domingo, 19 de outubro de 2008

Medo

Esta vida é uma estranha hospedaria
De onde se parte quase sempre às tontas
Pois nunca as nossas malas estão prontas
E nossa conta nunca está em dia.
Mário Quintana

Sempre fui uma pessoa medrosa. Já me arrisquei muito também. Quando decidi mudar de cidade, arriscar tudo, todos me acharam corajoso. Eu também me orgulho disso. Ter saído de casa, do conforto do lar dos meus pais, com a cara e a coragem no bolso e estar vencendo na vida. Vivendo e sobrevivendo. Nem vou entrar no mérito do crescimento, do amadurecimento. Mas, mesmo como tudo isso, continuo a sentir medo.

Creio que o medo é parte integrante da vida. Não existe ser humano neste mundo que não tenha medo. Medo da vida, medo da morte, medo de amar, medo de insetos, medo.... Medo de sentir medo. Sei que tenho vários, mas sempre os enfrento, quando posso. Ou quando quero. Mas decidi não mais ter medo de viver e de amar. O porquê disso? A efemeridade da vida.

Dois casos, bem próximos, mexeram um pouco comigo. Por dias, fiquei com isso na cabeça, me perguntando se tivesse sido comigo. Será que meus medos fariam com que eu me arrependesse de não ter realizado coisas? Duas pessoas do trabalho, um mais próximo e o outro apenas um conhecido de vista passaram por revelação e passagem.

O que trabalha diretamente comigo sofreu um grave acidente de moto. Traumatismo, costela quebrada, pulmão perfurado. Hospital por dias. Mas a certeza da vida. De poder respirar. Tenho certeza que ele já é um novo homem. O outro, apenas conhecido de vista, foi mais grave. Com uma história confusa e que acaba em morte, ele fez a passagem com apenas 22 anos. Detalhe: os dois casos ocorreram em menos de sete dias.

Refleti tanto sobre essas duas histórias relatadas que vi o quanto meus medos estavam me impedindo de viver, de tentar ser feliz. É só o que eu quero. Ainda não posso abrir a boca e dizer que não tenho medo disso ou daquilo. Mas o medo da morte me fez deixar de ter medo da vida. Os dois não devem habitar o mesmo corpo, a mesma mente.

Acho que isso tudo só me foi possível porque comecei a enfrentar vários medos internos. Ter consciência de mim mesmo. Uma vez, conversando com uma amiga, que hoje é psicóloga, disse que eu era meu próprio analista. Ela brincou dizendo que eu estava tomando o emprego dela. Mas, falando sério, sempre me analisei muito. Não posso dizer que me conheço 100%, porém me conheço bem. Sei quais as reações que vou ter. Quero mudar algumas, já que muitas estão relacionadas ao medo.

Já decidi, há certo um tempo, de não mais ter medo de expressar meus sentimentos. Agora eu consigo dizer em alto e bom som que eu amo, que eu desejo, que eu quero. Desde criança eu sei dizer eu te amo. Mas nunca fui de falar para quem não fosse minha família. Hoje, posso dizer para quem amo, seja família, amigos, colegas ou meu grande amor que os amo. Lógico que todos têm suas intensidades, mas não tenho mais medo da reação de ouvir um eu te amo. Eu sei que também tenho medo de ouvir, ainda mais quando não se espera ou de quem você nem imagina.

Quero terminar este texto dizendo uma coisa para mim e que servirá para você: Procure não ter medo de ser você mesmo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Belo texto! Eu confesso que já tive três blogs, mas nenhum me fez sentir completa. O que eu fiz? Apaguei todos. Deletei os textos e recomecei. Desta vez quero contar histórias da vida real, mas que parecem ficção. Não sei se dará certo, mas tento. Rs. Adorei seu cantinho e vou visitar sempre. Bj.

Anônimo disse...

The best post so far...