que não vão reconstruir sensações do passado. Até porque são únicas. Porém, elas podem construir outras. Não melhores e nem maiores. Cada uma é única, independente da complexidade. E são pessoas espalhadas por este mundo de ai meu Deus. Porteira afora.

Sem mais nem menos, a gente encontra pessoas que te fazem sentir bem. Uma companhia para uma caminhada, um bom papo ao dividir um cachorro quente, uma troca de cafunés sem compromisso, uma mensagem dizendo que sente saudades, uma ligação espontânea para saber como você está. Isso vindo de todas as partes. Por isso essa maravilha de cenário. Não só pela beleza desse Brasil, mas pelas pessoas que nele habitam e que você teve a sorte de conhecer.

E o melhor de tudo é poder retribuir o que se ganha. Ainda mais quando se conquista uma nova amizade, mais uma pessoa para trocar carinhos e experiência. Troca sincera de sorrisos. Cumplicidade acima de tudo, independente se é no trabalho, em casa, na rua ou no shopping. Rever, conhecer, encontrar ....

Acabei me perdendo da idéia original, mas o bom é a licença poética para mudar. Ainda mais num mundo que rotaciona, translada e transmuta. Cada dia uma nova oportunidade. Cada minuto. O negócio é aprender a não perdê-la. Nem que venha uma careta para o seu lado. Há sempre o fator surpresa.

Surpresas cearenses, cariocas, paranaenses, gaúchas, potiguares, brasilienses, baianas, paulistas, capixabas, pernambucanas ...... brasileiras.

sábado, 8 de novembro de 2008

Inspiração

Nem sei o real motivo de escrever hoje. Mas estou me sentindo tão bem comigo mesmo, que me deu uma vontade de gritar, de escrever, de cantar, de me declarar, de amar. Muita coisa. Tudo ao mesmo tempo agora. Ainda mais embalado por uma Cássia Eller, cantando Luz dos olhos, numa versão ao vivo.

O bom é que a música, de letra forte (valeu Nando Reis), não me deixa triste. Independente de coração estar quebrado ou inteiro, batendo forte no peito. Ela me faz querer gritar. Corre uma energia pelo meu corpo. Daquelas que travam a garganta. Ainda mais depois de um bom dia. Nada de mais. Nada de especial. Apenas um bom dia.

Apesar da preguiça de sair da cama, o mundo continua girando e você tem coisas a fazer. Levanta, computador, msn, bate-papo, amigos, telefonema, mãe, quarto, sala, bagunça, ordem, leite, mensagem, banho, dentes, roupa, sapato, porta, elevador, caminhada, encontro, conversa, amigo, almoço, caminhada, vista, sol, museu, cinema, animações, papo, risadas, Greta, feia, risadas, paquera, cerveja, blues, metrô, tchau, caminhada, elevador, porta, computador, msn, amigos, sanduíche, suco, papo, músicas, Cássia, texto, blog.

Só deu vontade de escrever sobre isso. Sair por ai, ouvindo uma boa música, sentindo o vento no rosto. Apenas uma caminhada noturna em um sábado quente. Não sei o que este dia teve de bom mesmo, que pudesse me deixar assim. Acho que foi apenas um dia bem vivido. Sinto que aproveitei o que a cidade pode me oferecer. Não sei se todo o potencial, mas foi algo bom.

A única coisa que sinto falta agora é de receber um cafuné. Não queria nada além disso. Uma mão em meus cabelos. Afagos. Carinho. Cuidado. Vai ver é o que preciso, de alguém para cuidar de mim. Mas também quero cuidar. Quero trocar o carinho recebido. Ficar abraçado. Juntinhos.

Afinal, “passo as tarde tentando te telefonar. Cartazes te procurando. Aeronaves seguem pousando sem você desembarcar. Para eu te dar a mão nessa hora”.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Copo meio cheio

Crise financeira. Eleições norte-americanas. Corte de gastos. Suspensão de atividades. Quebra da bolsa. Alta do dólar. Tudo isso junto impõe receio em uma população que está desacreditada no que está por vir. Que mudanças esse novo paradigma geopolítico vai trazer para o mundo? Sei que muitos não estão nem ai. Acham que o que ocorre do outro lado do planeta não vai afetar em nada a sua vida.

