terça-feira, 31 de março de 2009

Moska com dois Xs

É, sei que o título saiu estranho, mas há uma boa explicação. Fui num show, na última sexta, de uma promessa da música brasileira. No alto de seu banquinho e com 22 anos, a franzina paulistana Maria Gadú está encantando a todos que a ouvem. Ainda meio sem jeito frente ao público, ela mostra toda a sua magia ao pegar o microfone e fazer o que sabe bem: cantar, encantar.

A timidez ou a falta de jeito não diminuem em nada sua qualidade vocal. Creio que faz parte de sua composição de artista. O jeitinho de menina, as pernas dobradas sobre o banco, a forma como toca o violão. O show intimista, no qual houve apenas o acompanhamento de seu percursionista e a participação de um amigo cantor, o Leandro Leo.

Lembro bem de ter ido esperando uma coisa. Mas me enganaram. Haviam me dito ela era estilo Ana Carolina, quando a pessoa estava bem equivocada. Maria Gadú está em outro estilo, mais para um Paulinho Moska de saias. A cantora me remeteu aos shows do Moska que acompanhei. Foi o primeiro nome que me veio a cabeça com os primeiros acordes e versos. Depois, com o decorrer de sua apresentação, passaram outros nomes pela cabeça, como Lenine e Céu. Tanto que fiquei surpreso ao ouvir Gadú cantar uma música de Céu, Rainha.

Ah, quase ia esquecendo de dizer que a moça é a compositora da maior parte de seu repertório, que inclui versões um tanto curiosas, como o Baba Baby, da Kelly Key. Gadú canta também composições de amigos. As letras falam do cotidiano da vida, principalmente, dos relacionamentos. Linda Rosa, uma das que mais gostei, fala exatamente disso, dos “pobres desses rapazes, que tentam lhe fazer feliz”. Há músicas de batidas mais rápidas também, passando por um samba, por um soul. Mas uma versão que achei bem interessante foi de Ne me quitte pas, quando Gadú pediu desculpas antes de começar a cantar os primeiros versos. Motivo: o show foi no auditório da Aliança Francesa.

Ela ainda está para lançar seu primeiro CD. Fiquem atentos a esse nome. Principalmente aqueles que puderem ir conferir as próximas apresentações de que tenho conhecimento: dias 12, 19 e 26 de abril, na Cinemateque, em Botafogo.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Ausência

Fiquei tão ausente de mim mesmo estes dias que não me permiti escrever tortas linhas. Sentia faltar de escrever, de pôr no “papel” as minhas questões e impressões da vida, do mundo ao meu redor. Mas essa ausência não foi provocada por nada em especial. Foi apenas um tempo necessário para que eu pudesse me afastar de mim mesmo e enxergar certas coisas que estavam influenciando diretamente as minhas atitudes.

O tempo é o melhor remédio para muitas coisas e foi esse tempo que eu precisava tomar para ter contato comigo mesmo. Poder ver meu interior e tentar solucionar aquilo que me afligia. Não sei se conseguir atingir o cerne da questão, mas consegui vislumbrar saídas e entradas de coisas ruins e boas. Da construção de um novo eu: fortalecido, decidido, corajoso.

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Nesse meio tempo, minha visão passou por tanto lugares. Locais novos e inexplorados da cidade. Filmes que encantaram os olhos e apaziguaram o coração. Alguns deles até relevadores dessa personalidade conhecida em minha ausência. No resumo da ópera, foram tantas coisas que não sei nem por onde começar.

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Falemos então de filmes, resumidamente, óbvio. Nesse meio tempo, vi quatro filmes muito bons, sendo dois no cinema e dois na TV.

1- Milk – A voz da igualdade, de Gus Van Sant, pelo qual o Sean Penn ganhou o Oscar de melhor ator. O filme não trata apenas dos direitos dos homossexuais numa São Francisco da década de 70. Ele trabalha com direitos humanos de uma forma geral. O filme narra a história de Milk, um gay nova-iorquino que se muda para São Francisco e acaba entrando na política para ajudar os moradores de seu novo bairro. Tudo lá foi fato real, inclusive o assassinato do prefeito e do próprio Milk, que acabou por mudar a rotina de toda uma cidade em pelo crescimento.

2- Quem quer ser um milionário?, de Danny Boyle, é o grande merecedor do Oscar desse ano. Roteiro simples e direto sobre um amor infantil que dura anos. De origem pobre, como muitos garotos na Índia, Jamal é mais um tentando ganhar dinheiro honestamente. Selecionado para participar de um programa de perguntas que distribui até 20 milhões de rúpias, Jamal responde as perguntas sempre relacionando a fatos de seu passado, da infância à véspera do programa. Com uma estética que se assemelha ao Cidade de Deus, o filme é mais leve e descontraído. Mereceu todas as estatuetas, exceto a de fotografia, que merecia ter ido para o Benjamin Button.

