Todo mundo fala sobre as características de ser primogênito, filho do meio ou caçula. Os prós e os contras de quem nasceu primeiro, por último ou entre os dois. Mas, psicólogo de mim mesmo, já vinha pensando sobre mais características além das relatadas por especialistas. Afinal, é um depoimento de um nativo. E com certas particularidades que escapam a muitos.
No auge de meus 29 anos recém-completados, sempre me analisei muito e alguns acontecimentos recentes me fizeram enxergar mais características, que em parte vejo relacionada com o fato de ser filho do meio, nascido entre um irmão quatro anos mais velho e uma irmã caçula 10 minutos mais nova. Isto mesmo, sou gêmeo bivitelino. Tudo isso fez com que eu possuísse certas características que analiso agora e que podem ser aplicadas em várias outras situações e para várias outras pessoas.
Não querer estar só – Como dividi tudo em minha vida desde o parto, sempre desejo a companhia de alguém. Primeiro dia de aula nunca foi traumatizante. Coleguinhas novos sempre vieram, mas sabia que teria a companhia de minha irmã e vice-versa. De alguma forma, isso foi fácil. Mas adulto e com atitudes bem diferentes, continuo a passar pelo dilema de fazer certas coisas sozinho. E olhe que adoro minha companhia. Passei mais de um mês viajando só. Diverti a mim mesmo, mas sempre me limitava a certos programas. Noitada nunca foi meu forte sozinho. Acho que é a síndrome do primeiro dia de aula e de ver novos rostos.
Coisas de segunda mão – Como meu irmão é o primogênito, sempre herdei suas coisas. De brinquedos a roupas. Lógico que tive meus ganhos diretos, mas a maior parte das quinquilharias, que adentraram em minha vida, foi de segunda mão. Vale até para as roupas de primo um pouco mais velho. Nunca me importei muito. Até cheguei a disputar camisas com meu irmão, de querer usar as suas coisas. Vislumbrei outro dia isso quando peguei umas roupas usadas de um amigo. Não vi e não vejo problema. Há quem não goste. Eu curto, pois sai até mais econômico. Não é pão-durice, pois compro quando necessário. Gosto de ter coisas novas. Mas não me incomodo em ter peças usadas.
Chamar a atenção – Pelo fato de estar entre um irmão mais velho e uma irmã mais nova, acredito que sempre necessitei de um pouco mais de atenção, chegando a provocar as situações. Não é a toda que eu era o mais arteiro dos primos, perdendo apenas para uma prima. O detalhe é que vivíamos juntos, sinônimo de casa destruída. Mas essa característica de chamar a atenção vem da necessidade de aparecer depois dos feitos dos irmãos. Pelo fato de ter o mesmo sexo do mais velho e o oposto da caçula, acredito que quem nasce com esta condição também passa por isso, além da herança de roupas. Necessidade de autoafirmação para ter vez e voz e nunca ficar jogado de escanteio. Porém, nunca usei isso para o mal. Sempre fui comportado (na medida do possível). Mas vejo isso de forma diferente na fase adulta. Necessito disso de alguma forma, nem que seja com um relato semelhante ao que contam em uma rodinha de amigo. Preciso me mostrar. Não de forma negativa ou intencional. Por vezes, fico me ordenando para me conter e não me expor. Depois brigo comigo por ter feito mais do que deveria. Assim por diante. Nem sempre dá para comentar tudo. Isso tem que virar meu mantra.
Total independência – É fato que os filhos do meio são mais independentes que o restante. Eles precisam se virar mais nos 30 que os outros. Até para chamar a atenção acima. Quando veem que não há escapatória e que precisam tomar as atitudes, o sentimento de independência é bem mais forte. Não há quem passe a mão na cabeça. De certa forma, você se enxerga só no mundo e tem que se virar para sobreviver. Muitos criticam meu sentimento de total independência, de não consultar ninguém. Mas isso está introjetado. E quando fica mais forte, você acaba sendo líder ou tratorando* a situação. Chega a ser engraçado, pois mesmo em minha total independência, há certas coisas que não me vejo fazendo só tão facilmente, conforme a primeira característica apresentada.
Imperativismo – Por conta da independência e da necessidade de se impor para ter vez e voz, já que escutam o primogênito e o caçula, a pessoa adquire o tom imperativo em suas falas. Pelo menos eu tenho. Não há alteração no tom da voz, mas a forma como se fala parece que se está brigando, quando não o é. Notei isso em uma conversa com uma amiga de trabalho, que disse que eu não gritasse ou brigasse com ela, que não havia motivo. E perguntei quem estava brigando com quem. Foi ai que notei o tom imperativo em minha fala. Acredito que também venha do tempo de pintar o sete, quando toda a culpa recaia sobre mim, mesmo não tendo sido eu o autor de tamanha arte. Fica como mecanismo de defesa.
Sei que venho tentando ter consciência de tudo isso em meu dia a dia para evitar constrangimentos ou uma boca grande quando participar de certas conversas. Por vezes, há má interpretação de quem escuta. Também não é justificativa para os atos. Mas pode servir como meio para a compreensão do porquê de certas coisas. Afinal, isso pode acontecer com qualquer um, mesmo com quem não seja filho do meio.
* Tratorar – gíria utilizada para designar quando alguém toma conta da situação e dita as regras ou o que vai ser feito. Não chega a ser ditadura, mas a pessoa fica com uma liderança mais extremada.
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