Creio um pouco na teoria do bater de asas de uma borboleta cria um tufão em algum outro lugar. Mas também acredito que um copo na metade está meio cheio. Sou uma pessoa otimista e que crê num mundo melhor. Espero muito que essa crise econômica passe logo. Quem sabe a eleição de Barack Obama seja um bom caminho para isso. A trilha para a ordem.

Mas não posso negar também que tenho medo. Medo de estarmos realmente no fim dos tempos. Não quero escrever sobre religião, só que não dá para não pensar a respeito. É tanta desgraça acontecendo, tanta crueldade gratuita. Já escrevi sobre isso, basta olhar no histórico.

Agora, eu não quero acreditar nisso. Eu creio no homem. Creio na bondade. Pior que falei isso outro dia no táxi e o motorista disse que o mundo ainda era cheio de esperança porque havia pessoas como eu, que acreditavam em Papai Noel, fadas e duendes. Não possuo esse perfil, mas sei que devo acreditar nas pessoas, no bom caráter. Vou bem pela fábula do beija-flor. Apenas faço a minha parte.

Com toda essa problemática, meu maior receio é que nós entremos na cegueira branca do Ensaio sobre a cegueira, do José Saramago, que virou filme nas mãos de Fernando Meireles. Não li o livro, apenas vi as cenas na telona. E aquilo tudo me chocou. Meu medo é irmos nessa direção: para o caos, para a anarquia. Em 1929, quando houve a Grande Quebra e a Depressão, a maior parte da população estava no campo. Era plantar para ter o que comer. Hoje, a situação é outra. Já há escassez de alimentos em várias partes do globo. Torço para que as coisas não saiam do controle e tudo isso passe logo.

Tenho a esperança de fazer as coisas que sempre sonhei. Não é pensamento egoísta. Apenas quero que as coisas boas se realizem. Nunca fui de desejar o mal. Mas também não vou entrar em discurso de Miss e dizer que quero a paz mundial. Quem não quer isso? Eu quero apenas um mundo que se desenvolva com sustentabilidade, justiça social e equilíbrio econômico. Tal como a esperança final do filme de Meirelles, onde um está disposto a ajudar o outro.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Blá blá blá

O incentivo ao avanço tecnológico, assim como a adoção de políticas descentralizadoras pode nos levar a considerar a reestruturação dos relacionamentos verticais entre as hierarquias. O cuidado em identificar pontos críticos na crescente influência da mídia facilita a criação do sistema de formação de quadros que corresponde às necessidades. Do mesmo modo, o surgimento do comércio virtual assume importantes posições no estabelecimento do orçamento setorial. É claro que o julgamento imparcial das eventualidades exige a precisão e a definição do fluxo de informações.

Percebemos, cada vez mais, que a valorização de fatores subjetivos estimula a padronização das direções preferenciais no sentido do progresso. Todas estas questões, devidamente ponderadas, levantam dúvidas sobre se a determinação clara de objetivos faz parte de um processo de gerenciamento de alternativas às soluções ortodoxas. Neste sentido, a consulta aos diversos militantes obstaculiza a apreciação da importância dos procedimentos normalmente adotados. Desta maneira, a constante divulgação das informações aponta para a melhoria das diretrizes de desenvolvimento para o futuro. Gostaria de enfatizar que a contínua expansão de nossa atividade é uma das consequências do retorno esperado a longo prazo. Por outro lado, a execução dos pontos do programa desafia a capacidade de equalização das novas proposições.

O que temos que ter sempre em mente é que o desafiador cenário globalizado nos obriga à análise das regras de conduta normativas. Nunca é demais lembrar o peso e o significado destes problemas, uma vez que o novo modelo estrutural aqui preconizado acarreta um processo de reformulação e modernização do levantamento das variáveis envolvidas. Todavia, a hegemonia do ambiente político maximiza as possibilidades por conta do processo de comunicação como um todo. A nível organizacional, o aumento do diálogo entre os diferentes setores produtivos cumpre um papel essencial na formulação da gestão inovadora da qual fazemos parte.