3- O amor não tira férias, de Nancy Meyers, narra a história de duas mulheres que sofrem de amor. Uma está inscrita num site sobre troca de casas para período de férias. A outra passa por uma decepção e procura uma fuga para seus problemas. Mas, como o próprio nome da comédia romântica diz, não há férias. Uma sai da fria Londres, em pelo inverno, para passar duas semanas na casa da ensolarada Los Angeles. Nesse período, tudo na vida delas muda. Até porque podemos considerar mais um milagre de Natal, período do ano em que se passa a história. A americana, vivida por Cameron Dias, acaba conhecendo o irmão, Jude Law, da britânica, interpretada por Kate Winsley. Esta, por sua vez, conhece o melhor amigo do ex da americana, Jack Black (ou seria Blergh). Sei que me identifiquei com traços dos quatro personagens.

4- P.S.: Eu Te Amo, de Richard LaGravenese, traz a história de Holly, uma mulher apaixonada pelo marido que morre de forma inesperada, mas que deixa várias cartas para ela, mostrando que ela deve seguir a sua vida e finalizando com o que dá o nome ao filme. Com uma trilha sonora impecável, você acompanha os passos de uma mulher que não consegue superar a dor da perda, mas que busca forças para seguir um novo caminho. Para quem não está no espírito da coisa, melhor não ver, pois lágrimas certamente irão rolar. As músicas as conduzem. O drama todo, mesmo em sua leveza e sutileza, conduz para tal. Holly recebe apoio da mãe, uma mulher mais fria pelo sofrimento de ter sido abandonada pelo marido, a irmã louca, de uma amiga tarada e de uma outra, mais centrada. Os sorriso acompanham os sorrisos da personagem, assim como as lágrimas. Mas é inegável que o filme, apesar de simples, é perfeito em sua proposta de sensibilizar.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Direitos & Deveres

Varias coisas, lidas e vistas, me fizeram querer escrever sobre este tema. Não sei se já o abordei de alguma forma aqui, mas não há como escapar dele. Até porque tudo em nossa vida passa pelos nossos direitos e, principalmente, sobre os nossos deveres.

Admiro os que levantam a bandeira dos nossos direitos, dos que falam dos deveres dos outros. Mas, e dos nossos deveres? Isso é quase nunca. Raramente, vejo alguém com essa bandeira em punho, flamulando sobre as nossas cabeças. No máximo, vejo alguém dizer que é dever do Estado, do governo etc. Mas, quero ver alguém levantar e peitar a luta pelos nossos deveres.

Um bom exemplo disso é o direito que temos de ter a cidade limpa e o dever que a prefeitura tem de manter o lixo no lixo. Afinal, pagamos nossos impostos. Mas, onde fica nosso dever de cidadão de zelar pelo espaço público? Teríamos nós o direito de jogar papel no chão ou de deixar os “restos” de nossos cachorrinhos pelas calçadas da cidade? Creio que não. Ou melhor, sei que não.

Mas vou tentar entrar em outra seara mais delicada. Porém, seguindo para o lado dos direitos. Como o direito que temos de ficar vivos. Espantou-me a Igreja Católica (Hipócrita) Romana excomungar a mãe e os médicos envolvidos em um aborto feito numa criança de nove anos que estava grávida de gêmeos. O ocorrido foi em Recife, PE. A menina engravidou após ser violentada pelo padrasto.

O ápice do caso com a excomunhão é uma mostra de como a Igreja é conservadora para umas coisas e conivente com outras. A garotinha (que repito: foi violentada) corria risco de morte. Seu corpo, ainda em formação, não teria como abrigar uma gravidez de risco, por sua idade e por serem dois bebês. Mas a Igreja preferiu fechar os olhos para a violência que assola nosso país, principalmente a velada e que se dá dentro de casa, e castigar o direito à vida que a menina possui.

Queria saber o posicionamento do tal arcebispo de Recife se fosse o caso de umas das crianças de Catanduva, no interior de São Paulo. Além da violência físico-psicológica que elas sofreram, ainda foram exploradas sexualmente. Será que ele manteria o mesmo posicionamento? O que me deixa mais estarrecido é o fato da Igreja ignorar todo o problema e se focar em uma coisa tão efêmera, frente à problemática geral da violência contra crianças e adolescentes.

Gostaria de esclarecer que o que me motivou a escrever este pequeno ato de protesto contra a hipocrisia de nossa sociedade foi o fato de estar cansado de ver Direitos Humanos sendo violados enquanto nós, me incluo nessa, ficamos de braços cruzados. Todos nos revoltamos quando lemos que bandidos jogaram um casal de um paredão a beira-mar no Rio de Janeiro, mas consentimos que outros atos violentos (alguns já relatados aqui) sigam em frente sem a menor consequencia (olha a reforma ortográfica) para os seus causadores.