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Verdes campos irlandeses
Na última sexta-feira, tive o grato prazer de ir ao espetáculo teatral Pedra nos Bolsos, no Teatro Poeira, aqui no Rio de Janeiro. Em cartaz durante os meses de julho e agosto, a peça conta a história de uma pacata cidade no interior da Irlanda que serve de cenário para uma grande produção hollywoodiana. Os fatos narrados, com base no texto de Marie Jones, mostram o impacto no dia a dia da pequena vila, onde quase todos os seus habitantes são parentes.No palco, show de interpretação de Luiz Furlanetto e Paulo Trajano, dirigidos por David Herman. Eles interpretam cerca de 15 personagens, mas passam a maior parte do tempo como os figurantes Charlie e Jake, que tentam ganhar a féria do dia em meio ao cotidiano da vila, que não se altera (muito). Isso até o clímax, quando surge a justificativa para o nome Pedras nos Bolsos.
A trama vai evoluindo de forma compassada, com picos de emoção graças ao jogo de luzes e uma bela trilha sonora, além dos próprios atores. O cenário simples, mas tão bem aplicado do próprio diretor, nos leva aos campos irlandeses. Todo esse clima ajuda a compor e mudar os personagens, pois não há troca de roupa no palco. Muda-se tom de voz, postura, feições. Os recursos da ótima iluminação de Wilson Reiz ajudam a marcar o momento de trocar. Há diálogos protagonizados pelos atores e seus próprios personagens. E não fica com cara de monólogo. Há um “outro” em cena.
Para quem possui mais curiosidade sobre a peça, ela foi escrita por uma britânica tentando criticar o universo do grande cinema, que esquece a arte pelas gordas cifras financeiras. Pedra nos Bolsos já foi encenada na Broadway, com ótimas críticas. Aqui no Brasil, não está sendo diferente. A montagem do David é de encher os olhos e não deixa nada a desejar.
Serviço
PEDRAS NOS BOLSOS - Comédia
Temporada: de 02 de julho a 29 de agosto
Local: Teatro Poeira - Rua São João Batista, 104 - Botafogo – Rio de Janeiro - RJ
Telefone: (21) 2537.8053
Horário: sexta e sábado às 21 horas/domingo às 19 h
Preço: sexta R$ 30,00/Sab. e dom. R$40,00
Lotação: 180 pessoas
Duração: 80 minutos
Classificação etária: 12 anos
Horário da bilheteria: de terça a sábado de 15h às 21 h e domingo de 15h às 19h
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Mais que bem amado
Com uma interpretação magnífica, Marco Nanini dá vida a Odorico, que se elege com promessas de construção do primeiro cemitério da cidade, mas Sucupira é tão pacata que falta morto. Denúncias de corrupção n a construção do novo lar dos mortos e o desespero de Odorico para enterrar o primeiro morto da cidade dão vida à trama. As perseguições políticas a Odorico dão o time certo para as piadas, além de criar os melhores discursos na melhor aplicação do estilo “estrogonoficamente sensível”. Antes da telona, Nanini deu vida a Odorico no teatro, o que lhe valeu para a criação de novos trejeitos, afastando-o do imortal Odorico de Gracindo.
A trama conta com um desfile de nomes e suas grandes interpretações, com destaque para o novo trio das Irmãs Cajazeiras, formado por Zezé Polessa, Andréa Beltrão e Drica Moraes. Quem também não deixa nada a desejar é Mateus Nachtergaele, dando vida a Dirceu Borboleta, empregado exemplar da prefeitura de Sucupira. José Wilker como Zeca Diabo é outro show de interpretação, mostrando todo o talento de meu conterrâneo.

Odorico e as Cajazeiras
Mas como nem tudo são flores, há a presença de Tonico Pereira como Vladmir, dono do jornal A Trombeta e maior inimigo político de Odorico, responsável por todas as denúncias na sociedade sucupirense. Nada contra o ator, que tem seus méritos, mas me cansa vê-lo em cena. Em minha modesta opinião, ele sempre constrói seus personagens da mesma forma, seja na tevê, cinema ou teatro. Não há grandes diferenças entre Vladmir e Mendonça, de A Grande Família. Exceto pela própria história de seus personagens.
A produção de O Bem Amado conta com Paula Lavigne a frente de tudo. Tanto que a trilha sonora foi toda produzida por Caetano Veloso, seu ex-marido, mas eterno parceiro de trabalho. Novas músicas e novos arranjos dão uma graça e um ritmo para a boa edição da trama. A vontade é de sair direto do cinema para comprar o CD e ficar ouvindo o jingle da candidatura de Odorico, que conta com as vozes de Thalma de Freitas e Nina Becker, musas da Orquestra Imperial.

Nem sei muito bem porque resolvi escrever estas linhas. Não sei se vale entrar na onda. Acho que vai mais como desabafo por algo que li ontem. Uma matéria no UOL falando sobre preconceito na rede contra nordestinos no país. Ainda mais com base em uma grande tragédia que assola a região: as chuvas e os alagamentos em Alagoas e Pernambuco.
Nem sei se consegui transmitir isso, mas me irrita o contato, mesmo com grande distanciamento de pessoas de mentes pequenas e que não enxergam dois dedos na frente dos olhos. São essas as pessoas que vão levar o país à frente? Preconceito dessa forma é crime. Estou cansado de ver e ouvir isso. Muito mais de sentir, pois, como nordestino e vivendo no Rio de Janeiro, já fui vítima. Não só em piadinhas e comentários, pois há como diferenciar o tom. Já fui vítima em seleção de emprego, em aluguel de apartamento etc. Fatos não faltam. O que falta é vergonha na cara para as pessoas.