segunda-feira, 8 de março de 2010

Paixão Bidimensional

Já faz um tempo que noto a inversão de determinados valores nos seres humanos. Hoje, ao ler notícias na internet, uma me chamou a atenção e serviu de inspiração: um sul-coreano casou-se com um travesseiro. Cada louco com sua mania, mas a forma como as pessoas têm mergulhado no mundo virtual e bidimensional, isso tem ficado cada vez mais estranho.

Na semana passada, um casal de sul-coreanos deixou a filha morrer de inanição por ficarem mais tempo cuidando de uma filha tamagochi que da verdadeira, da que saiu do ventre da mãe. Pergunto-me: até onde seremos capazes de chegar a evitar o contato direto com outros seres humanos?

Há diversas pessoas que se conhecem pessoalmente, mas só conseguem uma boa relação no meio virtual, onde o papo flui mais fácil por não estarem cara a cara. Eu não dispenso um olho no olho. Nada como uma boa conversa cara a cara, com possibilidade de toque, de troca de olhar, de percepção da entonação da voz, da postura. Não que eu tenha estudado milimetricamente o livro O corpo fala, mas são elementos que te ajudam a compreender o outro e a si mesmo.

No Japão, há um movimento para que se reconheça o casamento com personagens de anime. Além de estranho, o mesmo anime vai ter inúmeros parceiros e não têm a possibilidade de se negar a casar com quem o (a) pediu em casamento. Viva a poligamia, né?

A cada dia que passa, as relações interpessoais estão cada vez mais esparsas, com o distanciamento físico crescente. E muitos dos relacionamentos virtuais ainda são com personagens que criamos para a autodefesa. Não que não façamos isso no mundo real, mas é mais difícil esconder certas questões. Maníaco há em todo lugar. Ninguém sabe se há um psicopata sentado ao seu lado no ônibus (caso do carioca morto na última semana por causa da janela aberta).

Assusta-me saber que as relações interpessoais estão cada vez mais desgastadas e que a humanidade tem recorrido cada vez mais ao universo virtual para (sobre)viver. Já, já estaremos sobrevivendo em uma Matrix, onde todas as sensações serão falsas e, mesmo assim, ficaremos felizes por isso. Será que o mundo lá fora está tão ruim que não valha a pena estender a mão ao outro? Será que ficaremos presos aos nossos travesseiros?

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