Podemos já vislumbrar o modo pelo qual a revolução dos costumes agrega valor ao estabelecimento das condições inegavelmente apropriadas. No mundo atual, a percepção das dificuldades não pode mais se dissociar das condições financeiras e administrativas exigidas. Pensando mais a longo prazo, a competitividade nas transações comerciais possibilita uma melhor visão global dos conhecimentos estratégicos para atingir a excelência. Assim mesmo, o acompanhamento das preferências de consumo talvez venha a ressaltar a relatividade dos modos de operação convencionais. Evidentemente, a expansão dos mercados mundiais estende o alcance e a importância do remanejamento dos quadros funcionais. Caros amigos, a necessidade de renovação processual garante a contribuição de um grupo importante na determinação dos níveis de motivação departamental.

domingo, 2 de novembro de 2008

Maçaneta

Outro dia, conversando com uns amigos no almoço, comentei que tinha criado este blog. Me perguntaram sobre o que era e tal. Tentei explicar que escrevia sobre coisas, pessoas, casos. Uma coisa bem geral mesmo. Minha visão sobre o mundo que nos cerca. Ai vieram com uma piada que eu escreveria até sobre maçanetas. Na hora, todos rimos. Depois, quando cheguei em casa, pensei em escrever sobre isso (faço uma lista de temas que tive inspiração).

Mas o que escrever sobre maçanetas? Colocar a definição do dicionário? Falar sobre gíria (mulher-maçaneta)? Fiquei meio perdido sobre como deslanchar o texto. Acho que a melhor forma é trabalhar com uma alegoria. Tratar a vida como uma casa, onde temos os mais variados tipos de aposentos, sendo que há portas para cada um desses espaços. Em cada porta, uma maçaneta. Ela que te permite o acesso a um novo espaço, que você não faz idéia do que esteja por trás daquela porta. Muitas vezes, temos apenas noção porque olhamos pelo buraco da fechadura.

A curiosidade humana é imensa. Olhamos pelo buraco da fechadura para explorar o universo, o mar, o corpo. Mas sempre há uma porta, uma maçaneta a ser tocada, girada, para se abrir um novo mundo de possibilidades.

Outra alegoria que podemos fazer sobre o objeto em questão é a virtual que cada pessoa possui, permitindo a entrada de felicidade, tristeza, amor, pessoas, prazer. Não quero relação ao falo (o que pessoas de mentes poluídas podem fazer). Mas sabemos bem o que é nossa maçaneta. Os pontos físicos ou psíquicos que, quando tocados, girados, apertados, abrem as portas que mantemos fechadas para as pessoas, para os sentimentos e para nós mesmos. Precisamos de estímulos. Sabemos que um cafuné, um beijo no olho, um “eu te amo” abrem portas. Mas também fecham. Quando não queremos mesmo. Ai passamos chave, usamos o batom, passamos a tetra, colocamos a correntinha. Quando não empurramos um móvel para obstrui-la.

Me perguntei agora, ao escrever este texto: como eu deixo minha porta? Apenas encostada? Com a chave? Passo tudo o que foi citado acima? Creio que minhas diversas portas possuem as mais diversas trancas e serviços de segurança: câmera, seguranças armados, pitbull. Mas também há algumas onde retirei a porta, ficando só o vão, o portal. Entra quem quer. Sai quem quer.

Bom que nessa de sair, também acabamos prendendo as pessoas, os sentimentos. Deixamo-os entrar, mas não queremos que saiam, que se aventurem por outras paragens. Ai sofremos mais uma vez. Seja por não deixar entrar, seja por não deixar sair. Temos é que deixar as portas encostadas, como as de emergência. Mas que fique claro que elas devem abrir dos dois lados. Facilitando acessos. Permitindo o ir e vir. A fluidez que deve ser a vida. Quem vem para ficar, fica. Não precisa trancar a porta. Bloquear a maçaneta.